sábado, 25 de julho de 2009

Auditoria do Tribunal de Contas à Concessão do Terminal de Alcântara - Porto de Lisboa


Esta semana pudemos finalmente tirar a limpo toda a história anunciada há dias a propósito da auditoria do Tribunal de Contas à extensão da concessão do Terminal de Alcântara do Porto de Lisboa. Não há como ir directamnte à fonte para confrontarmos o Ministro Mário Lino e o Governo como uma opção que lesa escandalosamente o interesse público. Para Mário Lino, não há no relatório as expressões “negócio ruinoso” ou "ilegalidades", e pronto! O governo não concorda com o Tribunal de Contas, e está o assunto resolvido. Mas não está.
Para quem quiser ler o relatório, está disponível no sítio do Tribunal de Contas aqui.
No relatório não encontramos a expressão "negócio ruinoso", mas na conclusão podemos ler "[...] o Tribunal não pode deixar de relevar que este contrato de concessão, celebrado pela APL, não consubstancia nem um bom negócio, nem um bom exemplo, para o Sector Público, em termos de boa gestão financeira e de adequada protecção dos interesses financeiros públicos, [...].
E porquê é um mau exemplo? Porque, para além de se prolongar um contrato por mais 27 anos sem concurso público, este foi renegociado "[...] sem a fixação prévia, pelo concedente público, de critérios objectivos e rigorosos de value for money (ou seja, o valor do que se obtém em troca do que se paga), o que originou que os resultados alcançados com as negociações acabassem por traduzir uma perda de valor não só em relação ao contrato anterior, como, igualmente, no que toca às condições iniciais estabelecidas no Memorando de Entendimento;"

Podemos perguntar-nos, que razão leva uma Administração sob tutela do Estado a aceitar condições tão prejudiciais para o interesse público? Note-se, mesmo em relação ao contrato em vigor até à data e, pior ainda, face ao Memorando de Entendimento inicial? Quando, ainda por cima, faltavam sete anos para o fim do contrato em vigor. Perante as conclusões do TC, custa-nos a acreditar que a explicação se encontre em tamanho amadorismo da Administração do Porto de Lisboa.

De facto, da análise do contrato, se conclui que não há qualquer vantagem para o Estado desta Parceria Público Privada (PPP) e que mais valia a APL ter assumido a gestão directa do projecto.

Senão vejamos. Segundo o Quadro Jurídico das PPP , artº 7 alínea b), Partilha de riscos, «- O estabelecimento da parceria deverá implicar uma significativa e efectiva transferência de risco para o sector privado;»

Ora, segundo o TC isso não acontece neste caso, onde os riscos são todos transferidos para o Estado!

«prescreverem que uma PPP deve implicar uma significativa e efectiva transferência de risco para o sector privado, tal não se verifica neste contrato.» pág. 16 do relatório.

«Em primeiro lugar, não pode deixar de se questionar a necessidade, o interesse e a razoabilidade do concedente público, a APL, ter concretizado uma PPP em que não existe capital próprio em risco» pág. 15

«Por outro lado, deve, também, recordar-se que as taxas que a APL deixa de cobrar à LISCONT, no montante estimado de 199 M €, a preços correntes, excedem o valor do financiamento dos accionistas (auto-financiamento e suprimentos)» pág. 16

Isto é apenas uma amostra de como o interesse público é prejudicado.Vale a pena continuar a ler o relatório. E este não é caso único, o TC tem feito críticas semelhantes a PPP na área da saúde. Outro caso terá sido a chamada Ponte das Lezírias (Tejo), junto ao Carregado. Também aqui o padrão é o mesmo: sobreestima-se a procura, e estabelece-se que o Estado paga se a actividade não se verificar ( o que é quase certo!), o que corresponde a pagar em troca de trabalho nenhum!

Enfim, é uma festa, à custa de todos nós!



