sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

As (minhas) contradições ...

Ora, e como se não (me) bastasse ter insónias e ser fraco de espírito, então não é que, hoje, e durante hora e meia, vou torcer pelo Sporting !!!
Com tantas e tamanhas contradições; triste saga a minha :
- que mais me irá acontecer ???

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O êxodo dos gestores do BES …

( Hipotético carro transportando para estrangeiro gestores afectados com esta “diatribe” governamental )
“Esta taxação atinge muita gente dentro do BES, não só gestores de topo e poderemos ter gente muito valiosa a sair do país para ir trabalhar para outro”
( disse Ricardo Salgado durante um almoço promovido pela Associação Industrial Portuguesa - Confederação Empresarial (AIP-CE), em Lisboa ).

Não fiz, não faço, nem façarei !..

Disse o Presidente que não faz declarações sobre a vida dos partidos, acrescentando:

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Candidato independente, Presidente incómodo!

Ouviu-se no último ‘Quadratura do círculo’ (esse mesmo, o do inamovível, do vitalício Pacheco Pereira!) o argumento decisivo à defesa, embora a contragosto, da candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República. Como (quase) sempre, ‘cheguei’ tarde ao programa, a cerca de 5 minutos do seu termo, mais precisamente ao minuto 45, marcava o relógio da SIC/N. A tempo de escutar Lobo Xavier (outro dos residentes, ainda longe da ‘eternidade’ do Pacheco, mas para lá caminha), afirmar que ‘este’ candidato, pela sua personalidade, ‘irá ser sempre um problema, para o PS e para o BE’, evidenciando assim (ainda que de forma ínvia e não propositada) a maior independência deste face aos diferentes actores e potenciais suportes da sua candidatura – aquilo que, afinal, faz a força de um Presidente da República, a sua isenção partidária.

Já não bastavam os mais de um milhão e 100 mil votos obtidos nas anteriores presidenciais, à margem de qualquer apoio e estrutura partidárias, faltava agora a prova de que este tipo de apoios (já certo o do Bloco, previsível o do PS) podem vir a demonstrar-se contraproducentes – mas para os apoios! Aviso que surge quase em jeito de recomendação, como quem diz: ‘Cuidado, este candidato não é de confiança, é independente’! Faz lembrar a celebrizada boca do ‘Coelhone’ inúmeras vezes glosada no ‘Contra Informação’, ao manifestar a ‘sua’ falta de confiança em todos os que não fossem filiados (ou arregimentados?) no PS: ‘estes independentes são muito imprevisíveis’!

Este súbito desvelo com que a direita parece querer olhar pelos interesses da esquerda seria deveras enternecedor, não fora tão denunciado, pois não consegue esconder os propósitos que a anima. Porque, logo a seguir, os dois (Xavier e Pacheco) mal conseguiram disfarçar o incómodo pela disponibilidade manifestada por Alegre para se candidatar (até agora é ao que se resume a sua candidatura), ao afirmarem que se Cavaco Silva tinha dúvidas para avançar como candidato, essas dúvidas desvaneceram-se perante tal anúncio. O que não deixa de ser curioso e particularmente sintomático por parte de quem, momentos antes, formulara tantas cautelas em resultado da ‘independência’ do candidato, sem perder o ensejo de manifestar sobranceiro desdém pela fragilidade da candidatura.

É que, depois do burlesco (ou pretensioso?) dramatismo que rodeou o episódio do ‘Estatuto dos Açores’; da pantomina montada em torno das ‘escutas’ (género ‘gato escondido com o rabo de fora’); das ‘tiradas técnicas’ a envolver mal disfarçados apoios políticos tão do agrado dos seus apaniguados; das insuportáveis manifestações de falta de gosto (aquela delambida ‘cena’ das vaquinhas a caminho da ordenha! – embora gostos não se discutam!) e de cultura (o que já é mais grave!) – só faltava mesmo que nos saísse um Presidente independente, ainda por cima prezando a cultura, que é coisa que vai escasseando e faz muita falta!
(Cultura? Quem precisa dela?)

Haverá tempo para se voltar ao assunto, pois ele ainda só agora começou. Para já fica apenas o breve registo da disponibilidade manifestada por um candidato independente que a direita se apressou já a apresentar como incómodo à esquerda!
Hum...!

