segunda-feira, 29 de junho de 2009

O "azar" de Madoff ...

Bernard Madoff foi hoje condenado a 150 anos de prisão por um tribunal de Manhattan por ter cometido a maior fraude financeira da história.
Azar, grande azar tem o senhor Bernard Madoff.
Cinco meses ( 150 dias ) foi quanto bastaram para ser julgado e condenado.
Nos Estados Unidos da América.
Fora em Portugal e o senhor Bernard Madoff, pese a(s) trafulhice(s), ainda não teria sido molestado.
Por cá, o senhor Bernard Madoff, para além da mais que evidente lentidão da justiça, bem poderia contar com a manifesta colaboração de uns tantos partidos, sempre interessados em defender a “respeitabilidade” de uns tantos senhores …
Azar, grande azar o de Bernard Madoff em não ser Português…
Pois, ainda bem; ao menos este "respeitavel" já era ...
Por cá, pois é : continuamos a investigar !!!

domingo, 28 de junho de 2009

Das trapalhadas do Sócrates às trapalhices da Manuela, passando pelas tropelias do Cavaco

O último episódio que opôs Sócrates à Manuela, o fracassado negócio PT-Prisa, encerra todo um tratado de economia política (ou será de política, mesmo?) do modo como as matilhas assoladas do mais desenfreado liberalismo, acantonado sobretudo no PSD, encaram a economia e pretendem afrontar a política. Para encurtar razões e outras explicações, confesso-me inteiramente de acordo com a argumentação que o Carlos Santos tem vindo a expor, munido de uma infinita paciência e muita sabedoria, no seu ‘Valor das ideias’ – de leitura diária obrigatória, pela competência que revela e pelo rigor que coloca nas suas análises (mesmo quando, aqui ou ali, não se concorda com tudo o que ele escreve).

O episódio é até aproveitado para, no rescaldo do seu conhecido epílogo, se tirarem as conclusões do costume: é necessário deixar o mercado funcionar, portanto, o Estado deve livrar-se quanto antes da ‘golden-share’, essa reminiscência malévola de sociedades atrasadas... Mas, como bem refere Carlos Santos, a detenção da golden share “não permitia ao governo obrigar a PT a fazer o negócio (como a vozearia da matilha exigia na véspera), mas permitia-lhe impedir que ele se fizesse” (como acabou por acontecer, em mais uma demonstração do desnorte em que se encontra o Sócrates). O ataque a esta prerrogativa do Estado, denota sobretudo, que os seus detractores parecem mais dispostos a ensimesmados exercícios teóricos do que em enfrentar a crise actual (que desvalorizam), ao retomarem, ainda com maior arrogância, o formulário de receitas – acompanhado das habituais provocações – que a ela conduziram.

Aliás, no frenesim pós-eleitoral a que o PSD se entregou, na ânsia de apear o seu parceiro de alterne no poder do Estado, têm-se sucedido episódios exemplares do estilo governamental que a Manuela pretende impor se lhe concederem essa possibilidade. Durante um jantar com o Grupo Parlamentar do PSD na Assembleia da República, prometeu que, se vencer as eleições legislativas, vai «romper com todas as soluções adoptadas pelo PS em termos de política económica e social» e libertar a sociedade do Estado. Ao que consta, o álcool não foi o responsável por tais declarações, pois elas foram proferidas antes do alambazado repasto dos deputados da nação!

Esta tirada merecia, só por si, tratamento específico, com título a condizer – ‘A desonestidade ao poder’ (?) – pois ao mesmo tempo que pisca um olho a todos os descontentes com a governação de Sócrates (há muito por onde escavar nas corporações ofendidas com as suas mal amanhadas e pífias políticas públicas!), o outro não dá sinais de coisa nenhuma – a menos que esta frase encerre todo o seu programa político!

E tudo isto, vejam bem, com o beneplácito – que digo eu? com a expressa conivência e participação! – do supremo magistrado da nação, do presidente que devia ser de todos os portugueses, do exemplo de impoluta probidade (salpicado, é certo, por manchas indeléveis de amigos e protegidos), do esfíngico Cavaco, desta feita transformado – alguém já o disse – em inesperado porta-voz do PSD! Que clama por transparência e ética nos negócios – serôdio remoque ao seu amigo e ex-conselheiro de Estado Dias Loureiro, ou empurrão descarado à sua amiga e presidente do PSD Manuela FL?

Também aqui os resultados eleitorais tiveram o mérito de tornar o PR mais ousado para intervir de forma discricionária na política partidária, desde que isso sirva os propósitos de um homem que, tido por rigoroso e sério, mais fica a dever à obstinação casmurra e ao calculismo político. Como forma de compensação à sua falta de cultura (a todos os níveis, Marcelo ‘dixit’) e à ausência de um quadro teórico de bases sólidas (para além da vulgaridade ideológica). Consistência testada ainda na tentativa (falhada) de marcar a data das eleições legislativas para o mesmo dia das autárquicas, com o argumento bizarro de que "existem sondagens que mostram que os portugueses preferem eleições no mesmo dia!". Como se sabe, o condicionamento pretendido não surtiu o efeito desejado!

Surge entretanto um novo manifesto de ‘economistas’, em contraponto ao dos ‘28’ do ‘Apelo à reavaliação dos grandes Investimentos Públicos’. A provar, afinal – se tanto fosse necessário – a grande dependência política da economia. Mesmo (ou sobretudo?) da que se apresenta – e reivindica – como pura técnica. Terá este vindo tarde de mais?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Eu, acredito em JESUS …

Quem tem a lucidez de defender que “discussão não é percurso e que jogo falado é uma coisa, jogo treinado outra e jogo jogado outra ainda” só tem - para já - que merecer a minha solidariedade e o meu apoio.
Hoje, depois de ler esta entrevista, acredito em JESUS …

terça-feira, 23 de junho de 2009

A casa ditosa dos economistas ‘credíveis’

Independentemente do valor que a cada um mereça o conteúdo do documento publicado este fim de semana, da autoria de 28 economistas, fazendo “Apelo à reavaliação dos grandes Investimentos Públicos”, não é possível ignorar as personalidades que o constituem e, sobre elas – o seu enquadramento ideológico e, portanto, as suas motivações para além das declarações – emitir uma opinião. Aparentemente provenientes ‘dos mais diversos quadrantes’ (Público, de sábado passado), surgem aqui unidos no propósito comum da defesa do ‘interesse nacional’ que, na sua perspectiva, ‘impõe uma reavaliação profunda das prioridades de investimento público’!

Trata-se de economistas que, no seu conjunto, se apresenta como:

- Um grupo de notáveis tecnocratas: gestores, académicos, ex-políticos responsáveis pela, por eles, tão verberada situação económica do país: por incompetência funcional nos respectivos desempenhos ou demérito das políticas que agora insistem em defender. Encaram a economia como se ela estivesse fora (e acima) da política (mesmo os que, eventualmente, afirmem o contrário, procedem como se assim fosse), aceitando o actual modelo de organização social (não apenas a económica, portanto) centrado no mercado (com nuances, é certo), sem contestação crítica substancial, como um dado inevitável.