As grandes obras públicas e os palpites dos economistas

Ultimamente, a propósito das grandes obras públicas, acentuou-se a tendência, na boa e salutar tradição lusa (sem qualquer ironia) de ‘cada cabeça sua sentença’, de todos e cada um dos economistas ditos de referência, se pronunciarem sobre a valia (mais a desvalia) de cada projecto, ou do ‘pacote’ no seu conjunto. E é assim que, por objectivas razões técnicas fundadas na estrita aplicação da ‘ciência’ económica, uns pronunciam-se a favor do aeroporto contra o TGV e as auto-estradas; por idênticas e muito objectivas razões técnicas de sólida base científica, outros, porém, sustentam, se necessário à custa de sofisticados modelos matemáticos, a razão do TGV (as duas linhas, uma só delas, há para todos os sabores!) sobre o aeroporto; entretanto, os mais radicais, com o infalível recurso aos mais comprovados argumentos técnicos, asseguram que o país não está em condições de se meter nestas coisas – ‘quem não tem dinheiro não tem vícios’, rematam com frequência! Tudo isto (e o seu contrário, se for necessário) em defesa do modelo liberalizante assente na restrição do déficit público, por contrapartida da promoção dos bens transaccionáveis (!) – para onde todos os argumentos, afinal, confluem, quase de forma papagueada – a invariável panaceia com que nos pretendem fazer crer tratar-se tudo isto de decisões meramente técnicas!

Perante tamanho rigor analítico na defesa de posições tão díspares, resta-me apenas registar a enorme confusão que tão abnegado empenho cívico suscita, sobretudo numa altura em que a teoria académica que tem inspirado estas doutas (pouco importa se contraditórias) versões, mais se encontra exposta à crítica por força da sua influência nos acontecimentos que produziram a profunda crise actual. E mais sensibilizado (e preocupado) fico quando leio um dos seus epígonos e mais destacados intérpretes pretender fundamentar asserções essencialmente políticas com base em extrapolações – elaboradas pelos mesmos instrumentos técnicos que tão rotundamente falharam na previsão da crise actual – para um horizonte de 10 anos!!!

Foi isso que fez Abel Mateus, ex-presidente da Autoridade da Concorrência, ex-administrador do BP e ex-mais uma série de cargos bem remunerados, ao afirmar, em entrevista ao Jornal de Negócios, que não encontra "nenhuma folga para grandes investimentos, nem hoje nem nos próximos dez anos" (!!!). “Fiz uma pequena estimativa do que isso implicaria, somando a dinâmica externa que existe actualmente com os grandes projectos de investimento: isso resultaria num endividamento externo de 240% do PIB em 2020" – !!!!! – para concluir que o próximo Governo enfrenta uma "situação bastante séria, sem paralelo na economia portuguesa", havendo o risco de Portugal ficar sem dinheiro, como a Islândia. Apesar disso e como não podia deixar de ser, sempre adianta um palpite sobre a ‘sua’ grande obra pública: a opção vai para o aeroporto contra o TGV e auto-estradas!

À parte as minudências destas contradições, apetece perguntar por onde andavam as receitas deste iluminado académico que agora até já sabe o que pode acontecer ao país daqui a 10 anos (!) se este não fizer aquilo que os seus cânones liberais ditam que deva ser feito!!! Com a mesma destreza (ou desfaçatez?) que agora utiliza nestas dramáticas projecções (com intuitos políticos bem claros, trata-se de destacado quadro do PSD), devia tê-lo feito já antes, a tempo de se evitar a crise! Ou adoptar o mesmo modelo desta sua ‘pequena estimativa’ e estender a projecção a outros países europeus, alguns até mais endividados que Portugal.

A pergunta que apetece mesmo formular, no final, é se algum destes empertigados e mediáticos fazedores de opinião, constantemente a debitarem sentenças sobre o que se deve ou não deve fazer, aparentemente tão preocupados com o futuro do país, por norma insistindo na receita do apertar do cinto dos outros, aceitará, por exemplo, reduzir os seus chorudos proventos mensais em, digamos, para metade – sabendo que mesmo assim ainda lhes restarão largos milhares de euros por... mês, bastante mais do que a grande maioria dos trabalhadores ganha num ano inteiro!
Não há pachorra!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Leituras de Verão – 2

O DESAFIO GLOBAL

Retomo aqui o título que, tanto pela data da sua edição original como pelo matéria nele tratada, mais actualidade suscita. Em 2009, O DESAFIO GLOBAL – é dele que se trata – destaca e desenvolve ideias chave do trabalho iniciado com o ‘Relatório Stern’, ‘já’ de 2006, beneficiando, naturalmente, das críticas e de novos dados entretanto coligidos após a publicação deste. E reforça a sua importância com o eclodir da crise económica, dada a pertinência do tema para a sua resolução. Destacaria, pois, nesse enquadramento, dois ou três aspectos mais relevantes (dos muitos que seria possível abordar), limitando-me a transcrever praticamente alguns excertos do texto.