A (minha) fraqueza de espírito …

Eu, declaro para todos os efeitos – necessários e convenientes - que tenho conduzido este Jeep ( da fotografia e cuja matricula é : SCP 1) algures, e por aqui, nos EUA ...
Começo, assim e por isso, a ficar seriamente preocupado comigo mesmo, sendo que continuo fiel ao Glorioso, do qual sou Sócio, Titular de Cativo/Fundador e Accionista da SAD do Benfica.
Afinal, tudo não passou, mesmo e só , de uma “fraqueza de espírito” devidamente patrocinada pelo meu Amigo, o Luís Melim, o (meu) anfitrião e fanático Sportinguista !!!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

As insónias …

Têm sido múltiplas as vezes que tenho visitado os Estados Unidos da América mas nunca, e como desta feita, havia tido tantas e tamanhas insónias …
Eu que, felizmente, nunca fui dado a tais anomalias.
Associei, no entanto, esta perturbação ao facto desta ser uma viagem algo diferente de todas as outras :
- vim acompanhado e regressarei sozinho …
Enfim, assim quis o destino – ou lá o que isso, do destino, possa ser – que a minha filha fique, algures e por aqui, a prosseguir estudos …
Mas, analisando as razões e os porquês de tantas e tamanhas insónias, acabei por chegar à simples conclusão que, afinal, o único responsável por tal anomalia só pode(rá) ser, mesmo, o meu simpático anfitrião … que é, nem mais nem menos, um refinado Sportinguista …
Então, não é que o meu velho e bom Amigo, o Luís Melim, me pôs a dormir num quarto em que uma das paredes está decorada (?) com tantos e múltiplos cachecóis do SCP ?..
Ora, para mim, Benfiquista confesso, tal decoração (?) só poderia, mesmo, resultar nisso :
- em perturbação !!!

sábado, 23 de janeiro de 2010

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Da tragédia à farsa, uma história que se repete (2)

Da tragédia lusa à farsa mundial

Estes factos recentes – outros certamente se seguirão... – que parecem enquadrar um bem afinado coro de cassandras, não surgem agora por acaso. Seria de esperar, no entanto, que diagnósticos tão próximos e que prognosticam eminentes catástrofes, resultassem na imediata explicitação de medidas concretas para reverter a 'explosiva situação' em que o país se encontra. Mas para além de partilharem todos a opinião comum de que ‘as grandes obras públicas’ devem ser travadas – a única proposta concreta que ousam adiantar – o que sobra deste conjunto de posições tidas por cívicas, esgota-se no propósito obsessivo da contenção do déficit público. Muito além do que aconselharia um saudável equilíbrio das contas públicas.

Desde logo se diga que – e sem recurso a qualquer teoria da cabala, ela não é precisa aqui para nada, pois o coro já antes se manifestava afinado sem precisar de ensaios – o que está em causa, é retornar à mesma linha de rumo abalada e, por momentos, parecendo interrompida pela crise. Ledo engano, ‘abalada’ e ‘interrompida’ apenas na aparência, porque passado o susto, refeitos os prejuízos pelo ‘monstro’ Estado – por conta de quem se exorcizam todos os demónios que impedem a doce felicidade do homem (garantida pela fidelidade à já atrás referida ortodoxia neoliberal), mas a quem logo se recorre em caso de fera aflição – tudo então parece retomar o modo ‘normal’ da vida!

À margem destes propósitos e movimentações, importa então acentuar, também aqui, o falso dilema em que se pretende aprisionar a iniciativa do Estado, impedindo-o de intervir na economia, sob pretexto de uma elevada dívida pública (bem desmontado nos ‘blogs’ da especialidade: Ladrões de Bicicletas, O valor das Ideias,...). Pois esse é seguramente o modo mais rápido de se cair na depressão económica e, na sequência, na ‘instabilidade social’ (elevado desemprego, contracção forte da procura interna, degradação das condições de vida da população,...), insustentável a longo prazo, como parece ser o tempo esperado para a situação de emergência social e económica, com que se passou a designar o tempo desta crise.

O verdadeiro dilema, entretanto, não passa ‘apenas’ e sobretudo pela maior ou menor capacidade financeira do Estado, mas por opções políticas condicionadas por esta organização social – de que o Estado é garante – vitais para o actual modo de vida e para o futuro das sociedades. Que, na esfera económica, passam pelo urgente questionamento do paradigma do crescimento contínuo, impondo-se uma completa inversão das políticas de gestão dos recursos: humanos (política laboral apostada em garantir o acesso ao trabalho); materiais (política produtiva visando uma alocação estratégica dos investimentos, da produção básica à especialização produtiva, o acesso generalizado à tecnologia,...); da conservação (política ambiental voltada para a sustentabilidade); da distribuição (política retributiva, assegurando uma melhor repartição da riqueza). Sem esquecer a origem imediata da crise na desenfreada desregulamentação com que se pretendeu ‘eliminar’ o Estado da vida económica.