- Tidos por economistas credíveis: em ‘economês’ significa total subordinação à ‘Teoria Económica de Mercado’ (objecto de muitos eufemismos), nas suas diferentes versões e escolas – da neo-clássica e mais liberais, às mais keinesianas e interventivas – o que, só por si, atesta bem da sua objectividade, cientificidade e rigor. Esquecem-se que a teoria económica é determinada pela economia política, a única, aliás, que permite alguma objectividade científica, pois estabelece desde logo os pressupostos – e os limites – em que se situa.

- Provenientes dos mais diversos quadrantes (políticos, presume-se): só os que se enquadrem nas definições das características anteriores, o que implica aí caberem apenas os adeptos de uma teoria económica dominada pela referida economia política (e a respectiva teoria económica) centrada no mercado (nas suas diversas versões), ou seja, com exclusão, obviamente, dos não credíveis e de pendor político (não tecnocrático).

Nos ‘28’ não constam, pois, economistas ‘desqualificados’ (por oposição a ‘credíveis’) e ‘políticos’ (por oposição a ‘tecnocratas’) – para além dos que eventualmente hajam declinado o convite para o subscrever, por receio de represálias. ‘Desqualificados’ porque, dizem, o modelo que propugnam ou foi ‘enterrado’ pela História (o ‘modelo de planificação central’, de inspiração soviética, que soçobrou estrondosamente com a queda do ‘muro de Berlim’), ou não existe (ausência de alternativa – lá está – credível ao ‘modelo de mercado’!).

Não é este o momento, nem sequer aqui o melhor espaço, para se entrar na análise ao conteúdo do documento – aliás, de valor substantivo bem reduzido, que os seus subscritores pretendem valorizar à conta do peso social detido pelo conjunto de personalidades, inserido numa corrente de opinião que tem tido no PR (e por extensão, no PSD) o seu principal impulsionador. Muito menos o de se contribuir para a formulação desse modelo alternativo – que é possível, já por aqui abordei esta questão noutros comentários. Refira-se apenas que a lógica política que o determina, apontando à suspensão do actual plano de investimentos públicos sem apresentarem qualquer alternativa – visa apenas e essencialmente garantir melhores condições de rentabilidade futura às empresas, através do mínimo de constrangimentos de natureza orçamental, fiscal e social ao funcionamento da sua actividade, seguramente com bem menores preocupações em proporcionarem um acesso generalizado aos benefícios que potenciem o exercício de uma cidadania mais completa a todos os portugueses (muito para além, pois, das obras que pretendem sejam suspensas).

Mas se algum mérito lhe pode ser assacado é o de reforçar a chamada de atenção para alguns aspectos que, agora, no rescaldo da ‘debacle' do PS nas ‘europeias’, melhores condições encontram para ser aprofundados. Do meu ponto de vista, de leigo (interessado) na matéria, sobretudo a insistência na ‘prioridade ao transporte ferroviário tradicional’, e o maior rigor na análise das ‘conexões ferroviárias’ do futuro aeroporto.

A propósito de um manifesto dito económico

São 28 e deram-se ao trabalho de escrever um manifesto.
Para o mais venenoso dos cronistas nacionais, eles "são os grandes nomes do país", a "elite incontestável e prestigiada" da nação.
Tem toda a razão. O problema começa precisamente aí.
Eles são, de facto, os rostos económicos da elite nacional.
A pergunta é: ganhámos muito com ela?
Ler mais ...
( Artigo de Miguel Portas, in Esquerda.net)

segunda-feira, 22 de junho de 2009

O BdP e a "prudencial" comunicação ...

O Banco de Portugal (BdP) é no que concerne à fiscalização do Sistema Financeiro Português tão prudencial, tão prudencial, tão prudencial ... que o que falha - só e mesmo – é a comunicação

sábado, 20 de junho de 2009

Hoje ...

Porque combater a homofobia é um dever de tod@s e de cada um(a), independente da orientação sexual.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Salvador da Costa ou, o Pinto no ovo do dragão

Nos últimos dias e a nível doméstico – para além do interminável caso BPN e do frisson político gerado em torno da putativa “ignorância” do Nuno Melo, que Constâncio verberou no candidato pendura (posto à boleia do mediatismo do caso) – sobra ainda esse rocambolesco episódio que opôs o Vieira do Benfica ao Salvador do Braga, a propósito da já consumada transferência (???) do Jesus treinador.

Não me interessa aqui analisar tanto os contornos do ‘negócio’, tão pouco avaliar as implicações contratuais do mesmo. Num mundo (o da bola, claro) em que os contratos celebrados pouco representam, não foram certamente os pruridos legais ou quaisquer escrúpulos morais, os entraves ao ‘negócio’. Mesmo que, por saudável princípio de urbanidade, os contratos sejam para cumprir, o finca-pé do Salvador tem explicações outras para além do negócio em si ou da defesa ética dessa elementar regra civilizacional: tão ostensiva demonstração de força fera – com carranca franzida a preceito – visa habilitá-lo ao exame da ‘enxofrada’ tribo (por via do enxofre do dragão, claro), para aferição da sua condição de herdeiro convicto, empenhado e arreganhado.

Interessa-me mais, antes, destacar essoutro facto comezinho que é o deste episódio revelar a forma como já está a ser preparada a sucessão do pícaro. E, no balanço, recordar outros enredos bem mais insidiosos, evocar aqui outros ‘futebóis’, esses sim, decisivos para a nossa vida colectiva.

É que – à parte os meandros camorreanos dos negócios do ‘pontapé na bola’, mas por via deles – não é possível dissociá-lo desse malogrado processo que podia ter mudado este tristonho país de ancestrais medos e agourentos presságios, dessa regionalização que acabou presa (admito que a contragosto) do ‘papão’ do Norte – ‘papa’ para uns, ‘vice-rei’ para outros – sorvida no agitar do espantalho troglodita e na furibunda truculência do ‘mata-mouros’. Mesmo que outros (e muitos foram) tenham também contraído grossas responsabilidades nesse já longínquo ano de 1998, um dos motivos da derrota referendária desse estruturante projecto esteve no medo de que se multiplicasse pelo país o exacerbado exemplo de um incendiário defensor regionalista – baseado, vejam bem a ironia, na bizarra aliança entre um Jorge (cristão, com direito a incenso papal e tudo) e um dragão (inflamado pelo enxofre danado)!

Quando parecia prestes a encerrar-se um ciclo (pela lei natural da vida), eis que se perfila já, no ovo, mas sob a forma de liturgia de vésperas, empenhado em demonstrar às hostes arregimentadas a ferocidade requerida ao cabal desempenho do cargo, um seu animoso sucessor. Teremos Pinto? Desta feita, um Salvador? Com o Jesus no caminho da Luz...

Mas que trapalhada!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

??? ...

