terça-feira, 30 de novembro de 2010

Liberdade


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

GREVE GERAL


Declaramos para todos os efeitos necessários e convenientes que este Blogue está em GREVE.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Amanhã, dia 24 : GREVE GERAL


A Greve é um direito, garante a Constituição e estabelece o Código do Trabalho. Mas o desconhecimento da lei, a precariedade e a chantagem do desemprego trazem dúvidas e receios. Aqui estão as perguntas e as respostas.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Contra a(s) Guerra(s) ...


É uma questão de cidadania e porque, afinal, a Nato só potência a(s) guerra(s) ...

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Concerto anti-NATO


Esta quinta-feira, 18 Novembro, concerto às 21h30 no Largo Camões, em Lisboa, com Terrakota e Mercado Negro.
Por Portugal fora da Nato e a Nato fora de Portugal quando, agora e ademais, se sabe que Portugal é o único país que paga para ter comando da NATO

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

0 (nosso) triste "fado" ...


(clique na imagem para visualizar as legendas)

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

As FALSAS EVIDÊNCIAS do M-E-R-C-A-D-O ...


Falsa evidência n.º 1:
OS MERCADOS FINANCEIROS SÃO EFICIENTES
Falsa evidência n.º 2:
OS MERCADOS FINANCEIROS FAVORECEM O CRESCIMENTO ECONÓMICO
Falsa evidência n.º 3:
OS MERCADOS SÃO BONS JUIZES DO GRAU DE SOLVÊNCIA DOS ESTADOS
Falsa evidência n.º 4:
A SUBIDA ESPECTACULAR DAS DÍVIDAS PÚBLICAS É O RESULTADO DE UM EXCESSO DE DESPESAS
Falsa evidência n.º 5:
É PRECISO REDUZIR AS DESPESAS PARA DIMINUIR A DÍVIDA PÚBLICA
Falsa evidência n.º 6:
A DÍVIDA PÚBLICA TRANSFERE O CUSTO DOS NOSSOS EXCESSOS PARA OS NOSSOS NETOS
Falsa evidência n.º 7:
É PRECISO ASSEGURAR A ESTABILIDADE DOS MERCADOS FINANCEIROS PARA PODER FINANCIAR A DÍVIDA PÚBLICA
Falsa evidência n.º 8:
A UNIÃO EUROPEIA DEFENDE O MODELO SOCIAL EUROPEU
Falsa evidência n.º 9:
O EURO É UM ESCUDO DE PROTECÇÃO CONTRA A CRISE
Falsa evidência n.º 10:
A CRISE GREGA PERMITIU FINALMENTE AVANÇAR PARA UM GOVERNO ECONÓMICO E UMA VERDADEIRA SOLIDARIEDADE EUROPEIA
Conclusão :
DEBATER A POLÍTICA ECONÓMICA, TRAÇAR CAMINHOS PARA REFUNDAR A UNIÃO EUROPEIA
( in Manifesto dos Economistas Aterrorizados; para ler/estudar aqui)

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

‘Os mercados querem drogas e prostitutas’, afirma Krugman

Finalmente, começamos a chamar os ‘bois/boys pelos nomes’, destapando-lhes a carapuça. Aqui mesmo abaixo, Borges de Sousa posta os rostos de alguns deles, mas o movimento estende-se, imparável, por toda a ‘Net’, que todos os dias acrescenta nomes e respectivas sinecuras às listas destes serventuários de um sistema que os sustenta e neles se suporta.

Mas há aqui uma pequena/grande perversidade: é que os ‘bois/boys’ estão longe de constituir um exclusivo partidário, estão longe até de constituir a sua maioria. Por um estranho atavismo, porventura resultante da nossa também atávica dependência do Estado, habituàmo-nos a desancar nos ‘partidos’, por ser mais fácil, por estarem mais expostos nos media, por serem ‘públicos’; aos privados tendemos a perdoar-lhes as extravagâncias, mesmo as de pendor criminoso – fuga aos impostos, práticas pouco éticas, ‘habilidades’ financeiras,... – vá-se lá saber porquê, pois apenas nos não vão aos bolsos directamente...