Muitos, pois, com mais competência na matéria, o vêm afirmando: colocar o investimento em alternativa ao déficit não parece constituir opção política válida, desde logo atendendo às condições específicas do momento presente em que se impõe acudir a toda a envolvente da crise actual – porque importa actuar antes de mais na busca de soluções para atenuar as suas consequências (já que, quanto às causas que a determinaram e à forma de lhes responder...). Mas tão pouco constitui, sequer, alternativa real, pois na verdade o que se tem verificado é que a obsessão do déficit ao longo de toda a década passada serviu sobretudo de argumento para:

- impedir uma política de investimentos públicos – indispensável para reduzir um pouco a fragilidade da posição económica do país e das suas estruturas, da baixa qualificação (sobretudo em gestão e organização, principal pecha do atávico déficit de produtividade), à dependência energética (principal causa do estrutural desequilíbrio comercial);
- ‘emagrecer’ a política social – reduzindo os já muito atrofiados benefícios básicos concedidos, com isso contribuindo para aumentar as desigualdades e as gritantes disparidades do rendimento;
- impor uma política fiscal especialmente adaptada para servir as grandes empresas – sob pretexto de pretender evitar a fuga de capitais, quando não mesmo de beneficiar as PME’s.

Falar agora do déficit para continuar a impedir-se o investimento e a condicionarem-se as restantes políticas, já não é apenas uma tragédia, é mais a continuação da farsa. A nível global!

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Da tragédia à farsa, uma história que se repete (1)

Da tragédia grega à farsa lusa

Primeiro foi o PR, na mensagem de Ano Novo, ao falar da possibilidade de o país cair numa ‘situação explosiva’. Depois, o estudo de um dos principais bancos, ‘ameaçou’ com a entrada numa ‘trajectória explosiva’. Até as declarações à saída do Palácio de Belém de ‘um-cidadão- que-pediu-para-ser-recebido-pelo-Presidente-da-República’ (foi essa a qualidade invocada por João Salgueiro!!) para lhe manifestar preocupação pelo ‘discurso cor-de-rosa’ do Governo, por contraponto com a séria ameaça do ‘exemplo’ da Grécia!!! Já antes se tinham ouvido os alertas lançados pelo Governador do Banco de Portugal. Pelo caminho, as diversas agências de notação internacional – as mesmas na origem da crise e dos avales que a precipitaram – falando de ‘morte lenta’ e ameaçando (sem aspas) rever em baixa o ‘rating’ da dívida pública portuguesa caso não sejam tomadas medidas para baixar o déficit das contas públicas – procurando, por esta via, redimir a sua própria credibilidade?

As conclusões do estudo do BPI, apresentado com pompa e circunstância pelo presidente do Banco, de que ‘a dívida pública entrará em trajectória explosiva caso não se adoptem medidas de redução da despesa pública’, resultam num exercício vistoso, mas de utilidade dúbia. Desde logo, qual o valor real de projecções efectuadas para 2040, a mais de 30 (!) anos? Será que os seus promotores terão estimado o impacto dos fenómenos e imprevistos que poderão/deverão acontecer ao longo das próximas três décadas, a avaliar tão só pelo que ocorreu nas duas que as antecederam? Qual, pois, o verdadeiro sentido de um estudo elaborado com base em dados de partida – recursos, tecnologia, ambiente, política,... – que se sabe arrastarem uma dinâmica tal que seguramente não serão os dados de chegada? E – mais importante ainda – quais as prioridades políticas por trás dos déficits que conduziram a este nível da dívida?

Feitas as contas, não pode excluir-se que este tipo de exercícios, sob a diáfana capa da sempre conveniente ‘neutralidade empresarial’ ou técnica, prossiga propósitos políticos (partidários mesmo, afinal tudo é político!). Semelhantes ao que motivou aquele conjunto de empresários promotores do estudo sobre o aeroporto de Lisboa, que levou à sua transferência da Ota para Alcochete (opção no mínimo discutível – pelo menos na perspectiva de João Cravinho e outros, baseados em critérios de ordenamento do território – mas não vou por aí, por mim basta que ‘ele’ saia de Lisboa, por razões ambientais e de segurança!). Alguém acredita que o fizeram ‘apenas’ por nobres razões altruístas ou filantrópicas? Ou, dito de outro modo, alguém pode garantir que o interesse público ficou assim melhor defendido?