"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos...
Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta ?.."

( pergunta vencedora num Congresso sobre Vida Sustentável no Brasil )

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O "troca-tintas" ...

O Dr. Victor Constâncio, governador do Banco de Portugal (BdP), e um dos mais bem pagos governadores dos Bancos Centrais da Europa, quando ouvido no Parlamento no âmbito da Comissão de Inquérito ao BPN, às tantas, e com aquele seu (dele) muito característico ar enfatuado, acusou os deputados da referida Comissão de ignorantes, admitindo que da parte do BdP terá havido lugar a alguma ingenuidade sem, contudo, admitir quaisquer responsabilidades de/na supervisão.
Contudo, fora do Parlamento, no VII Fórum da Banca e Mercado de Capitais, o nosso principescamente bem pago senhor governador do BdP, lá informou que, afinal :
O sistema bancário "sombra" vai desaparecer com o reforço da regulação que resultará desta crise, afirmou hoje o Governador do Banco de Portugal (BdP), que acrescenta que os auditores "têm falhado muito" e também em Portugal .
Afinal, e pelos vistos, sempre falhou qualquer coisa;
o que não falhou, de certeza e com certeza, foi o seu (dele) chorudo ordenado ...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Uma leitura pós-eleitoral

III – Uma proposta para a crise (europeia e mundial)

Já aqui, por mais de uma vez e sob diferentes perspectivas, apresentei o que penso dever constituir a base de um programa político de Esquerda. Sem pretensões em irromper de forma abusiva por domínios onde outros mais experimentados, e por isso mais preparados, têm melhores condições para o fazer. Mas também sem que isso me iniba de apresentar opinião sobre assuntos em que, penso, todos deveriam dar o seu contributo, no esforço – e preocupação – de pensar sobre matérias de interesse colectivo. Sem tabus nem limites - ao menos no pensamento!

Cada vez se impõe mais a convicção de que, enquanto a solução para a crise se resumir em concertar (ou remendar) os erros da actual situação económica, ou seja, enquanto a solução for apenas procurada no interior do sistema, não saímos dela. Cada vez é mais perceptível que as soluções postas em marcha até agora apenas resolverão a crise de momento. Porque a crise é o sistema. É impossível continuar a crescer como até aqui, mas todos, capitalistas/empregadores e trabalhadores, parecem sobretudo apostados em retomar o fio aos anteriores níveis de crescimento, que se sabe, mas finge-se ignorar, insustentável a prazo. Todos esperam por crescimentos acima dos ‘X%’, todos apostam no pleno emprego, todos baseiam as projecções da segurança social (saúde ou reforma) numa esperada (inevitável ?) expansão económica.

Ora, enquanto esta mentalidade servir para sustentar o paradigma do crescimento contínuo – que todos sabem condenado a prazo, mas que ninguém se atreve a pôr em causa, por egoísmo ou receio de impopularidade – será impossível encontrar uma saída para a crise. Ou então adia-se a solução lá mais para diante, sabendo-se que, quanto mais tarde, pior as condições para se delinear uma estratégia fundada num outro paradigma de desenvolvimento.

É aqui que se encontra o principal desafio da Esquerda: como transformar esta séria ameaça ao futuro da Humanidade, em oportunidade política para benefício da maioria (e, bem assim, da sua própria implantação). Tendo por base a realidade objectiva e os dados sociológicos que determinam os comportamentos actuais das pessoas, tal implica ser capaz de encontrar áreas em torno das quais seja possível gerar consensos alargados. A resposta às causas da crise e às preocupações por ela geradas não pode deixar de passar pela elaboração de programas centrados na estruturação de uma sociedade (1) sustentável, (2) de equilíbrio regulado, (3) de valores (Seriedade, Sobriedade, Solidariedade). Que se traduz, no momento actual, na defesa de políticas tendentes à:

1 - Preservação dos recursos naturaiscontra a sua acelerada predação actual: passando, inevitavelmente, pelo controle público dos recursos básicos (combinando racionalização, eficiência e reciclagem) e por todas as formas de defesa do ambiente (com aplicação do princípio da precaução, conforme recomendado pela ONU);

2 - Promoção de uma maior redistribuição (de oportunidades e riqueza) – contra o agravamento de todas as desigualdades: impondo limites às diferenças de rendimento, reduzindo o tempo de trabalho (permitindo o seu acesso a um maior número), regulando o comércio internacional (contra todas as formas de ‘dumping’);

3 - Reconversão do sistema financeiracontra a corrupção ‘sistémica’ que gerou a crise: envolvendo, forçosamente, o controle público dos denominados paraísos fiscais ou ‘off-shores’, o que, nas circunstâncias, só pode conduzir à sua rápida extinção.

Desta súmula de propostas, duas assumem carácter de urgência face ao contexto da própria crise, determinando a conveniência em concentrar esforços na sua inadiável aplicação: a redução do tempo de trabalhopara as 30 horas semanais, por exemplo (como já tive oportunidade de referir noutro comentário deste blog, “ainda que ao arrepio das tendências dominantes da actual globalização – como única forma racional e decente de se enfrentar o actual impasse criado na organização do trabalho, em resultado da própria reconversão na actividade económica”); o controle dos ‘off-shores’conduzindo à sua inevitável extinção, única forma de se acabar com as condições que fomentam a corrupção financeira!

Não obstante a sua premente – e urgente – necessidade, não pode ignorar-se que, no imediato, estas propostas parecem inexequíveis. Os interesses e a cegueira dos homens a isso se opõe. Por quanto tempo mais? O tempo que a realidade decidir conceder-lhes!

Breve nota final apenas para referir que, hoje, até os sectores liberais (e fautores do actual estado de coisas), sentem necessidade de apelar à reposição de valores como a sobriedade (contra o extremo consumismo, acrescentam...), como fez questão de afirmar, no discurso deste 10 de Junho, o ‘liberal’ Presidente Cavaco! Lindo!!! O pior é o resto! E o resto é tudo!

domingo, 14 de junho de 2009

Uma leitura pós-eleitoral

II – A crise na Esquerda europeia

A vitória das forças conservadoras nas eleições europeias avivou um tema recorrente: qual a razão de a Esquerda (toda a esquerda), não ser capaz de se constituir como alternativa firme de esperança (tanto para os que perderam já o emprego, quanto para os que protegem a sua ainda cómoda posição actual) ou de confiança (na terminologia do BE) ao modelo de desenvolvimento que tudo aposta num crescimento ilimitado – de que resultou, afinal, a presente crise – e cujo aprofundamento, a nada se inverter, é inevitável que aconteça?

Sem menosprezo pelas explicações que atribuem ao controle dos meios ideológicos (estruturas hierárquicas, aparelho do Estado, comunicação social,...) o factor determinante na orientação das consciências dos cidadãos eleitores, o certo é que a sua operacionalidade, do ponto de vista dos resultados, tem-se demonstrado muito limitada e parcelar, o que implica dever tentar encontrar-se outra via mais eficaz e mais abrangente. Importa, assim, aprofundar duas ordens de razões a que, apenas para efeitos de arrumação, se atribuiu a distinção entre objectivas e subjectivas.

