sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

As falsas evidências do senso comum: equívocos ou imposturas? – III

Ironias da História

O ousado descaramento com que agora se culpam os Estados do descalabro financeiro e se mesclam interesses num amalgamado ‘nós’ a puxar ao oportunismo nacionalista, merece ainda, a fechar estes breves comentários sobre equívocos e falsidades que se acobertam sob a capa de evidências ou verdades do senso comum, uma última nota.

Apesar de tudo parecer já ter sido dito sobre o papel contraditório que coube ao Estado assumir na actual crise – primeiro como salvador de um sistema à beira da catástrofe, depois, quase envergonhado, alvo de ataques incontidos por haver gasto ‘em aventuras desnecessárias’ (!) recursos que, afinal, não dispunha – há um aspecto que, a meu ver, não tem sido devidamente destacado. Refiro-me ao facto surpreendente – e algo irónico – de o capitalismo ter sido salvo da sua mais que certa derrocada, em boa medida (ainda que sem uma contabilidade rigorosa) pela ‘mão (quase) invisível’ de um país que, a despeito de todas as incoerências, continua a proclamar-se ‘comunista’!

Com efeito, se ‘esta’ China não existisse ou não tivesse actuado, antes e depois da eclosão da crise, comercial e financeiramente, comprando os produtos e as dívidas dos países capitalistas desenvolvidos, nomeadamente dos EUA, do Japão e da Alemanha, a sucessão de acontecimentos que culminou no Verão de 2008 naquilo que ficou conhecido pela ‘crise do sub-prime’ teria muito previsivelmente precipitado a derrocada do capitalismo, ter-se-ia assistido primeiro ao ‘salve-se quem puder’ – cada país empenhado em defender os seus interesses próprios – e, por fim, ao caos completo.

Ora, o que de objectivo se pode apurar é que tal só foi possível concretizar não pela discutível natureza do seu regime (dito comunista), mas por dispor de um Estado centralizado e forte (um trunfo que se revelou essencial – à parte juízos políticos sobre o seu carácter totalitário! – para gerir e suster os efeitos da crise), capaz, pela dimensão e peso relativo do país na cena internacional, de influenciar as trocas comerciais e alavancar recursos bastantes para ocorrer aos principais focos de perturbação mundiais, tanto de natureza económica como financeira.

Entretanto, a ‘saúde económica’ que se diz bafejar a Alemanha – exibindo enormes vantagens competitivas, assentes na diferenciação tecnológica e organizativa, que lhe permitem ditar no seio da UE, em seu benefício exclusivo, as regras e os tempos de resposta à crise – ameaça esboroar-se, em breve, perante o avanço alucinante que, nesse domínio, a China (e não só) tem vindo a imprimir em todos os sectores económicos. Depois de, na última década, ter arrasado o têxtil e dominado a electrónica, está já a avançar para o assalto final sobre o automóvel, a aeronáutica,...

As transferências de tecnologia – por deslocalização de empresas ou por contrapartida negocial aos apoios concedidos – são mais uma consequência na lógica desta globalização comandada pelo capital financeiro e onde, paradoxalmente (ou talvez não), a China ‘comunista’ adquiriu um poder incontestado. Mercedes e BM’s (ou equiparáveis) importados da China a preços das ‘lojas chinesas’? A Alemanha que se cuide, pois. Breve, breve, irá chegar a sua hora,... quero eu dizer, a dos seus trabalhadores!

Mas se a Alemanha consegue apresentar, por enquanto, uma aparente unidade de interesses entre capital e trabalho, mercê do seu histórico avanço tecnológico, entre nós o aprofundamento da crise tem servido – estranha ironia – para finalmente se exporem, em perspectiva e dimensão mais próximas da realidade, as gritantes disparidades que atravessam a estrutura social portuguesa, tornando cada dia mais ridículo o discurso de um pretenso destino comum ou colectivo – como se não existissem classes e estas não traduzissem realidades sociais bem distintas. Pois que dizer então da ultrajante insistência com que políticos, empresários e comentadores (os mesmos do costume) pretendem amalgamar o jogo de interesses contraditórios numa estranha toada de pendor nacionalista, sempre que se preparam para impor ao país medidas de maior austeridade, que no final apenas sobrecarregam os mais desfavorecidos?