Com isso esquecemo-nos de que os agora famosíssimos ‘mercados’ são constituídos sobretudo por ‘boys’ e ‘girls’ que nada têm a ver com os partidos, bem pelo contrário, dizem-se mesmo quando não antipartidos, pelo menos pairando acima deles. Olham para estes como organizações obsoletas, enxameadas de oportunistas e arrivistas, no mínimo de uns quantos diletantes empenhados em fazer carreira à custa da papalvice alheia mediante o débito de uns trocadilhos linguísticos em discursos ocos e sem sentido prático, enfim, de obstáculos ao verdadeiro progresso – e não deixam de ter razão em muitas situações.

Progresso que eles, ‘boys’ e ‘girls’ (aqui em sentido lato, não o estritamente partidário, claro) personificam quando se entregam de forma empenhada e criativa às múltiplas engenharias financeiras, quando elaboram ‘científicos’ relatórios económicos onde expõem, sem contradita de espécie alguma, estatísticas e probabilidades sobre o futuro das instituições e dos países; onde peroram sobre ‘evidências’ (!) e ‘inevitabilidades’ (?); onde concluem (sem nunca o afirmarem explicitamente) que todos quantos não pensem desta maneira ou são ignorantes ou estúpidos, mal intencionados e – no fim da lista mas não em último – até perigosos terroristas!

P. Krugman, o Nobel da economia, em recente artigo já destacado pelos ‘Ladrões de Bicicletas’ (e até pela RTPn), expõe-lhes os tiques para os caracterizar de forma exemplar. À pergunta que, por estes dias, mais vezes é feita – afinal, ‘o que é que querem os mercados?’ – transcreve a resposta de um outro 'blog' (The Irish Economy) onde, sem papas na língua, se afirma: ‘os mercados querem dinheiro para droga e prostitutas’. Eis aqui parte da sua explicação:

Most people don’t realize that “the markets” are in reality 22-27 year old business school graduates, furiously concocting chaotic trading strategies on excel sheets and reporting to bosses perhaps 5 years senior to them. In addition, they generally possess the mentality and probably intelligence of junior cycle secondary school students. Without knowledge of these basic facts, nothing about the markets makes any sense—and with knowledge, everything does.” (…)

“Bread and circuses for the masses; cocaine and prostitutes for the markets. This can be looked on a unethical obviously, but since the entire system is unethical, unprincipled and chaotic anyway, why not just exploit that fact to do some good for the nation instead of bankrupting it in an effort to buy new BMWs for unmarried 25 year olds.

Isto é o que dita ‘a consciência de um liberal’, título da coluna que Krugman mantém no ‘The New York Times’ (de onde se extraiu este texto), que já foi também título de livro. É esta ‘consciência liberal’, à americana, que parece faltar a Merkel, Sarkhozy, Cameron ou Barroso, aos líderes de uma Europa que era suposto ser Unida. E que, por herança da ‘velhinha’ Revolução Francesa, surgia ao mundo como o exemplo mais avançado de solidariedade, mas que definha às mãos de títeres medianos, envoltos num estranho ritual autofágico a que os conduziu a obsessão por modelos teóricos que, ao longo da presente crise, provaram todo o seu potencial destrutivo.

Triste, pois, verificar o retrocesso do ideal europeu, que se joga hoje sobretudo entre a defesa do Estado Social e uma qualquer caricatura berlusconiana de ‘boys’ e ‘girls’!

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Liturgia orçamental: Notas à margem do OE11 – III

O Sumo Sacerdote: a tutelar intervenção do FMI

Logo que foram conhecidas as principais orientações do OE/11, percebeu-se, pelos comentários dos analistas do costume, que esta era apenas a 1ª etapa no processo de desmantelamento do Estado Social e que, independentemente das suas sequelas e vicissitudes, iria culminar com a chegada do FMI. Toda a dramatização exposta nos ‘media’, pelos mais diversos e sempre abalizados especialistas, quanto ao ‘abismo’ em que o país está prestes a cair, tem apenas como objectivo fazer ver a inevitabilidade da sua intervenção no curso da política portuguesa, caucionando e até reforçando o aperto financeiro traduzido nas medidas de austeridade impostas à conta do déficit e da dívida pública, desresponsabilizando, deste modo, os políticos internos.