No mesmo tom surge agora este estudo numa altura em que a grande opção a tomar na área económica, com implicações imediatas no OE/2010, parece centrar-se nas ‘grandes obras públicas’: aeroporto, TGV, auto-estradas,... Estes são, aliás, os únicos factos relevantes, a concretizar no futuro, introduzidos no modelo estatístico que serviu de base ao estudo e donde se retiram as conclusões que corroboram a visão catastrofista do PR na sua mensagem de Ano Novo. Não será, pois, abusivo concluir-se vir reforçar a oposição (PR incluído) às ditas obras públicas. Pelo efeito, dizem, de agravamento do já muito elevado nível de endividamento do País que os investimentos para tal necessários irão provocar, sem evidência clara de se tratar de obras com retorno seguro dos financiamentos envolvidos. Tanto mais que, rematam, aí mesmo à porta, o exemplo da Grécia, na eminência de um ‘blackout’ financeiro internacional, precisamente pelos níveis insustentáveis da sua dívida!

É certo que a dívida pública consolidada (contando com a das empresas públicas) atingiu níveis elevados e preocupantes (não são só os PR que podem usar a palavra!) e, portanto, estas tomadas de posição deveriam considerar-se um aviso no sentido de alguma prudência na despesa (incluindo a de se avaliarem bem os benefícios das ditas ‘grandes obras públicas’). Que não haja ilusões, porém: estes avisos têm sobretudo como finalidade justificar e preparar o ‘consenso’ nos partidos do centro para a adopção de medidas (de imediato no OE/10) que, de acordo com os parâmetros da ‘normalidade’ imposta pela ortodoxia neoliberal, visem a contenção da despesa pública (e o consequente desagravamento da dívida). O que, neste enquadramento político, significa maior agravamento das condições de vida das pessoas (seja por via das restrições nas prestações directas do Estado, seja indirectamente através da degradação das prestações sociais). A surpresa de Fernando Ulrich aos reparos de Sócrates às conclusões deste estudo é, deste ponto de vista, por demais elucidativa...

(...)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ano Novo, velhas utopias (2)

A utopia conservadora contra o progresso

Por estes dias, porém, a utopia que mais se tem imposto ao País é a utopia conservadora, a que tudo aposta na manutenção, ‘a ferro e fogo’, da ‘moral e dos bons costumes’ como única via para a felicidade do homem. Porque para os seus prosélitos, não basta a defesa racional dos seus pontos de vista, exige-se a sua imposição aos ‘infiéis’ (pelo recurso aos meios condizentes com cada época – desde a tortura e até a guerra,... ao referendo). Por eles ainda hoje existiriam escravos, a inquisição, a mulher arredada do voto e subordinada ao ‘chefe de família’, a exclusão dos católicos ao divórcio civil, a penalização do aborto, a superioridade do ‘homem branco’,... Porque todas estas causas foram, nos seus respectivos tempos e diversificados lugares, objecto de furiosas campanhas idênticas às que, hoje, são desencadeadas contra o ‘casamento entre pessoas do mesmo género’.

O derradeiro argumento ouvido da boca da arvorada promotora destas ‘causas’ (na questão do aborto, agora no casamento homossexual,...), é que deve auscultar-se a opinião das pessoas sobre este assunto através de referendo, enquanto expressão da democracia participativa (!!), uma vez que – pasme-se! – a democracia representativa mostra-se esgotada (!!!). De uma assentada pugna-se pela ‘moral e os bons costumes’, esgrimindo no próprio campo da esquerda política (avessa, por natureza, ao reaccionarismo de tais causas) conceitos que lhe são caros.

A caricatura com que a D. Isilda Pegado não tem pejo de tratar a ‘democracia participativa’, recorrendo ao reducionismo canhestro da sua equivalência à consulta referendária de âmbito nacional (distante, por exemplo, das consultas locais sobre assuntos concretos de interesse para as populações), junta-se assim à estratégia oportunista de apostar num referendo por sabê-lo ganho à partida, devido ao peso do apoio explícito das ‘igrejas’ – ademais, sobre a manutenção de discriminações em direitos fundamentais de minorias sociológicas. Ora, num país que se afirma de coração católico (por tradição e mentalidade), mesmo que de alma pouco praticante... O ‘pormenor’ de não vir a ser vinculativo, por não atingir quase de certo os 50% de votantes exigidos, pouco afectaria a estratégia.

A luta pela urgente transformação social – também ela, de algum modo, uma utopia em permanente ‘actualização’ – passa, e muito, pela queda de todas as formas de discriminação, mesmo a que se acoita no sacrossanto e inviolável castelo da ‘moral e dos bons costumes’. Por isso também a de mais difícil trato, porque envolve entranhados preconceitos e sedimentadas falsas verdades absolutas. Tarefa sempre inacabada, como ainda agora se provou: a lei agora aprovada no Parlamento sobre o casamento entre pessoas do mesmo género, exclui, para já, o direito a adoptar pelos casais assim constituídos. Idiossincrasias (ou fragilidades?) de uma democracia com dificuldade em se afirmar plenamente?