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

(Des)Esperança ...


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um 'não'.
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

(Fernando Pessoa)

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Uma questão de ilusionismo (?) ...


“ … 61 por cento dos 2,2 mil milhões de euros destinados a combater a crise foram parar ao sector bancário”
É – tal como disse uma vez o “outro” – só uma questão de fazer (as) contas …
Dito isto : continuemos, então, com as Boas Festas !!!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

As falsas evidências do senso comum: equívocos ou imposturas? – II

A maior das imposturas!

A segunda falsa evidência gira em torno do decantado papel da produtividade, já por mais de uma vez aqui abordado – mas nunca por demais evidenciado. Porque da comparação estatística com os valores internacionais equiparáveis, os obtidos internamente saem normalmente a perder, logo se pretende extrair como única conclusão que ‘os trabalhadores portugueses ganham acima do que produzem’, pelo que a solução inevitável (!) para garantir a indispensável competitividade externa passa pela ‘desvalorização/redução dos custos (!!!) laborais, das remunerações’.

À parte o ‘pormenor’, bem elucidativo e ainda há pouco tempo evidenciado por Bruto da Costa, de os rendimentos do trabalho serem considerados um ‘custo’ para a empresa – quando os ganhos do capital se traduzem por ‘benefícios’ – o que mais importa aqui realçar agora é a fraude que se acoberta por detrás desta aparente evidência do senso comum: a escassa (ou menor) produtividade resolve-se sobretudo cortando nos referidos ‘custos’ do trabalho, ou seja, reduzindo os salários (sob formas diversas).

Ora, já por aqui o expressei em diversas vezes, as razões da baixa produtividade nacional não radicam num menor esforço do trabalho, mas antes nos obsoletos processos de gestão e organização empregues na esmagadora maioria das empresas portuguesas. Ainda não há muito tempo referi que ‘a causa da baixa produtividade não está em trabalhar mais, mas em trabalhar melhor, não está em despender mais esforço, mas em reproduzir esse esforço de uma forma mais organizada. O problema é, mesmo, ORGANIZAÇÃO’. O que permite afirmar não serem os trabalhadores em geral os principais responsáveis por esse atavismo nacional que nos penaliza na comparação internacional, pois ‘se a ‘culpa’ é da organização – ou da falta dela – então os ‘culpados’ são, em primeira instância, os... gestores e organizadores, todos os que têm de a formular, planear e aplicar, enfim, os decisores em geral (...)’!

Porque só detectando correctamente as causas da menor produtividade evidenciada em parte significativa das actividades nacionais é possível estabelecer as medidas certas para, em cada caso, a aumentar e assim eliminar as diferenças de competitividade que hoje se verificam para os principais parceiros comerciais do País. E que alimenta o discurso dos que pretendem explicar os atrasos no seu desenvolvimento com base no estafado e falso argumento de que ‘o nível de salários dos portugueses está desfasado do da produtividade’, para justificar a redução salarial (ou tentar a sua desvalorização sob diversas formas), pondo-se eles próprios a salvo de qualquer beliscadura nas suas regalias.

Daí ter adiantado, na sequência do então referido, que ‘os principais responsáveis pela tão persistente e vilipendiada baixa produtividade são os mesmos que a invocam como argumento (dá jeito em momentos como este), para extraírem mais umas migalhas aos milhões de pedintes em que o país se vai transformando... presumidamente por falta dela. Porque de um modo geral são eles que têm governado o país, definido e imposto – dela se servindo – esta ORGANIZAÇÂO: tanto no Estado, como nas empresas, a nível da sociedade global!

Não consta que, após a crise ou por força dela, tenha ocorrido alteração significativa ou sequer algum movimento importante nas remunerações dos gestores, públicos ou privados, sobretudo nos sectores de que se reclama padecerem de baixa produtividade e até nas empresas que apresentam prejuízos de milhões. A esmagadora maioria deles continua a usufruir do mesmo nível de regalias que, em boa medida, contribuiu decisivamente para o descalabro financeiro que conduziu à crise!

E que faz de Portugal o País da UE onde são maiores as desigualdades sociais – com tendência para o seu agravamento!

(...)

sábado, 25 de dezembro de 2010

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

As falsas evidências do senso comum: equívocos ou imposturas? – I

Os equívocos

O actual contexto político, pródigo em incertezas, grande desorientação, muita desilusão e não menor insatisfação, é propício também e talvez por isso, à aceitação fácil das falsas evidências com que os poderes instituídos contam para o eficaz controle dos seus subordinados. Apresentadas sob a forma de raciocínios simplistas e enraizadas na opinião pública por pressão constante dos ‘fazedores de opinião’, fazem parte do esquema mental que nos pretendem incutir de não haver alternativa social às ‘inevitáveis’ soluções do mercado. Tudo é feito, pois, em nome do mercado.

São sobretudo dois os equívocos que vêm pautando o quotidiano das ideias feitas e que mais importa desmontar, até porque deles invariavelmente se extraem consequências ou assentam medidas cuja necessidade se pretende justificar (quando não mesmo impor) como evidências naturais e inevitáveis:

O primeiro pretende que tudo o que acontece de mau no país é da responsabilidade do Governo e, por extensão, do Estado. Isso significaria então que bastaria uma simples mudança do Governo para que tudo mude ou, pelo menos, melhore.

O segundo diz respeito à origem da desgraça: tudo, afinal, se resume às atávicas diferenças de produtividade com os nossos concorrentes ou parceiros. Logo, conclui-se, o que importa é desvalorizar o trabalho tanto quanto for necessário para nos podermos equiparar (ou pelo menos aproximar) aos nossos mais directos competidores.

Cada um destes pontos carece de um pequeno comentário mais.
O papel que o Estado deve desempenhar nas sociedades modernas é, por agora, tema dominante e referência obrigatória nas análises efectuadas sobre as múltiplas questões sociais, ainda que pairando as mais das vezes de forma apenas subliminar, o que demonstra a universalidade da sua pertinência. Invocado seja para se evidenciar a sua necessidade imperiosa ou a sua dimensão desmesurada, para acentuar a imprescindível função regulatória de que se não prescinde (embora em graus diversos) ou a sua asfixiante omnipresença na vida das pessoas. Isso deve-se, antes de mais, ao crescente peso que tem vindo a ganhar sobretudo desde que lhe foram atribuídas as funções sociais, antes reservadas ao estrito âmbito da assistência meramente caritativa (logo, facultativa).

Não admira, pois, que quando se trata de encontrar explicação para o descalabro actual os olhos se virem, invariavelmente, para os responsáveis governamentais tidos, em última análise, como os caucionadores, quando não mesmo os fautores, de todas as desgraças que acontecem. Não deixa de haver algum fundamento nesta simplificação, pois que se firma na perspectiva, afinal bem razoável, de que as escolhas políticas deveriam ter capacidade para impor os seus pontos de vista sobre as restantes componentes da vida, na ilusão de que aos cidadãos-eleitores, através dos seus eleitos, caberia orientar e controlar politicamente os diferentes aspectos sociais, incluindo a economia. Mas não é assim que acontece, como se sabe.