1. Desde logo a resposta urgente ao que se pode designar por ‘estado de necessidade’, pelas ameaças ao nosso estilo de vida, tanto as que resultam das alterações às actuais condições de conforto climático, como as que se prendem com o esgotamento dos recursos. Porque, conforme se refere logo na Introdução, “o crescimento (baseado no) alto carbono destruir-se-á a si mesmo, primeiro por causa dos altos preços dos hidrocarbonetos e segundo, e mais fundamentalmente, por causa do ambiente físico muito hostil que criaria”.
A solução, para o autor, passa pelo desenvolvimento de “uma forte acção global empreendida agora”, a qual teria o mérito de não só contribuir para reduzir “os enormes riscos de longo prazo que advirão das alterações climáticas”, mas “também permitir que nos elevemos à altura de outro grande desafio do séc. XXI, a luta contra a pobreza mundial. Como defende o livro, teremos simultaneamente sucesso ou insucesso em relação a estes dois desafios que definem o séc. XXI. Convertendo as nossas economias em economias de baixo carbono criaremos e descobriremos uma nova forma de crescimento, mais limpa, mais segura em termos de energia, com maior biodiversidade, mais digna de confiança e mais tranquila”.

2. Entretanto, no Prefácio à edição portuguesa, Viriato Soromenho Marques deixa o aviso de que “esta crise (económica) só pode ser compreendida se percebermos que nas suas raízes mais fundas e nas suas consequências mais distantes tem uma ligação essencial com a negligência com que a humanidade tem habitado e malbaratado este planeta. (...) A principal tese do pensamento de Stern é a de que as alterações climáticas, para além de todos os seus aspectos científicos e técnicos que devem ser tratados pelas diferentes ciências da Natureza, constituem uma gigantesca ‘falha de mercado’. As consequências dessa falha, como este livro desenvolvidamente analisa e explica, são imensas e convocam outras falhas”. Falhas, acrescenta, tanto a nível do conhecimento, por incapacidade para prevenir e evitar os efeitos nefastos que agora se manifestam, como da ética, ao não acautelar as condições de sobrevivência para as gerações futuras. Mas interrogo eu: ‘falhas de mercado’ ou ‘mercado falhado’ mesmo?

3. Por último, e ainda, aquilo que tenho vindo a designar por os limites à mobilização das consciências para as questões éticas aqui envolvidas – sobretudo a relacionada com a herança deixada às gerações futuras de um planeta degradado (ou destruído?) – e ao trabalho pedagógico sobre a urgência da transformação social. Sobretudo por os problemas não serem directamente sentidos. ‘Quando comecei a ocupar-me da questão das alterações climáticas (...), a primeira coisa que me chamou a atenção foi a ordem de grandeza dos riscos e os efeitos potencialmente devastadores na vida das pessoas por todo o mundo. Estávamos a jogar o planeta. Tinha também a consciência aguda da importância da experiência directa na acção mobilizadora: a menos que as pessoas tenham visto ou sentido um problema, é difícil persuadi-las de que é necessária uma resposta. Dado que os efeitos das alterações climáticas só se tornam patentes ao fim de um longo período de tempo, isto é particularmente desafiador (...)’.

Vai certamente valer a pena prosseguir e aprofundar a leitura deste livro!

domingo, 19 de julho de 2009

Leituras de Verão – 1

Bruscamente, no Verão em curso...

Ainda o Verão vai no começo e já foi farto em acontecimentos típicos do que se convencionou chamar a ‘silly season’. Então este, que antecede e prepara as eleições do próximo Outono, ameaça mesmo bater todos os recordes. Das abjectas provocações do biltre da Madeira (‘Quousque tandem Catilina – AJJardim – abutere patientia nostra?’), às expressivas e bem elucidativas ‘gafes oratórias’ da Manuela (que, por inabilidade da ‘Senhora’, nunca querem dizer o que afinal disse – Pacheco Pereira ‘dixit’, arvorado em intérprete autêntico dos sentenciados disparates da líder!!!); da programática desregulação instituída (e imposta à revelia, soube-se agora, das mentes mais desprevenidas!), às diversas propostas da regulação a instituir (face ao regulador automático do sistema, o mercado, uma contradição sistémica?);...

Por agora, prefiro voltar-me para temas mais interessantes do que os que esta amostra pressagia. Registo, por exemplo, três novos títulos no panorama editorial português, de relevante importância para a crise – referência obrigatória da nossa actualidade – mas sem com ela se relacionarem directamente. Refiro-me a:
- COMÉRCIO JUSTO PARA TODOS, de Joseph Stiglitz & Andrew Charlton, com prefácio de Fernando Nobre
- A DOUTRINA DO CHOQUE – A ascensão do Capitalismo de Desastre, de Naomi Klein
- O DESAFIO GLOBAL – Como enfrentar as Alterações Climáticas criando uma nova Era de Progresso e Prosperidade, de Nicholas Stern, com prefácio de Viriato Soromenho Marques.

Os dois primeiros correspondem à versão portuguesa de títulos saídos originalmente ainda antes da eclosão da crise actual. Não se percebe, por isso, o atraso do primeiro – que data de 2005 e cuja edição nacional se encontra pronta desde Jan.2007!!! – e muito menos se admite a indigérrima (para não dizer miserável) tradução do segundo – que mais parece saída do tradutor automático de línguas do ‘Google’ (é nestas alturas que lastimo não dominar bem o inglês)!

O contributo de todos para a discussão a fazer sobre as saídas da crise afigura-se por demais oportuno. Deste ponto de vista, posso até vislumbrar alguma utilidade no atraso da versão portuguesa do livro da Naomi Klein. Numa altura em que ressurgem as investidas de retorno às fórmulas neoliberais para resolver a crise (de que, afinal, são os principais responsáveis), ganha ainda maior sentido a tese do livro, segundo a qual a teoria – e a prática – do ‘mercado livre’ se tem imposto como inevitável a partir da criação de choques ou de desastres habilmente aproveitados como oportunidades pelos seus acérrimos defensores. Como na tragédia de Nova Orleães, subsequente ao Katrina, em que o desmantelamento do sistema educativo público foi aproveitado para a sua violenta privatização pelos homens de mão de Bush – a famosa ‘folha em branco’ redesenhada pelos idealistas do mercado. Ou ainda, ‘arrasar para fazer tudo de novo’, o programa liberal que esteve por trás da infame campanha do Iraque! Transformar tragédias em oportunidades, desastres em chorudos negócios – eis, pois, o supremo propósito ultraliberal, que, para tal, não hesita em provocar essas situações dramáticas (como aconteceu no Iraque)!


É nessa perspectiva que os olhares gulosos dos neoliberais se derramam, cúpidos, sobre o potencial de negócios proporcionado pela crise actual!

O último dos três títulos indicados – O DESAFIO GLOBAL – é também o único em que parece não se ter perdido tempo sobre a data de saída do original (2009). Talvez pela percepção de que a sua consideração como elemento essencial para a resolução da crise é não só óbvia como sobretudo urgente. Talvez então convenha voltar a ele.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Um exemplo a seguir

Campanha nacional de recolha de lixo na Estónia.

domingo, 12 de julho de 2009

A Gripe A ...

Por vezes, este Blogue (em)presta serviço público; desta feita, clikando no quadro pode(rá) verificar as diferenças de sintomas entre a Gripe Comum e a Gripe A.

sábado, 11 de julho de 2009

A (falta de) qualidade da democracia

Retomo ainda, das ‘Europeias’, essa interrogação, já tantas vezes formulada e com resposta por tantos também tentada, se bem que, parece-me, sem satisfazer plenamente a dúvida nela contida: a de saber, afinal, por que razão se verificou, na generalidade dos países da UE, uma acentuada guinada política à direita por parte do eleitorado, quando se tem por assente (um mínimo de objectividade a isso conduz) que a origem da crise esteve na avassaladora tendência desreguladora imposta pela incontrolável deriva neoliberal dos últimos 30 anos!