Desde logo, razões objectivas derivadas da própria realidade concreta, seja de natureza material, económica ou social e que, perante a perspectiva da mudança inevitável, se pode resumir na seguinte proposição: as pessoas só aceitarão mudar o seu estilo de vida se (ou quando) a isso forem obrigadas. O que vale por dizer que só mudarão quando a realidade, material, económica ou social (grandes convulsões, por exemplo), lhes bater à porta – ou lhes cair em cima das próprias cabeças (nem sempre resulta o exemplo do ‘vizinho’, como se comprova agora com a presente crise).

Mas também razões subjectivas que se prendem com a natureza das propostas e a incoerência das práticas dos partidos socialistas tradicionais (incluindo as diferentes social-democracias – com exclusão, porventura, do exemplar nativo, o PSD, socialmente eclético e ideologicamente indefinido, politicamente enquadrado no conservadorismo liberal do PPE), até agora maioritários na Esquerda, essencialmente devido a:
- No campo das propostas – por se demonstrarem incapazes de apresentar (e delinear) um modelo alternativo consistente (na resposta à crise), viável e perceptível, consensual, o bastante, para permitir convergências alargadas.
- Quanto à incoerência das práticas governativas (nos casos em que têm vindo a ser chamados a desempenhá-las) – porque de um modo geral se têm destacado mais como gestores de um modelo que, em teoria, são até capazes de criticar, mas que, na prática, não têm rebuços em aplicar, por vezes até com maior zelo que os seus indefectíveis defensores.

O que de modo algum contribui, perante o eleitorado ou o cidadão em geral, para estabelecer as diferenças essenciais. Antes pelo contrário, apenas acentua a convicção do eleitor comum de que, afinal, não há diferenças significativas entre a prática dos diferentes partidos que se revezam no poder de forma rotativa, independentemente da ideologia que digam professar. Com claro prejuízo, como é óbvio, para a democracia em geral, mas sobretudo para a Esquerda – tanto a que participa no denominado ‘arco governativo’, pelos equívocos que gera no eleitorado, quanto a independente, que se tem vindo a afirmar de forma consistente mas necessariamente difícil, atento este condicionalismo – pois até o eleitor menos informado ou motivado politicamente é capaz de distinguir entre a cópia e o original. E, em tais circunstâncias, a opção é clara.

Importa, então, adquirir capacidades para promover um programa de acção, assente num modelo de desenvolvimento alternativo, mas consistente, viável, perceptível e consensualmente alargado. Mesmo que a sua aplicação prática pareça, no imediato, inexequível ou até fora de propósito. Convenhamos, só tem possibilidade mesmo de ser exequível aquilo que o pensamento único liberal decreta que o possa ser!!! Contrariar esta submissão ao ‘dictat liberal’ não é tarefa fácil, mas é imperioso que se tente – de acordo com os princípios atrás enunciados, em nome do futuro.
(...)

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Uma leitura pós-eleitoral

I – A crise nas eleições europeias

Dos resultados das eleições europeias, para além das análises políticas baseadas essencialmente na geometria partidária, sobressai uma conclusão deveras inquietante: a vitória dos partidos conservadores e liberais, por toda a Europa, para o Parlamento Europeu, significa que os cidadãos europeus decidiram entregar a resolução da crise que os afecta aos mesmos que a provocaram e dela são principais responsáveis. Directamente, ao manterem – e reforçarem – a mesma maioria no único órgão representativo da UE (e co-responsável por boa parte das decisões que os atinge); indirectamente, ao legitimarem pelo voto os partidos promotores das políticas que originaram a crise. Com especial incidência nos países que constituem o ‘eixo’ central que sustenta o famigerado PEC/Pacto de Estabilidade e Crescimento – principal base programática das políticas neoliberais europeias – Alemanha, França, Itália e Inglaterra.

À primeira vista não são perceptíveis as razões que determinam e justificam a opção insistente dos eleitores nas mesmas políticas e medidas económicas responsáveis pela grave situação actual, aparentemente contra os seus próprios interesses. Mas é possível tentar uma hipótese de explicação a partir de um olhar mais atento e pormenorizado sobre a dura realidade da crise, no enquadramento específico das eleições europeias.

Antes de mais, é necessário ter presente um dado sociológico simples mas essencial para se compreenderem os comportamentos actuais (eleitorais ou outros): a crise não afecta a todos por igual (pelo menos nesta fase). Os grandes e directos ‘sacrificados’ da crise são, para já, os que perderam o emprego ou estão na eminência de o perder. Incluindo ainda os que a ele não conseguem aceder pela 1ª vez, pois o denominado ‘mercado de trabalho’ parece ter “fechado para balanço”! (De facto, poucos arriscam, no actual contexto de indefinição e incerteza, a expansão dos negócios e, por aí, o aumento do emprego. Todos parecem ‘à espera do que isto vai dar’. E entretanto...). O que determina olhares diferentes sobre a crise. E a sua solução.

A grande maioria dos assalariados e independentes (ainda) não directamente afectados (e que constituem a esmagadora massa dos eleitores) olha para a crise e para os desafortunados por via dela, com o distanciamento calculista da pessoa saudável perante alguém condenado pelo cancro: com preocupação, num misto de comiseração e receio, mas procedendo como se essa fatalidade só acontecesse aos outros. Tenta, por isso, preservar a todo o custo a sua relativa comodidade, centrada na manutenção do emprego e na defesa das eventuais regalias conquistadas ao longo dos anos. Que até pode passar pela adesão a teses anti-emigração, de teor xenófobo, ou pelo retorno a ideologias tradicionalistas, de cariz fascizante. Em regra adopta uma atitude defensiva, porventura egoísta, se bem que racional, aderindo essencialmente ao que considera melhor poder contribuir para a preservação dos postos de trabalho. Volta-se, pois, para quem presume ter melhores condições de vir a defender este objectivo básico.

Surpreendentemente (ou talvez não), no meio da indiferença, desencanto ou mesmo frustração que as diferentes mensagens políticas mereceram por parte dos eleitores (como o comprova a extensa abstenção ocorrida, desta vez associada ao veemente protesto que ressoa dos votos brancos e nulos), as propostas da esquerda (aqui incluindo todos os partidos que dela se arrogam) foram as mais penalizadas, o que, na sequência da maior crise de que há memória, provocada pela aplicação das políticas de desregulação liberal, parece acontecer em claro benefício do infractor.

E é aqui que se levantam as grandes questões a que a Esquerdaneste crucial confronto político que a deve opor, acima de tudo, à dinâmica suicida dos que apostam numa estratégia de desenvolvimento baseada no crescimento ilimitado até agora não soube dar resposta, mas a que tem de o fazer, com a maior urgência.