O certo é que ele já cá está, a sua presença tutelar impõe-se mesmo sem necessidade da sua deslocação física. Desempenha o papel do papão que obriga a criancinha a comer a sopa toda. A ameaça não pode ser mais explícita: o nível de restrições exigido pelo descalabro das contas públicas e do endividamento do Estado já só é possível de impor mediante uma intervenção externa, pelo que, nas circunstâncias, concluem, a chamada do FMI é o mal menor... Mas, acrescentam logo, uma eventual intervenção do FMI não se afastará muito das medidas de austeridade propostas no OE, pelo que, reconhecem, o seu papel ‘resumir-se-á’ a tutelar a sua execução, assumindo o odioso dos seus efeitos mais nefastos, aliviando desse fardo os executantes domésticos, PS, PSD e CDS.

O FMI é, assim, o ausente mais presente nas negociações e demais prelecções (envolvendo partidos, especialistas, comentadores,...) em torno deste OE. O tal que corta a despesa pública, mormente a que sustenta a dimensão social do Estado, em nome de uma redução do déficit ditada pelos famigerados mercados (e imposta pelos cânones liberais): não é por acaso que o PSD fez tanta questão na redução da Taxa Social Única, principal fonte de financiamento da Segurança Social, como moeda de troca ao aumento do IVA proposto pelo PS. O propósito já várias vezes explicitado (foi-se o pudor e a vergonha, nem se preocupam em o esconder), destas ignominiosas investidas é mesmo a destruição imediata do que resta do Estado Social, principal empecilho à pureza do modelo liberal e à selecção dos mais capazes!

Exemplo acabado é o do seu novíssimo bonzo, o ‘nosso’ António Borges (e dos ‘hedge funds’, da Goldman Sachs,...), paladino da criativa desregulação financeira e, mesmo depois da crise que esta provocou, avesso a qualquer reforço de regulamentação. Já depois da sua entronização como acólito do Guardião do Templo/FMI, não disfarça um esgar de despeito ao insistir em vulgaridades (ou provocações?) do género: ‘Os portugueses vivem acima das suas possibilidades!’. E já imbuído do seu novo estatuto, com acinte, proclama: ‘Portugal está de joelhos perante o BCE’. Só não acrescenta por que ínvia razão este não pode actuar directamente junto dos governos, preferindo alimentar a especulação dos intermediários bancários num negócio que lhes é altamente proveitoso, tanto quanto de ruinoso para as populações que lhe suportam os efeitos!

A incoerência do actual discurso do PSD – balanceando entre tiradas de arrojado sentido social (por razões de táctica eleitoral) e afirmações de princípio liberais (conforme explicitado na sua recente proposta de revisão constitucional) – não consegue esconder o propósito de, tão rápido quanto o permitirem as circunstâncias (eleitorais, sociais,...), reduzir à expressão mais simples a dimensão do Estado Social, considerado o principal foco da despesa incontrolável do Estado e por isso de manutenção inviável.

Em lugar de se dar início a um movimento no sentido da construção de um modelo alternativo de desenvolvimento capaz de dar resposta aos inúmeros impasses, sobretudo os de cariz económico e laboral, com que as sociedades actuais se debatem, os políticos do ‘centrão’ obstinam-se na gestão do sistema sem o pôr em causa, para isso recorrendo a medidas tapa-buracos e de puro remedeio. Os cortes financeiros anunciados no OE11 estão longe de resolver o problema ou sequer o minimizar, pelo que, afirma-se, não vai bastar a austeridade anunciada, novos cortes irão ser inevitáveis! Onde, pois?

Inevitavelmente no frágil Estado Social! E se no processo da sua destruição, a Sócrates coube abrir o caminho, a Coelho, já se percebeu, não bastará seguir-lhe os passos. Até porque a ele se juntam, em acesa competição, o ‘nosso’ homem no FMI, Cavaco, Portas & C.a,... que tudo farão, de modos diferentes, por lhe fixar o rumo e marcar o ritmo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O nosso triste fa(r)do ...


