A mensagem por trás da caricatura
Na entrevista de Soares a Chavez, sobram motivos de interesse para uma reflexão mais cuidada, a partir tanto do discurso nela veiculado como de tudo o que a envolve, muito para além, certamente, das tricas urdidas pelos turiferários de um pensamento único castrador, impositivo e absorvente, que contamina até parte significativa da própria esquerda, sempre pronta a enfileirar no politicamente correcto de um discurso simultaneamente anti-Bush e anti-Chavez. Porventura por não apreciar o populismo que se diz ser o caldo de cultura de que se alimenta este último, incluindo as constantes diatribes e impropérios (talvez até por este tipo de excessos) por ele lançadas ao primeiro. Sem perceber, enfim, que a pureza ideológica não ganha revoluções, pois dificilmente se coaduna com a complexidade da realidade social.
Pelo que a entrevista permite avaliar, dá para perceber que, afinal, a sua preparação ideológica, não é tão falha como algumas das caricaturas ‘trabalhadas’ que nos chegam podem fazer supor. Pelo contrário, em tom calmo e ponderado (longe, portanto, dos estereótipos criados à sua volta, alguns, valha a verdade, de sua responsabilidade), Chavez conseguiu transmitir, com firmeza e forte convicção, uma mensagem política bem esquematizada, pontuada por ideias fortes e devidamente arrumadas.
Do seu conteúdo sublinho aqui duas ideias chave, ambas entroncando, faz questão de acentuar o próprio, na tutelar matriz bolivariana de independência, onde pesam, ao mesmo nível, os inseparáveis ideais de liberdade e igualdade:
– A recusa de modelos externos na construção do socialismo: há que inventar o socialismo todos os dias e construí-lo na combinação permanente entre liberdade e igualdade, pois sem liberdade não há socialismo (na URSS – afirma – não houve socialismo), mas sem igualdade não há liberdade.
– O esforço em que se tem empenhado da integração regional sul-americana, à semelhança da Europa e de outras tentativas esboçadas em várias regiões do mundo: a forma de contrabalançar o actual poderio unipolar do Império norte-americano, passa pela constituição de uma organização multipolar do poder mundial.
A quem o acusa de ditador contrapõe a sua luta contra todas as ditaduras que nos foram sendo impostas: a ditadura do mercado, a ditadura do imperialismo, dos grandes meios de comunicação social, das grandes corporações mundiais, do pensamento único.
Populista? Talvez. Excessivo? Sem dúvida. Mas como não comungar, no essencial, destes objectivos?
António José Seguro ou um Almirante?
Há 4 horas
2 comentários:
Meu caro,
Eu, pela minha parte, estou cada vez mais "convertido"...
Entretanto, havia reclamado junto do Provedor da RTP o facto, desta, não ter disponivel (em arquivo) a entrevista de Mário Soares a Hugo Chavez.
Acabo de receber o seguinte e-mail do Gabinete do Provedor:
Em nome do Provedor do Telespectador, agradeço-lhe o mail que nos enviou.
Relativamente à questão que nos coloca, deverá pesquisar com mais atenção pois acabei de confirmar que nada de errado se passa com a entrevista em questão na área multimédia da página da RTP.
Com os meus cumprimentos,
Pel’ A Chefe de Gabinete
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Acontece que estive, por lá, no sítio da RTP a "navegar" e NADA...
O problema pode(rá) ser meu, mas vou, de novo, reclamar.
Ás vezes interrogo-me, como não ser excessivo, nas palavras pelo menos, naquele contexto. Agora, os americanos arranjaram outra forma de pressão: reactivaram a IV esquadra da Marinha para as Caraíbas
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