Sob pena de vir a ser ultrapassada: ou pela realidade – normalmente da pior maneira; ou pela demagogia – na versão histórica da farsa (ou da tragédia?).
(...)

A dureza destes tempos que correm ...

“Nos últimos tempos, preocupava-o sobretudo as misérias das classes – por sentir que nestas democracias industriais e materialistas, furiosamente empenhadas na luta pelo pão egoísta, as almas cada dia se tornavam mais secas e menos capazes de piedade.
A Fraternidade - dizia ele numa carta de 1886, que conservo - vai-se sumindo, principalmente nestas vastas colmeias de cal e pedra onde os homens teimam em se amontoar e lutar; e, através do constante deperecimento dos costumes e das simplicidades rurais, o Mundo vai rolando a um egoísmo feroz.
A primeira evidência deste egoísmo é o desenvolvimento ruidoso da filantropia.
Desde que a caridade se organiza e se consolida em instituição, com regulamentos, relatórios, comités, sessões, um presidente e uma campainha, e do sentimento natural passa a função oficial – é porque o homem, não contando já com os impulsos do seu coração, necessita obrigar-se publicamente ao bem pelas prescrições dum estatuto.
Com os corações assim duros, que vai ser dos pobres?…”
( Eça de Queirós, in “A Correspondência de Fradique Mendes” )

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Uma questão de escolha(s) …

“Se comparo as duas condições mais opostas dos homens, quero dizer, os nobres e o povo, este último parece-me contente com o necessário e os outros inquietos e pobres com o supérfluo.
Um homem do povo não saberia fazer nenhum mal; um nobre não quer nenhum bem e é capaz de grandes malefícios; um, só se forma e se exerce nas coisas úteis; o outro, acrescenta as perniciosas: ali, mostram-se ingenuamente a grosseria e a franqueza; aqui, esconde-se uma seiva maligna e corrompida sob a casca da polidez: o povo não tem espírito e os nobres não têm alma; aquele tem bom fundo e não tem boa aparência; estes só têm aparências e uma simples superfície.
Será preciso optar?
Não hesito: quero ser povo.”
( Jean de La Bruyére, in “Os Caracteres” )

terça-feira, 9 de junho de 2009

E agora ?..

A "roubalheira" no Banco Português de Negócios, para usar a controversa expressão de Vital Moreira, tem servido para relembrar a experiência neoliberal portuguesa na sua origem, ou seja, a economia política e moral do cavaquismo. Isto é tanto mais útil quanto muitos dos problemas do país resultam das profundas transformações económicas promovidas pelos governos cavaquistas e das normas sociais que as legitimaram. Ler mais ...
(João Rodrigues, no "I")

domingo, 7 de junho de 2009

“É tarde demais para ser pessimista”

À hora a que a maioria das televisões acompanhava os derradeiros momentos desta ‘campanha triste’, a RTP2 transmitia, sob a forma de documentário, mais um sério aviso sobre ‘este’ desenvolvimento que está a consumir o planeta. Aos argumentos cruzados a propósito do ‘caso BPN’ (roubalheira dos ex-PSDs, de um lado, responsabilidades do ‘BP’, do outro – o CDS a impor a sua agenda mediática às prioridades das europeias em tempo de crise!), a “2”, através de um bem documentado e fundamentado ‘Home – o Mundo é a nossa casa’, alertava para o possível esgotamento dos recursos naturais até ao final do século. Da água, origem da vida, à agricultura, base da sobrevivência humana.

Sem grandes novidades – a não ser, talvez, o tom cada vez mais negro com que estes avisos vão sendo emitidos – durante hora e meia foram apresentados e actualizados os principais dados que os cientistas vão coligindo sobre o rápido processo de carbonização da atmosfera e dos seus principais efeitos no frágil equilíbrio ambiental. Como por exemplo:
- Que tendo a espessura do gelo da calota do Árctico reduzido cerca de 40% nos últimos 40 anos, se prevê o seu desaparecimento até 2030 (alguns avisam que tal pode mesmo acontecer já em 2015!), desaparecendo com ele o ‘efeito de albedo’ (uma espécie de ar condicionado da Terra) e influenciando a ‘circulação termohalina’ das correntes marítimas, o que alteraria todo o clima terrestre;
- Que o acelerado processo de degelo dos glaciares da Gronelândia, que representam 20% de toda a água doce do planeta, caso não seja travado, pode traduzir-se num aumento de 7 metros no nível dos mares, inundando vastas zonas costeiras fortemente habitadas, obrigando à deslocação de centenas de milhões de pessoas!
- Que, com o aquecimento global e o degelo, o metano retido nos solos gelados da Sibéria (o ‘permafrost’) pode libertar-se, o que virá a resultar numa catástrofe de dimensões inimagináveis;
- Ou que 20% da Humanidade consome 80% de todos os recursos da Terra!

Resta-nos então apenas concluir, com o documentário, que “é tarde demais para ser pessimista”! Mas isso obriga a muito mais mudanças do que as pessoas parecem dispostas a fazer. Mudanças políticas de fundo, é certo, mas sobretudo e naturalmente, mudança dos hábitos quotidianos mais simples na vida de cada uma delas.

Que não haja ilusões. Isso só se tornará viável se as pessoas forem a tal obrigadas. Pela força das circunstâncias – a pior maneira – ou pela força das normas – a ‘pérfida’ maneira. Primeiro, porque ninguém estará disposto a acatar normas que interfiram com o seu actual nível de conforto; depois, porque nenhum político das actuais democracias – o regime dominante daqueles 20% mais predadores de recursos – aceitaria afrontar os seus eleitores nesse seu conforto básico. O que implicaria um enorme volte-face nas actuais condições sócio-demográficas do denominado ‘mundo ocidental’. Incluindo também nos próprios comportamentos políticos da sua classe dirigente!

A convulsão gerada na sequência da crise actual (ou crises, importa aqui recordar que a primeira foi a energética, com o disparo dos preços do petróleo, prenunciando o rápido esgotamento dos recursos!) é bem mais do que uma simples ‘crise de crescimento’, como tem vindo a ser tratada. Não sei se é já o estertor do sistema, duvido. Mas sei que só poderá ser ultrapassada se as mudanças forem bem mais radicais e drásticas que as até agora adoptadas (ou as que se aprestam a sê-lo). Sob pena de as circunstâncias virem a impor a ‘sua’ solução. A pior, seguramente!

Talvez a solução, afinal, esteja na simplicidade das coisas. Talvez a solução da energia, por exemplo, esteja na fotossíntese. Tal como se refere no documentário, ‘basta imitar as plantas e procurar captar a energia do sol’. Se tudo fosse assim tão simples...

sábado, 6 de junho de 2009

Em dia de “reflexão” …

“Não é que, no nosso tempo, o representante da cultura seja menos escutado do que no passado o eram o teólogo, o artista, o sábio, o filósofo, etc...
É que, actualmente, tem-se consciência da massa que vive de mera propaganda.
Também no passado, as massas viviam de má propaganda, mas, então, sendo a cultura elementar menos difundida, essa massa não limitava as pessoas verdadeiramente cultas e, portanto, não fazia surgir o problema de saber se estava mais ou menos em concorrência com essas pessoas cultas.”
( Cesare Pavese, in “O Ofício de Viver” )

sexta-feira, 5 de junho de 2009

O automóvel, o mercado, as crises e as Europeias

VI – As ‘Europeias’ – as propostas que nunca existiram!