O que a realidade comprova é que a rotatividade dos partidos do centro – PS/PSD (com ou sem o pendura do costume, o CDS) – a que esta democracia nos parece haver condenado, tem-se resumido a gerir, de forma mais ou menos (in)competente e com menos ou mais corrupção, as funções de um Estado cativo de um sistema económico que tudo comanda e que efectivamente governa. Com efeito são os ‘mercados’, mais que quaisquer políticas ou tendências ideológicas, que ditam as soluções a adoptar e as medidas a tomar. Que definem as regras e traçam os limites, que concedem as benesses de uma expansão económica ou impõem os danos das restrições financeiras. Em suma, que elegem os beneficiados e designam os punidos.

Afinal a única verdadeira vantagem desta desengonçada alcatruz reside apenas na periódica substituição da plêiade de serventuários e demais agentes do Estado – vantagem que, nas actuais circunstâncias, está longe de poder ser menosprezada.

(...)

Sem comentários ...


Ora, limite-se a ouvir ... e desfrute, clikando AQUI

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A verdade ganhará sempre


"Em 1958 o jovem Rupert Murdoch, então proprietário e editor de The News de Adelaide, escreveu: “na corrida entre segredo e verdade, parece inevitável que a verdade ganhe sempre”.
A sua observação talvez reflectisse a revelação do seu pai, Keith Murdoch, de que as tropas australianas estavam a ser sacrificadas desnecessariamente nas costas de Gallipoli por comandantes britânicos incompetentes. Os britânicos tentaram calá-lo, mas Keith Murdoch não se deixou silenciar e os seus esforços levaram ao fim da campanha desastrosa de Gallipoli."

Por Julian Assange, publicado no The Australian
(via: esquerda.net )

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O bluff da produtividade (?) ...


"Uma tentação imediata do nosso tempo é o desperdício.
Não é só resultado duma invenção constante da oferta que leva ao apetite do consumo, como é, sobretudo, uma forma de aristocracia técnica.
O tecnocrata, novo aristocrata da inteligência artificial, dos números e dos computadores, propõe uma sociedade de dissipação. Propõe-na na medida em que favorece os métodos de maior rendimento e a rapina dos recursos naturais. As hormonas que fazem crescer uma vitela em três meses, as árvores que dão fruto três vezes por ano, tudo obriga a natureza a render mais.
Para quê?
Para que os alimentos se amontoem nas lixeiras e os desperdícios de cozinha ou de vestuário sirvam afinal para descrever o bluff da produtividade"
Agustina Bessa-Luís, in "Dicionário Imperfeito"

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acontece(u) ...


Traido pelo coração, Carlos Pinto Coelho faleceu ...
Morreu, o Carlos, vivenciando o (seu) ofício, no (de)correr da (sua) profissão de Jornalista.
Carlos Pinto Coelho, foi um Senhor Jornalista, um Homem de (e da) palavra ...
Um Governo do PSD - de triste, muito triste memória - silenciou-lhe a "voz", acabando com o "Acontece", o melhor - de longe - de todos os Programas que, até ver, e do ponto de vista de/da Cultura, se realizaram em Portugal.
Carlos Pinto Coelho, com um estilo muito, muito peculiar, sabia conversar, inquirir e, acima de tudo, rasgar horizontes ...
Acontece(u) que o coração do Carlos, velhaco, e sem qualquer aviso prévio, acabou por lhe tramar ...
Carlos, até sempre !!!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ser ou não ser


Qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.
Se os novos partem e ficam só os velhos
e se do sangue as mãos trazem a marca
se os fantasmas regressam e há homens de joelhos
qualquer coisa está podre no Reino da Dinamarca.

Apodreceu o sol dentro de nós
apodreceu o vento em nossos braços.
Porque há sombras na sombra dos teus passos
há silêncios de morte em cada voz.

Ofélia-Pátria jaz branca de amor.
Entre salgueiros passa flutuando.
E anda Hamlet em nós por ela perguntando
entre ser e não ser firmeza indecisão.

Até quando? Até quando?

Já de esperar se desespera. E o tempo foge
e mais do que a esperança leva o puro ardor.
Porque um só tempo é o nosso. E o tempo é hoje.
Ah se não ser é submissão ser é revolta.
Se a Dinamarca é para nós uma prisão
e Elsenor se tornou a capital da dor
ser é roubar à dor as próprias armas
e com elas vencer estes fantasmas
que andam à solta em Elsenor.