Ainda assim, o passo dado demonstra-se determinante no objectivo de acrescentar um pouco mais de felicidade a uns poucos – sem precisar de beliscar a de mais ninguém. Trata-se, afinal, da primeira e mais universal utopia do Homem, a que atravessa toda a sua História! Porque é a felicidade, no fim de contas, através do grau de satisfação global e geral conseguido (global na abrangência dos aspectos, geral pela inclusão do maior número de elementos), que marca e caracteriza o progresso das sociedades.

Tarefa sempre inacabada, repito, mas indispensável para se prepararem as condições, mentais e materiais, com que se constrói a dinâmica do Progresso.

sábado, 9 de janeiro de 2010

Ano Novo, velhas utopias (1)

Ideais universalistas contra os fundamentalismos exclusivistas

Nesta altura do ano temos por salutar hábito transmitir uns aos outros o desejo de uma vida melhor, por vezes mesmo sabendo-o de difícil ou mesmo impossível realização. Fazemo-lo, em regra, por convicção (ainda que por conta da tradição), esperando com esse gesto fortalecer a ‘boa onda’ gerada pela longa cadeia de votos formulados em torno de desígnios tão sublimes quanto difíceis de prosseguir (no seu conjunto e sem discriminações), como o são a paz, a saúde, a amizade, a solidariedade, a prosperidade,... Desígnios que afinal constituem a mais velha e universal utopia da Humanidade, a que mais sensibiliza e tem mobilizado o Homem, qualquer que seja o sítio, o momento ou as circunstâncias. Que atravessa religiões, ideologias, simples movimentos filantrópicos. Na busca, em suma, da felicidade de todos. O generalizado acordo na sua aceitação, porém, não consegue evitar complacentes sorrisos caso alguém se proponha a sua realização global. Afinal utopia é isso mesmo, representa um ideal de sociedade, um modelo alternativo às sofridas condições da existência, mas dificilmente se adapta à realidade concreta.

Esta é a utopia que agrega sem discriminar nem excluir. Que não atiça proselitismos porque, em lugar de se constituir contra alguém, faz da vida a sua única religião. Que pretende acrescentar, sem que isso implique reduzir nada a ninguém. Ao contrário de outras que, eivadas de um espírito sectário de cariz religioso ou ideológico, apostam no interesse egoísta, na exclusão do ‘outro’ e na discriminação da diferença.

O fundamentalista islâmico faz o que faz, incluindo actos terroristas, porque acredita poder vir a realizar, através desses actos, a ‘sua’ utopia, a de rumar aos céus onde o esperam largas dezenas de virgens e uma eternidade de... felicidade! O fundamentalista liberal alimenta, também ele, uma utopia, o sonho da ‘sua’ imensa liberdade individual, cujos limites seriam ditados apenas pela liberdade dos outros. Felicidade pessoal, pois, mas à custa do sacrifício de muitos!

Mas enquanto a realização da utopia islâmica é transposta para ‘uma outra vida’, a celestial, a da utopia individualista pretende ser realizável já nesta, na terrena. E isso porque a base de partida é essencialmente diferente: a utopia individualista impregna o capitalismo dominante, a utopia islâmica domina povos humilhados e explorados. Se alguma vez esta situação se invertesse, talvez pudéssemos então assistir à adaptação terrena da teoria religiosa das virgens e, em contrapartida, ao ressurgimento do abominável terrorismo por entre as incensadas hostes liberais (já nem seria facto inédito!).

A formulação da utopia individualista é, por si só, uma impossibilidade prática, já que as zonas de fronteira entre as liberdades de cada um são tão sensíveis que o potencial de conflitos e a sua resolução implica a existência prévia de um critério ou a intervenção de um terceiro com capacidade e aceitação nas partes para, de forma isenta, se poder regulamentar e dirimir conflitos. Daí a visceral aversão dos ‘liberais’ ao Estado e às suas instituições, dado ser ele que, por regra, detém esse poder arbitral.

Entre o exclusivismo discriminatório proposto pelas utopias fundamentalistas (de cariz religioso, ideológico ou outro) e o universalismo dos ideais que, pelo menos por esta altura, todos os anos revisitamos, a escolha não parece difícil de fazer. Pelo menos para os ‘homens de boa vontade’. E mesmo que seja apodada de utópica!

(...)