O papel do Parlamento Europeu, na actual configuração institucional, não corresponde, como se sabe, ao dos seus homólogos nacionais. Apesar do seu poder co-decisório (com o Conselho) num conjunto já alargado de matérias, com relevo para as orçamentais e do ambiente, mantém-se como órgão consultivo em outras, tão ou mais sensíveis quanto estas, como é o caso da política fiscal. Aqui a sua influência revela-se tanto ao nível da pressão exercida sobre a Comissão e o Conselho, como da função pedagógica que lhe cabe junto dos próprios cidadãos europeus. E se algum momento é propício ao contacto com os cidadãos, ele é, sem dúvida, o das eleições para o único órgão representativo de uma Europa que se pretende democrática.

Ademais, isso acontece precisamente a meio da maior crise global (económica, social, ambiental, até cultural) de que há memória e sem fim à vista. Teria sido muito saudável aproveitar-se a campanha para se debaterem as soluções europeias (se é que as há...) para a crise. O certo é que, passado o susto inicial da ‘crise’, começa a instalar-se a tendência para uma certa acomodação... à crise. Com o rol dos ‘sacrificados’ pela crise, para já, neutralizado pelas medidas de apoio financeiro imediato, o mais grave da situação aparenta estar devidamente acantonado. Mais ainda, todos acreditam que mais cedo ou mais tarde a crise irá passar, tudo regressando à ‘normalidade’ anterior!!! Crença apoiada, afinal, no discurso dos mais influentes teóricos e comentadores. Os candidatos, esses, fazem de conta que a crise não existe ou então que se trata de outro negócio que nada tem a ver com as ‘suas’ europeias.

Uma vez que os candidatos em campanha pouca ou nenhuma atenção lhes concederam, permito-me aqui trazer alguns dos temas, relacionados com a crise e com a Europa, cuja oportunidade, penso, se perdeu em serem debatidos. E a meu ver, três áreas estruturantes, em especial, mereciam ter sido questionadas, à escala europeia, nesta campanha – actividade laboral e emprego; modelo de sistema financeiro; uniformização fiscal – impondo-se aqui discutir, entre outras, as seguintes medidas, cuja consideração, mais cedo ou mais tarde, irá tornar-se inevitável:
- Quanto à actividade laboral e emprego: a redução do tempo de trabalho – por ex., para as 30 horas semanais, ainda que ao arrepio das tendências dominantes da actual globalização – como única forma racional e decente de se enfrentar o actual impasse criado na organização do trabalho, em resultado da própria reconversão na actividade económica.
- Relativamente ao novo modelo de sistema financeiro: a neutralização do epicentro gerador da crise – os ‘off-shores’ – o que só pode passar pela sua extinção ou integração nas normas que regem todas as instituições financeiras, opondo-se à desregulação imposta pelo fracassado modelo económico neoliberal.
- Sobre a política fiscal: a alteração do princípio da unanimidade em matéria fiscal (consagrado no Tratado de Lisboa), que tem impedido a adopção de uma política fiscal comum e fomenta as deslocalizações de empresas no espaço comunitário, gerando ineficiências no conjunto da EU – em nome da eficiência das empresas!

É certo que todos estes temas e as propostas neles inseridas foram aflorados, por este ou aquele partido, ao longo da campanha. O tema dos ‘off-shores’, por exemplo, introduzido e por várias vezes tratado na campanha do BE, rapidamente se via engolido na voragem dos compromissos impostos pelo voto, pois o ruído provocado por parte de outros partidos e comentadores encartados, afirmando tratar-se de proposta irrealista e, portanto, demagógica, sobrepunha-se claramente ao pretendido debate sobre o tema.

Incluindo, também, o das ‘30 horas semanais’ (referido – apenas? – pelo ‘descomprometido’ candidato do MRPP !), cuja abordagem se torna inevitável quando já hoje se sabe que a retoma económica não irá recuperar nem trazer de volta grande parte dos empregos perdidos por esta crise. Útil, pelo menos, na sua discussão e enquanto alternativa aos níveis de desemprego, perigosamente elevados – até para o poder dominante do capital.

Mas nenhum destes sensíveis mas nevrálgicos temas suscitou, da parte dos maiores partidos (os que, por definição, mais controlam a opinião pública), a receptividade indispensável para se avançar para o amplo debate exigido. A cortina de silêncio imposta sobre estes (e outros) temas é sintomática, mas não deixa de ser sobretudo preocupante, pois provavelmente o nível de destruição da crise (de recursos e de empregos), longe de abrandar, poderá acentuar-se. Penalizando sobremaneira e como sempre os mais débeis!

As eleições são já no domingo. As soluções para a crise vão ter que esperar... Seguramente não seguem dentro de momentos!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O automóvel, o mercado, as crises e as Europeias

V – As ‘Europeias’ – uma campanha triste!

Por tudo o que se disse antes, as eleições para o Parlamento Europeu apresentavam-se como a oportunidade ideal para debater, à escala europeia (só faz sentido nessa escala) a principal preocupação actual das pessoas – como sair da crise – o que, na perspectiva da maioria delas passava por um programa global de sustentação do emprego. Mas que implicaria ainda outros temas igualmente estruturantes para o futuro das sociedades (nomeadamente nos âmbitos financeiro e fiscal). Mesmo que, por enquanto – atendendo até à natureza das prerrogativas do PE – sobretudo de um ponto de vista pedagógico, identificando as responsabilidades que cabem ao centro das decisões europeias, confrontando os poderes nacionais pelas opções tomadas, demonstrando onde se encontram as verdadeiras amarras que as condicionam, qual, em suma, a situação real que os cidadãos enfrentam na condução das suas vidas.

Sendo isso que parecia exigir-se, não foi isso que, afinal, aconteceu. Na verdade, os períodos de campanha eleitoral têm por objectivos explícitos o esclarecimento dos eleitores sobre os programas dos partidos em disputa (com base no diagnóstico que cada um faz da situação política em função da sua perspectiva ideológica) e o consequente apelo ao voto nesses partidos. Contudo, o que invariavelmente acaba por se verificar é o predomínio absoluto do último desses objectivos, afinal o único que conta para os resultados, através da utilização dos mais diversos expedientes (dos mais ‘sugestivos’ aos mais ‘impositivos’, diga-se).