Manuel Alegre

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Pela LIBERDADE, Sempre !!!


QUANDO UMA PORTA SE FECHA... DEZENAS DE JANELAS SE ABREM !!!
Assim, e por enquanto, a Liberdade pode(rá) passar por aqui :
http://savewikileaks.net/another-wikileaks-address/

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

SOS Racismo : 20 anos ...

Hoje, na Cinemateca, às 21h 30m:
. SOS Racismo, 20 Anos de Luta Contra o Racismo .
Documentário de : Bruno Cabral
Seguido de nove curtas-metragens realizadas por Manuel Mozos, Miguel Clara Vasconcelos, Sérgio Brás de Almeida, Raquel Freire, Susana Palmerston, Hugo G., Uncle C., Isabel Pato, João Dias, Tiago Pereira, Mito Elias.
Um resumo de vinte anos de actividade do SOS Racismo, contando a história da associação e relembrando alguns dos seus momentos decisivos.
A sessão prossegue com sete pequenos filmes expressamente realizados para evocar o 20º aniversário do SOS Racismo.

Depois, nos dias 8, 9 e 10 de Dezembro, no "Clube Ferroviário", muita Festa com musica, teatro, poesia etc,etc ...

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O reservatório inesgotável ( até ver ...) !!!


Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV:
• Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar [o contribuinte] já não é possível.
Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

• Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!
• Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis?
• Mazarino: Criam-se outros.
• Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.
• Mazarino: Sim, é impossível.
• Colbert: E então os ricos?
• Mazarino: Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
• Colbert: Então como havemos de fazer?
• Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tirámos. É um reservatório inesgotável.

( in Le Diable Rouge, de Antoine Rault )

domingo, 5 de dezembro de 2010

Violência das desigualdades, ‘fantasmas’ da burguesia

Um dos ensinamentos básicos da História, para quem estiver disposto a acatá-los, é que a realidade social é sempre mais complexa e dinâmica que os esquemas teóricos onde, por vezes, se tenta encerrá-la. A actual crise e a forma como ela tem sido tratada ao nível da decisão política e dos responsáveis económicos, vem proporcionando exemplos de sobra de como as melhores soluções práticas dificilmente se ajustam às fórmulas contidas nos bem elaborados compêndios universitários.

A economia clássica, como se sabe, teoriza(va) enfaticamente sobre as virtualidades criadoras dos ciclos recessivos: à destruição provocada pelas crises económicas (falências, desemprego,...), sucedia um novo ponto de equilíbrio, uma nova economia, mais dinâmica, mais produtiva, renovada. Isso até à grande crise de 29, que pôs o sistema à beira do colapso. Valeu-lhe, na emergência, um misto de realismo e de ousadia teórica, a acção política de Roosevelt e o pensamento de Keynes, o programa do New Deal e a ambição do Welfare State. Ao paradigma clássico do desenvolvimento natural do ciclo recessivo assente no ajustamento da oferta, Keynes contrapõe a necessidade de estímulos à procura, só possível através da intervenção externa do Estado. Soçobrou a teoria, mas salvou-se a economia e o sistema!

Durante perto de 50 anos prevaleceu o pragmatismo, mesmo quando, na aparência, isso implicava actuar contra a teoria. Até que, ignorando as cautelas impostas por aquela velha máxima, o proselitismo ultraliberal (com nomes e ramificações conhecidas, a sua origem remonta aos anos 30 – Colóquio Walter Lippman, em Paris – e fundação, em 1947, da Societé Mont-Pèlerin), que nunca havia desistido dos princípios teóricos clássicos, impõe os seus pontos de vista. A pouco e pouco foi-se consumando a ruptura do Pacto Social que emerge do pós-guerra – cuja base económica assentava nos princípios keynesianos de desenvolvimento. A inevitável desagregação social subsequente, potencia novas manifestações da violência inscrita nos genes de um sistema regulado pela competição (alimentadas, é certo, por múltiplos outros factores).

Desta acção resultou, em boa medida, a presente crise e a persistência de alguns dos principais impasses económicos e sociais. De entre todos e à cabeça, o grande dilema das sociedades actuais: onde e como ocupar de forma produtiva toda a população. No âmbito das correntes dominantes da economia, a única solução admissível, ainda que de efeitos temporários, passa por se retomarem as medidas de estímulo à procura, por via da intervenção do Estado, tal como propugna a teoria keynesiana para a saída do ciclo recessivo. Mas a resistência a esta perspectiva, por parte do actual poder neoliberal, torna cada vez maior a probabilidade de, no imediato, se aprofundar a catástrofe social e de os seus efeitos se protelarem indefinidamente.

Daí que, comece a equacionar-se e pareça já só fazer sentido uma solução de longo prazo, apenas possível com uma alteração radical da organização social, desde logo no que respeita à forma como o trabalho é encarado: de simples mercadoria em direito pessoal efectivo, tutelado pelo Estado, implicando, nomeadamente, a redução do tempo actual e a sua redistribuição, por forma a permitir-se o pleno emprego das capacidades humanas disponíveis e o acesso de todos, em condições de igualdade, às potencialidades presentes na sociedade. Qualquer outra alternativa não passará de paliativo temporário, destinada a fracassar e a, de forma recorrente, dar lugar a outra,... a mais outra,... Até ao colapso final?

Enquanto isso, não param de ser emitidos sinais inquietantes de um mundo em acelerada desagregação. O que se passa com as actuais guerras entre ‘gangs’ rivais – tenham eles a sofisticação das múltiplas máfias (russas, tríades chinesas ou cartéis da droga) ou o amadorismo ‘romântico’ dos simples ‘gangs’ de bairro – reflecte um pouco a tendência desagregadora para onde se orienta a competição fora do controle do Estado. Ou do espírito subjacente à decantada liberdade individual por trás da iniciativa e criatividade mercantis e dos negócios. O risco da violência descontrolada evoluir para uma situação de desagregação social próxima da anomia não é de todo ficcional...

Precisamente o medo de desagregação social (em resultado da aplicação das receitas liberais) - por potenciar a via revolucionária - renasce entre os mais lúcidos teóricos da burguesia. Remonta-se ao início do séc. XX, para onde somos remetidos pela comparação – exposta no último ‘Prós e Contras’ pelo liberal João Confraria – com o que se passa hoje a nível da desigualdade na distribuição do rendimento, porque ‘nalguns casos, adianta, a percentagem da riqueza que vai para o 1% mais rico da população é semelhante à de então’, ou seja, ao invés de diminuir, tem vindo a aumentar perigosamente! Por trás de uma postura teórica pretensamente asséptica, relembra que o actual nível de desigualdades é, como então, propício a ‘acontecerem coisas terríveis como a revolução russa e o que se lhe seguiu’. E avança explicando que ‘quando a desigualdade atinge níveis que as pessoas consideram insuportáveis ou indecentes, tendem a manifestar-se de forma pouco civilizada (!), embora com o apoio de aparelhos ideológicos mais ou menos estranhos (?). E é isso que temos de evitar’, conclui.

Afinal, a única preocupação por trás da prosápia condoída com que esta gente adorna os discursos sobre a desigualdade (e os seus efeitos) é mesmo e só, hoje e sempre, o ‘fantasma’ da revolução e o papão do comunismo!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Os Açores e a Segunda Guerra Mundial ...


Eis um filme/documento histórico da chegada dos Ingleses à Ilha Terceira aquando da Segunda Guerra Mundial...
http://www.britishpathe.com/record.php?id=12437

( enviado dos EUA/Boston, por e-mail, pelo meu Amigo Manuel Bonifácio )