Se, por acaso, quiser ver, com "olhos de ver", os figurantes que alimentam este (nosso) triste fa(r)do, basta(rá) fazer um clique na imagem.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Liturgia orçamental: Notas à margem do OE11 – II

Um Deus Supremo: o paradigma do crescimento contínuo

Um dos aspectos que maior consenso social reúne é o da necessidade de um crescimento económico sustentado, requisito básico para a melhoria das condições de vida (as metas e a forma para o alcançar é que estabelecem as diferenças). Sem esta aparente unanimidade, porventura a base de todo o progresso, colocar-se-ia em risco a manutenção do nosso actual nível de conforto, em especial o conjunto de comodidades que foram sendo geradas e desenvolvidas ao longo da história breve do capitalismo.

Importa, contudo, desfazer desde logo um equívoco. Crescimento económico sustentado não é, como se sabe, a mesma coisa que desenvolvimento sustentado – pode haver crescimento sem que isso se traduza em desenvolvimento, tudo depende da forma como é obtido e utilizado esse crescimento – se bem que ambos sejam usados frequentemente de forma indistinta. Tal confusão apenas aproveita à religião do ‘império do mercado’, pois todo o poder deste é baseado no paradigma do crescimento contínuo, deus supremo a que tudo se subordina, bem patente na ideologia do produtivismo, que impõe produzir sem questionar. Não se ignora que, num mundo em que cerca de 80% da população sofre ainda, por vezes de forma brutal, carências materiais enormes, torna-se difícil explicar que desenvolvimento pode não implicar crescimento (ou até mesmo exigir decrescimento), mas esse é o papel que deve caber à política, enquanto forma superior de organização e direcção social (e a que é suposto subordinar-se a economia), tanto para as opções económicas a tomar (da produção à repartição), como na própria pedagogia a fazer sobre as escolhas adoptadas.

Mesmo a presente (permanente?) discussão em torno do déficit público e da necessidade em o reduzir para os cabalísticos ‘3% europeus’(!) é feita, invariavelmente, tendo como pano de fundo o primado do crescimento económico, referência obrigatória do actual modelo de desenvolvimento (ocidental primeiro, global por fim) e ao qual são atribuídos, definitivamente, insondáveis poderes mágicos servidos por uma alquimia de saberes esotéricos, mas de que depende a vida das pessoas. Da sobrevivência ao conforto, da ocupação ao lazer, até da guerra e da paz, tudo reporta ao nível de crescimento alcançado num determinado momento, tudo remete para esse incontestado modelo baseado na expansão económica contínua – cada vez mais contrariada por esse facto comezinho e óbvio de que os recursos em que assenta não são inesgotáveis...

O pensamento político, que era suposto reflectir sobre múltiplas alternativas, vive aprisionado no dilema do crescimento que apenas conhece as opções por ele mesmo ditadas: crescer, estagnar, reduzir. A ele se subordinam, como é óbvio, todas as decisões e acção políticas, tudo, afinal, gira em torno deste tema essencial, analisado não do ponto de vista da melhoria das condições de vida das pessoas, mas da criação de riqueza, com apropriação pré-definida pelo próprio sistema (a discussão em torno da sua repartição assume sempre papel negligenciável, mesmo sabendo-se não ser este um tema inócuo até do ponto de vista estrito da produção para o mercado).

Aliás, o mínimo reparo ou a mais leve crítica a este estado de coisas, ou qualquer tentativa de se apresentar uma alternativa real, é tido como devaneio irrealista e os seus autores apodados, conforme os casos e os contextos, ora de perigosos subversivos, ora de lunáticos idealistas, sempre como marginais ao essencial dos termos pré-fixados para o debate. As alternativas apresentadas só têm hipótese de serem aceites se respeitarem os limites impostos pelo sistema, o que implica ser apenas possível discutir entre variações de mais ou menos crescimento, entre ritmos mais rápidos ou mais lentos, nunca pôr em causa os mecanismos sociais que o (re)produzem.

Quanto tempo levará ainda a perceber ser impossível manter os ritmos de crescimento impostos pelo dito mercado eficiente? O que é que terá de acontecer para que as pessoas sintam – tal como começam agora a sentir os efeitos perversos do mercado – a necessidade de mudar o seu paradigma de vida, ajustando-o à realidade de um mundo de recursos limitados?

(...)