De tal modo que a tentativa de algum partido ou candidato em privilegiar o esclarecimento, introduzindo um tema para debate, arrisca-se a ser contraproducente, tanto pela reacção dos seus contendores – normalmente mais propensa a evidenciar o picaresco e até entrar no achincalhe, mais interessada na fulanização do que no debate das ideias, desviando as atenções do essencial; como pelo aproveitamento da comunicação social – apenas empenhada em explorar o episódio caricato, a espuma dos factos, o relato do espectáculo. No final apenas os especialistas em ‘sound bites’ prevalecem, as ideias pouco contam – contam apenas na medida em que contribuam para alimentar o ruído. A agitação frenética sobrepõe-se ao debate clarificador.

E foi assim que se assistiu à salvação do Vital pelo Sócrates, do mesmo modo que o Rangel apareceu a dar uma ‘mãozinha’ à Manuela. E é também por isso que os hilariantes espirros do Rangel, ou os constrangedores hiatos na fala do Vital, ou as extenuantes performances policiais (no caso BPN!) do “Mel(r)o que o CDS quer pôr no poleiro em Estrasburgo”, ocupam claramente mais tempo de antena e atenção mediática que os temas europeus. Porque nos divertem, tanto quanto nos distraem. O palco apenas para os verdadeiros artistas...

E tudo isto se desenrola ao mesmo tempo que, em Portugal como no resto da Europa e um pouco por todo o mundo, se vão sucedendo novos episódios dramáticos de uma crise que, contrariamente ao que parece decorrer do pícaro de uma campanha triste e enfadonha, sintomático apenas no que revela da degradação de uma certa política (e, já agora, também de um certo jornalismo), veio para ficar e está para durar, continua aí sem planos nem ideias que a contrariem. Que, ao invés, devia exigir a capacidade, o empenho e a imaginação dos candidatos ao PE, na apresentação das alternativas de solução à escala europeia, precisamente o nível em que ela devia ser discutida. Que merecia mais, pois, que a ausência de programas!

A crispação que agita a política (ou os políticos?), produto de múltiplos factores (entre eles o peso que os resultados desta eleição, por ser a primeira das três que vão ocorrer ao longo deste ano, terá sobre as restantes), não justifica um tão generalizado desatino político.
(...)

terça-feira, 2 de junho de 2009

O automóvel, o mercado, as crises e as Europeias

IV – As razões – ou imposições ? – do mercado automóvel

O conflito aberto na Auto-Europa pela intenção da Administração em impor o sábado como dia normal de actividade (sem qualquer remuneração adicional, como obriga a legislação laboral), reporta e aviva, de forma exemplar e paradigmática, todo o processo de desvalorização do trabalho empreendido pelo capital, aproveitando a maior fragilidade negocial dos trabalhadores em período de crise. Numa altura em que o principal problema das empresas é o da ocupação do tempo de trabalho disponível, com o consequente recurso a todas as formas de o reduzir (despedimentos, ‘lay-offs’,...) sob o argumento da quebra da procura e da falta de encomendas, esta tentativa de alargar ao sábado o tempo normal de actividade parece surgir contra a corrente.

O argumento, aqui, é o dos custos salariais comparados (é preciso ser competitivo à escala global), daí a exigência de mais um dia de trabalho semanal sem qualquer compensação contratual (mesmo reduzida), apesar de, aparentemente, ao arrepio de toda a racionalidade económica. E quando se sabe que os custos laborais apenas pesam no produto final cerca de 5% (!!!), não é possível evitar mesmo a dúvida sobre as reais intenções dos que a este expediente recorrem.

Estava anunciado, era uma questão de tempo. E o tempo tem vindo a revelar, agora a coberto de uma crise que tudo explica e desculpa, as estratégias que se vão já tecendo para o futuro e sob as quais se desvendam (não há como escondê-lo!) os propósitos de sempre: a crescente precarização dos vínculos laborais; a continuada degradação das condições de funcionamento do trabalho, sujeito à permanente chantagem do capital; a lenta mas persistente erosão do emprego, sem retorno à vista; a cada vez maior fragmentação da gestão das empresas e a consequente exclusão dos trabalhadores de lugares de decisão, sob o pretexto de se tratar de matérias altamente especializadas.

Mas o exemplo da Auto-Europa acaba por ser sobretudo esclarecedor do funcionamento tripartido da relação salarial, no contexto da actual crise global, entre trabalhadores, empresários e respectivos governos. Por toda a aparte os trabalhadores, de grandes ou pequenas empresas, quando em dificuldades ou sob ameaça de despedimentos, mais do que responsabilizarem os respectivos accionistas (quem são eles? onde estão?) ou deles exigirem o cumprimento dos seus compromissos contratuais (até porque, nalguns casos, intuem, e com fundamento, dificuldades financeiras reais), voltam-se para o chapéu de chuva dos governos, quaisquer que eles sejam (todos afinal estão comprometidos com este sistema), na vã esperança de deles receberem a protecção que sabem perdida do lado do capital (ou das nebulosas forças que o ocultam).

A resposta, invariável, de todos os governos, tem sido de apoio em palavras, mas de quase nulos resultados práticos. No final, consumada a derrocada e concretizados os despedimentos, limitam-se a accionar os mecanismos de apoio previstos para cada caso, que a tanto se resume a sua responsabilidade. E fazem-no escudados (ou sob desculpa) nas leis da concorrência impostas no espaço comunitário, mas que, fora destes contextos de desespero humano, defendem com todo o vigor e não menor cinismo.

Foi a consciência desta comprovada inutilidade dos governos que, a meu ver, levou os representantes dos trabalhadores da Auto-Europa a prescindirem deste apoio pouco mais que retórico e a sentarem-se frente a frente com os seus patrões, sabendo que negoceiam em condições de grande fragilidade (a chantagem da deslocalização mantém-se permanentemente em cima da mesa), mas intuindo também que nessas negociações não estão apenas em causa as suas concretas condições de trabalho, no limite o próprio emprego: aqui joga-se sobretudo o poder de, no futuro, manterem algum controle sobre as relações salariais em que são parte; de poderem continuar a ter um papel activo na construção da sociedade a que pertencem; de continuarem, pois, a sonhar – e a lutar – por um mundo gerido com responsabilidade, com solidariedade e com justiça.

Nas negociações em curso na Auto-Europa – e decerto em muitas mais empresas pelo mundo fora – está em jogo bastante mais do que apenas o seu próprio futuro, aqui se compromete também um pouco o de todos, joga-se talvez alguma daquela globalização alternativa que importa começar a construir desde já.