À falta de melhor explicação fala-se então na incapacidade dos partidos de esquerda (em geral) definirem e aplicarem uma verdadeira política alternativa a esse modelo hegemónico liberal, o que, perante a amálgama indiferenciada de propostas, teria conduzido os eleitores a optarem pelo original, mais autêntico e garantido, que uma qualquer cópia. Eu próprio tentei a ‘boutade’ em anterior comentário, adiantando, no entanto, que tal se fica a dever desde logo à variável distribuição dos efeitos punitivos da crise (acima de todos, os que com ela perderam ou sentem fragilizado o emprego), mas certamente também à inexistência de um claro e consistente modelo alternativo.

Adiantei mesmo (e já não foi a primeira vez, ainda que se trate de uma velha polémica que, lamentavelmente, não tem passado disso mesmo!) que, partindo, antes de mais, da crítica (e consequente abandono) do actual paradigma de desenvolvimento baseado no crescimento contínuo (que todos sabem condenado a prazo – pelo inevitável esgotamento dos recursos – mas que todos fazem por ignorar), isso implica a sua transformação num outro que permita a estruturação de uma sociedade (1) sustentável, (2) de equilíbrio regulado, (3) de valores (seriedade, sobriedade e solidariedade – para além, claro, do clássico tríptico herdado da Revolução Francesa).

Mas, ainda assim, permanece a insatisfação com este tipo de leituras sobre o ocorrido nessas eleições. Porque estas respostas, de fácil aceitação racional e já com alargado consenso, têm-se demonstrado impossíveis de concretizar, não obstante a realidade objectiva o exigir cada vez com maior premência, sob pena de as sérias ameaças que hoje afectam a vida do planeta, se transformarem em danos irreversíveis. Perceber o que tem impedido a realização de um tal programa, exige, a meu ver, a prévia desmontagem da promiscuidade ideológica em que a direita conseguiu enlear (e manietar) um certo pensamento da esquerda, porventura traumatizada pelo fracassado modelo socialista soviético, por receio de com ele ser confundida. No centro deste sequestro ideológico, o dogma que estabelece a indissociável parceria entre democracia e mercado, como os dois pólos ou bases que garantem uma sociedade livre e desenvolvida: o mercado representaria na economia o papel que a democracia desempenha na política.

Entretanto e aparentemente sem qualquer relação com este assunto, logo no início deste mês de Julho, foram divulgados os resultados do estudo, promovido pela SEDES, sobre «A Qualidade da Democracia em Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos». E talvez o aspecto mais inquietante a destacar nele seja mesmo o de que a maioria dos inquiridos (51%) não está satisfeita com ‘esta’ democracia. O inquérito centra-se mais nas questões da cidadania, os assuntos da economia parecem dele arredados. No entanto, a conclusão que mais salta à vista é a percepção do tratamento diferenciado que a Justiça proporciona... de acordo com o poder económico (82% considera que ricos e pobres são por ela tratados de forma desigual) ou o com o estatuto social (79% refere que trata de forma diferente políticos e cidadãos comuns).

Conclusão que reforça a percepção já generalizada na opinião pública: o que falta cumprir à democracia é a sempre prometida e nunca conseguida democracia económica – e a correlativa eliminação de privilégios, arrimo de todas as formas de discriminação e corrupção!

É esta impossibilidade prática de se consumar a democracia económica pela via do mercado (travestido de ‘economia social de mercado’), que confronta a esquerda e a deve levar a questionar-se, sob pena de ficar em risco a própria democracia política – a crescente insatisfação revelada no inquérito! – no sentido de identificar o que deve mudar para se constituir como verdadeira alternativa. Assumindo, desde logo, que a percepção generalizada da inutilidade das opções políticas postas a sufrágio e, consequentemente, a profunda ‘descredibilização da política’, tem a sua origem no implantado rotativismo partidário, centrado na mera gestão do sistema.

O drama é que, nas condições objectivas de funcionamento das actuais sociedades de consumo, é praticamente impossível contrariar, ou tão só desafiar, esse impulso vital que organiza toda a nossa vida social, que determina e explica o extremo consumismo que a caracteriza, que se acoberta na necessidade de... criação de valor. É, pois, sem pudor, que a própria terminologia escancara o propósito último do sistema: o objectivo instrumental básico das sociedades organizadas, a criação de riqueza, é substituída pela criação de valor – mesmo que esta criação de valor em nada venha a contribuir para a criação de riqueza!

