domingo, 19 de julho de 2009

Leituras de Verão – 1

Bruscamente, no Verão em curso...

Ainda o Verão vai no começo e já foi farto em acontecimentos típicos do que se convencionou chamar a ‘silly season’. Então este, que antecede e prepara as eleições do próximo Outono, ameaça mesmo bater todos os recordes. Das abjectas provocações do biltre da Madeira (‘Quousque tandem Catilina – AJJardim – abutere patientia nostra?’), às expressivas e bem elucidativas ‘gafes oratórias’ da Manuela (que, por inabilidade da ‘Senhora’, nunca querem dizer o que afinal disse – Pacheco Pereira ‘dixit’, arvorado em intérprete autêntico dos sentenciados disparates da líder!!!); da programática desregulação instituída (e imposta à revelia, soube-se agora, das mentes mais desprevenidas!), às diversas propostas da regulação a instituir (face ao regulador automático do sistema, o mercado, uma contradição sistémica?);...

Por agora, prefiro voltar-me para temas mais interessantes do que os que esta amostra pressagia. Registo, por exemplo, três novos títulos no panorama editorial português, de relevante importância para a crise – referência obrigatória da nossa actualidade – mas sem com ela se relacionarem directamente. Refiro-me a:
- COMÉRCIO JUSTO PARA TODOS, de Joseph Stiglitz & Andrew Charlton, com prefácio de Fernando Nobre
- A DOUTRINA DO CHOQUE – A ascensão do Capitalismo de Desastre, de Naomi Klein
- O DESAFIO GLOBAL – Como enfrentar as Alterações Climáticas criando uma nova Era de Progresso e Prosperidade, de Nicholas Stern, com prefácio de Viriato Soromenho Marques.

Os dois primeiros correspondem à versão portuguesa de títulos saídos originalmente ainda antes da eclosão da crise actual. Não se percebe, por isso, o atraso do primeiro – que data de 2005 e cuja edição nacional se encontra pronta desde Jan.2007!!! – e muito menos se admite a indigérrima (para não dizer miserável) tradução do segundo – que mais parece saída do tradutor automático de línguas do ‘Google’ (é nestas alturas que lastimo não dominar bem o inglês)!

O contributo de todos para a discussão a fazer sobre as saídas da crise afigura-se por demais oportuno. Deste ponto de vista, posso até vislumbrar alguma utilidade no atraso da versão portuguesa do livro da Naomi Klein. Numa altura em que ressurgem as investidas de retorno às fórmulas neoliberais para resolver a crise (de que, afinal, são os principais responsáveis), ganha ainda maior sentido a tese do livro, segundo a qual a teoria – e a prática – do ‘mercado livre’ se tem imposto como inevitável a partir da criação de choques ou de desastres habilmente aproveitados como oportunidades pelos seus acérrimos defensores. Como na tragédia de Nova Orleães, subsequente ao Katrina, em que o desmantelamento do sistema educativo público foi aproveitado para a sua violenta privatização pelos homens de mão de Bush – a famosa ‘folha em branco’ redesenhada pelos idealistas do mercado. Ou ainda, ‘arrasar para fazer tudo de novo’, o programa liberal que esteve por trás da infame campanha do Iraque! Transformar tragédias em oportunidades, desastres em chorudos negócios – eis, pois, o supremo propósito ultraliberal, que, para tal, não hesita em provocar essas situações dramáticas (como aconteceu no Iraque)!


É nessa perspectiva que os olhares gulosos dos neoliberais se derramam, cúpidos, sobre o potencial de negócios proporcionado pela crise actual!

O último dos três títulos indicados – O DESAFIO GLOBAL – é também o único em que parece não se ter perdido tempo sobre a data de saída do original (2009). Talvez pela percepção de que a sua consideração como elemento essencial para a resolução da crise é não só óbvia como sobretudo urgente. Talvez então convenha voltar a ele.

Sem comentários: