quinta-feira, 3 de julho de 2008

Ainda a propósito da entrevista de Soares a Chavez – (2)

A mensagem por trás da caricatura
Na entrevista de Soares a Chavez, sobram motivos de interesse para uma reflexão mais cuidada, a partir tanto do discurso nela veiculado como de tudo o que a envolve, muito para além, certamente, das tricas urdidas pelos turiferários de um pensamento único castrador, impositivo e absorvente, que contamina até parte significativa da própria esquerda, sempre pronta a enfileirar no politicamente correcto de um discurso simultaneamente anti-Bush e anti-Chavez. Porventura por não apreciar o populismo que se diz ser o caldo de cultura de que se alimenta este último, incluindo as constantes diatribes e impropérios (talvez até por este tipo de excessos) por ele lançadas ao primeiro. Sem perceber, enfim, que a pureza ideológica não ganha revoluções, pois dificilmente se coaduna com a complexidade da realidade social.

Pelo que a entrevista permite avaliar, dá para perceber que, afinal, a sua preparação ideológica, não é tão falha como algumas das caricaturas ‘trabalhadas’ que nos chegam podem fazer supor. Pelo contrário, em tom calmo e ponderado (longe, portanto, dos estereótipos criados à sua volta, alguns, valha a verdade, de sua responsabilidade), Chavez conseguiu transmitir, com firmeza e forte convicção, uma mensagem política bem esquematizada, pontuada por ideias fortes e devidamente arrumadas.
Do seu conteúdo sublinho aqui duas ideias chave, ambas entroncando, faz questão de acentuar o próprio, na tutelar matriz bolivariana de independência, onde pesam, ao mesmo nível, os inseparáveis ideais de liberdade e igualdade:
– A recusa de modelos externos na construção do socialismo: há que inventar o socialismo todos os dias e construí-lo na combinação permanente entre liberdade e igualdade, pois sem liberdade não há socialismo (na URSS – afirma – não houve socialismo), mas sem igualdade não há liberdade.
– O esforço em que se tem empenhado da integração regional sul-americana, à semelhança da Europa e de outras tentativas esboçadas em várias regiões do mundo: a forma de contrabalançar o actual poderio unipolar do Império norte-americano, passa pela constituição de uma organização multipolar do poder mundial.


A quem o acusa de ditador contrapõe a sua luta contra todas as ditaduras que nos foram sendo impostas: a ditadura do mercado, a ditadura do imperialismo, dos grandes meios de comunicação social, das grandes corporações mundiais, do pensamento único.
Populista? Talvez. Excessivo? Sem dúvida. Mas como não comungar, no essencial, destes objectivos?

2 comentários:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu caro,
Eu, pela minha parte, estou cada vez mais "convertido"...
Entretanto, havia reclamado junto do Provedor da RTP o facto, desta, não ter disponivel (em arquivo) a entrevista de Mário Soares a Hugo Chavez.
Acabo de receber o seguinte e-mail do Gabinete do Provedor:

Em nome do Provedor do Telespectador, agradeço-lhe o mail que nos enviou.
Relativamente à questão que nos coloca, deverá pesquisar com mais atenção pois acabei de confirmar que nada de errado se passa com a entrevista em questão na área multimédia da página da RTP.
Com os meus cumprimentos,
Pel’ A Chefe de Gabinete
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Acontece que estive, por lá, no sítio da RTP a "navegar" e NADA...
O problema pode(rá) ser meu, mas vou, de novo, reclamar.

José M. Sousa disse...

Ás vezes interrogo-me, como não ser excessivo, nas palavras pelo menos, naquele contexto. Agora, os americanos arranjaram outra forma de pressão: reactivaram a IV esquadra da Marinha para as Caraíbas