Por alguma razão a origem (e explicação) da crise é, também, o principal obstáculo à sua resolução.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A ciência prostituída …

“Ouve-se dizer que a ciência está actualmente submetida a imperativos de rentabilidade económica; na verdade sempre foi assim.
O que é novo é que a economia venha a fazer abertamente guerra aos humanos; já não somente quanto às possibilidades da sua vida, como também às da sua sobrevivência.
Foi então que o pensamento cientifico escolheu, contra uma grande parte do seu próprio passado antiesclavagista, servir a dominação espectacular (da sociedade de consumo).
Antes de chegar a este ponto, a ciência possuía uma autonomia relativa.
Então sabia pensar a sua parcela da realidade e, assim, tinha podido contribuir imensamente para aumentar os meios da economia.
Quando a economia toda-poderosa enlouqueceu, e os tempos espectaculares não são mais do que isto, suprimiu os últimos vestígios da autonomia científica, tanto no campo metodológico como no das condições práticas da actividade dos «investigadores».
Já não se pede à ciência que compreenda o mundo ou o melhore nalguma coisa.
Pede-se-lhe que justifique instantaneamente tudo o que faz.
Tão estúpida neste terreno como em todos os outros, que explora com a mais ruinosa irreflexão, a dominação espectacular promoveu o abate da árvore gigantesca do conhecimento científico com o único fim de dela talhar uma matraca.
Para obedecer a essa última exigência social de uma justificação manifestamente impossível, mais vale não saber pensar incomodamente e, pelo contrário, estar-se bem exercitado nas comodidades do discurso espectacular.
E é com efeito nesta carreira que a ciência prostituída destes tempos miseráveis encontrou agilmente, com muito boa vontade, a sua mais recente especialização”.
Guy Debord, in “Comentários à Sociedade do Espectáculo”

domingo, 5 de julho de 2009

A Política Socialista para Portugal ...

Francisco Louçã, coordenador da comissão política do Bloco de Esquerda apresentou o programa com que o partido se apresenta às próximas eleições e que tem como prioridade absoluta o combate ao desemprego.
O Bloco de Esquerda estima que o custo económico do desemprego será de 21 mil milhões de euros em 2009, "muito mais que o custo de todas as obras públicas que estão a ser discutidas até 2020".
Do programa, que tem mais de uma centena e meia de páginas, Louçã destacou um conjunto de cinco medidas para combater a crise, e disse que o maior problema de governabilidade que o país atravessa chama-se "maioria absoluta, que levou o país ao desastre".
Ler mais ...

sábado, 4 de julho de 2009

1.Jul 09 Noite Popular - Orquestra de Bandolins da Madeira

No largo de S. Carlos até 19 de Julho. Ver Programação em www.festivalaolargo.com/

Orquestra de Bandolins da Madeira

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Benfica : pronto, já votei …

Enquanto Benfiquista, estou de consciência tranquila, pois acabo de exercer o meu direito de voto.
Eu, que, e desta feita, até nem tinha intenções de o fazer, acabei votando em Luis Filipe Vieira.
Porquê ?
Porque se, em todo este processo, Luis Filipe Vieira agiu muito mal, um tal de Carvalho – e, em particular, um tal de Pimentel – não lhe ficaram atrás;
bem pelo contrário : agiram bem pior …
Assim, e por isso, escolhi defender o BENFICA.
Viva o BENFICA !!!

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O "desnorte" Socratino ...

Manuel Pinho, delicodoce, em pleno debate do Estado da Nação, às tantas, e apanhado numa mentira, em mais uma mentira, toca de “investir”, com cornos e tudo, contra a oposição…
Resultado : o Manelinho acabou demitido
E pese este gesto – ao fim e ao resto a única saída possível – não deixa, ainda assim, de se acentuar o visível e risível “desnorte” deste governo Socrático …

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Até que enfim !!!

Talvez envergonhados com a celeridade processual da justiça nos EUA, eis que, finalmente, o nosso sistema judicial dá um "ar de sua graça";
Manuel Dias Loureiro - o ex-múltiplas coisas e ex-coisas, sendo que, e antes da política, era coisa nenhuma - está a ser ouvido no DCIAP.
Como arguido …
U f f !!!