quinta-feira, 17 de julho de 2008

Os fundamentais do fundamentalismo e as cantigas do Prof. Cantigas

De vez em quando deparamos na televisão com autênticas figuras de opereta a tentarem interpretar peças para as quais não têm o mínimo de qualidades canoras. Foi o caso, ontem, de um professor do ISEF, ‘Cantigas’, de seu nome, que da cantiga em palco apenas decorou o refrão. Ou pelo menos não conseguia (ou não sabia, não queria,...) sair dele. De modo que, fosse qual fosse a deixa, a resposta ia dar sempre ao mesmo: ‘A oferta e a procura. São os fundamentais da economia . A explicação está nos fundamentais’. E martelava obsessivamente no estribilho como se de uma explicação matemática se tratasse, ao mesmo tempo que parecia sorrir. Sorria de quê, afinal? Da santa ignorância de uns? Da resistência à evidência de outros?

Tudo isto a pretexto das projecções macro-económicas do PIB e da inflação anunciadas pelo Governador do BP. Pelo meio, muitas considerações a propósito, que invariavelmente tinham sempre como refúgio a explicação sacramental: esquecemos os fundamentais (por um lado), a oferta e a procura (por outro). Papagueado com esta insistência, o matraqueado refrão explicava tudo: a subida da Euribor, o aumento dos combustíveis, a crise alimentar, as inundações na China (perdão, entusiasmei-me, esta não consta das citações do Prof. Cantigas).
O entrevistador (Mário Crespo) quis saber mais sobre a crise alimentar, a sua relação com a crise da energia. Já não preciso os termos exactos da resposta, mas a sua cartilha reza mais ou menos que: por um lado o aumento da procura do petróleo provocou a subida do seu preço e a escassez de combustíveis no mercado mundial; por outro, a abundância de cereais (lá está, excesso na oferta) propiciou de forma natural, racional e lógica (!!!) o desvio de parte dos stocks cerealíferos para a produção de biocombustível. O Crespo ainda tentou contrapor: mas a subida dos preços alimentares daí decorrente não afectou sobretudo os pobres? (Espaço para o convencido professor se recompor).‘Pobres? Pobres sempre os haverá’!

É confrangedor assistir às cambalhotas a que se sujeitam estes fundamentalistas – por via dos ‘fundamentais’ da economia, que tanto invocam! – apenas para manterem um simulacro do ‘equilíbrio perfeito’ da pomposa, pretensiosa e muito pobre ‘lei da oferta e da procura’. A que ‘os pobres’, por definição, não têm acesso, nem do lado da procura, muito menos do lado da oferta.

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Por aqui, algures no Atlântico, não vi, ontem, a SIC/Noticias e, assim e por isso, fui poupado à "actuação" desta criatura, deste tal "professor"...