O chapéu e os azares …

Isso do azar – ou o que quer que isso, do azar, possa ser – é qualquer coisa que, ultimamente, não tem deixado de me azucrinar; e de que maneira …
Ainda este fim de semana, no remanço da Praia do Ribatejo, um chapéu - um simples chapéu de palha - fez toda a diferença, ajudando a engrossar o rol dos azares que, pelos vistos, me têm batido à “porta”, teimando, o azar, assim e de uma vez por todas, em não desgrudar …
Depois de um bom almoço de lampreia, nada melhor que um aprazível passeio;
e, assim foi : eu, o Quim, o Manel e o Jorge lá demos “corda aos sapatos” no pressuposto de juntar o útil ao agradável :
- espreitar e desfrutar a sempre luxuriante vistas sobre o Tejo e, claro, acelerar a respectiva digestão …
Porém, eis que, às tantas, o azar – de novo, o azar – me assola; uma brisa mais afoita de vento - que, este fim de semana e por aquelas bandas, quase não se fez sentir - entendeu “deschapelarme”… e, assim, o meu chapéu de palha – que (me) protegia do radioso e escaldante sol Ribatejano - voa, e desgovernado, e caprichosamente aterra numa propriedade privada, murada, desnivelada da estrada, com uma altura muito respeitável .
Desde logo, perante a “deschapelada”, os meus companheiros de caminhada, solidários, prontificaram-se a proceder ao resgate do meu chapéu para o que, objectivamente, seria condição necessária (?) saltar o respectivo muro.
Eu, lá tentei explicar da total desnecessidade de tal altruísmo (?), pois o chapéu não merecia, de todo, tais e tamanhos riscos, até porque, a montante, poderia existir um acesso muito mais “maneirinho” para, se necessário, proceder ao famigerado resgate.
Mas, pelos vistos, e lamentavelmente, não terei sido de tal modo convincente, pois, e sem que de tal me apercebesse, o Jorge entende, ainda assim e pese a altura do muro, dar o respectivo “salto”; que, e na circunstância, resultou fatídico, e de que maneira, para o Jorge :
- pé esquerdo partido, com fractura exposta …
Ligado ao 112, e enquanto não chegava a ambulância de V.N. da Barquinha, vivenciei um dos mais dramáticos momentos da minha vida, decorrente da minha total impotência em poder e saber socorrer o Jorge que, pelo facto de ser médico, e ainda por cima ortopedista, era o que – entre nós : eu, o Manel e o Quim – apresentava os melhores sintomas de “calmaria”…
Chegada a ambulância, feita a respectiva e necessária “estabilização” da fractura, lá fomos para o Hospital de Abrantes onde, à noite, altas horas da noite, o Jorge foi sujeito a uma necessária e urgente operação … que, felizmente, terá corrido a preceito dado que, no Domingo, por volta do meio-dia, teve alta do Hospital para, depois de um compasso para retemperamento na Praia do Ribatejo, regressar a Lisboa, ao aconchego do lar …
Eis, assim, como um fim de semana que, pela forma como havia (de)corrido o almoço – lampreia bem “regadinha” -, se preparava para ter tudo, mesmo tudo, para ser auspicioso se transformou, num ápice, e por azar (?), num autentico e verdadeiro suplicio …
Eu, por mim, já nem sei o que diga e o que pensar :
- se foi do almoço;
- se foi do chapéu;
- se foi do vento;
- se foi do salto;
- e/ou se foi e é, mesmo, do azar - o que quer que isso, do azar, possa ser - mas que, ainda assim, teima em (me) perseguir...
Para já, e para o Jorge, os votos de rápidas melhoras !!!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O automóvel, o mercado, as crises e as Europeias

III – Motores gripados

Se há objecto que pode ser erigido em símbolo da sociedade moderna ele é o automóvel. É sabido que a denominada civilização ocidental se constrói em torno de dois eixos fundamentais, que dela emergem como valores estruturantes inquestionáveis: a autonomia individual e a mobilidade. E o principal ícone dessa construção, simultaneamente artífice e artefacto civilizacional, síntese daqueles dois basilares valores, concretiza-se no automóvel individual, autêntico objecto de culto, imprescindível utensílio quotidiano, que organiza toda a vida social.

A interdependência estabelecida entre o automóvel e a organização social implica que qualquer alteração ou perturbação num deles afecta irremediavelmente o outro. Não é concebível esta civilização sem o automóvel, todos os cenários que se perspectivam para o futuro incluem-no inevitavelmente, ainda que sob as formas mais fantasistas e imaginativas. Mesmo o mais que previsível esgotamento da principal fonte de energia que o move, o petróleo, não impede, antes acentua a necessidade, que se concebam e idealizem modelos enquadráveis noutro paradigma energético.

Desde que soou o alarme sobre o esgotamento dessa energia fóssil, nenhum construtor deixou de apresentar alternativas e planos de reconversão completa das respectivas gamas, na base do que se pretende venha a ser esse referido novo paradigma energético. A necessidade precipitou a inovação no sentido da adopção de novas soluções. Para já no campo das mecânicas e do automóvel. Da evolução convenientemente lenta, para não criar rupturas na estrutura empresarial – leia-se, para não perturbar interesses instalados – o sector passou a viver numa agitação e instabilidade invulgares, entre falências, intenções de aquisição, apoios estatais gigantescos e o anúncio constante de planos de reconversão.

Mas não é só no sector automóvel que os dias vão agitados. A avaliar pela desordem instituída nas sociedades actuais, os limites parecem estar também a ser atingidos a nível da organização social, a pressão sentida em diversos domínios da vida das comunidades ameaça romper e explodir: instabilidade na actividade laboral com destruição de empregos, desigualdades ofensivas e crescentes, degradação e violência urbanas, corrupção e delinquência organizadas,... A crise mais acentuou este panorama, apontando rupturas eminentes, em especial a nível da reconversão da actividade produtiva, gerando problemas de dimensão imprevisível.

É por isso que o paralelo com o sector automóvel se afigura pertinente. Decididamente, os motores de ambos – o de combustão de energias fósseis, no caso do automóvel, o mercado, no que respeita à organização social – parecem caminhar para o seu termo com o respectivo prazo de validade quase a expirar, ou, utilizando a terminologia própria do sector, os motores parecem prestes a gripar. Relativamente ao automóvel, as soluções técnicas pressentem-se finalmente bem encaminhadas, todos esperam o surgimento breve de um novo ou novos tipos de motor, com a adopção de tecnologias mais limpas, eficientes e sobretudo mais económicas. Com os naturais efeitos de arrastamento positivos sobre o emprego e a actividade económica global.

Ao contrário, tudo se encontra bastante mais indefinido, no que respeita à organização social. Subsistem (ou resistem?) as velhas fórmulas mercantis de pendor liberal (mais refinadas, mas não menos eficazes), tardam alternativas políticas de pendor democrático (na base de um controle acima das pretensas leis naturais do mercado). O poder do mercado teima, pois, em ceder ao poder da democracia. Mas perante a súbita e rápida fragmentação das estruturas tradicionais (nomeadamente a empresa) que suportavam a vida colectiva, urge encontrar soluções melhor adaptadas, a nível da organização social, para responder de forma adequada e em tempo útil aos novos problemas e desafios da sociedade global, impõe-se mesmo reflectir e começar a preparar uma alternativa política à actual globalização – onde o poder financeiro e a força do dinheiro se submetam à supremacia do direito e da justiça.

As ‘europeias’, à partida, constituíam uma boa oportunidade para se efectuar (ou pelo menos iniciar), à escala devida, o debate necessário, mas...
(...)