(A conselho do meu amigo Zé Sousa, aqui vai, com ligeiras adaptações, o comentário que havia produzido para um texto da sua autoria – ‘12,3%!’)
Assiste-se, hoje, diariamente, no comentário dito especializado sobre a CRISE (que a tanto obriga as intermináveis incidências desta), a uma espécie de pantomina ou ópera-bufa, não pelo tema escolhido, trágico de mais para se poder prestar à galhofa, mas na embiocada forma de tratamento dos comentários que pretendem explicá-la; não que a crise tenha produzido ou fosse pretexto para o aparecimento de uma nova espécie de comentador, mas porque os mesmos de sempre dão mostras de um contorcionismo tal que mais nos reportam ao circo que ao palco da vida.
A maioria destes empertigados comentadores – catedráticos, gestores de topo, técnicos altamente qualificados, ‘opinion makers’,... – recusam-se a aceitar, antes de mais, que erraram (ou que estavam errados); e depois, que é necessário alterar os mecanismos que conduziram à crise (quando muito, aceitam alguns retoques!). O mais grave é que mesmo antes de se discutir que tipo de alterações ou que tipo de mecanismos devem ser alterados, recusam-se simplesmente a aceitar o erro em que viveram dezenas de anos – o tempo das suas vidas, afinal!
Só conseguem raciocinar no contexto do mercado, de acordo com as reacções do mercado, ficam impotentes perante o mercado, pois este é que manda,... mesmo quando os mandar, presumo, atirar-se de uma ponte abaixo! Só que a realidade tem-se encarregado de empurrar todas as suas magníficas intenções e desastrosas decisões para além do que eles alguma vez imaginaram poder acontecer.
Até onde é que isto nos conduzirá? Ninguém o sabe neste momento, mas a posição deles mantém-se inalterada, puramente expectante: acreditam piamente (a sua sobrevivência continua a depender desta posição de fé!) que, passada a convulsão, tudo voltará a ser como dantes!
O debate no último ‘Expresso da Meia-noite’, da SIC, foi deveras elucidativo. Os entrevistadores, cépticos como qualquer mortal perante tudo o que está acontecer e no seu papel de lançar dúvidas e pôr questões, bem solicitavam dos 3 representantes da ‘situação a que isto chegou’ – precisamente um teórico, um técnico e um gestor, todos do topo – explicações convincentes para o que sucedeu e perspectivas para sair da crise. Todos eles se mantiveram irredutíveis e alinhados, recusando-se a encarar a realidade, preferindo construí-la à medida dos seus desejos! É certo que correm o risco de ela lhes cair em cima, porque ultrapassados por ela já o foram, mas não o admitem!
Na ausência de uma resposta satisfatória deste lado, viraram-se então para Louçã, a arcar sozinho as despesas da chamada à realidade e o ter de enfrentar estas ‘trutas matreiras’ – se bem que atordoadas pela avalanche de acontecimentos que, à revelia do que consta nos cardápios tradicionais, teima em não reagir às habituais receitas liberais!
Mas foi bonito de ver o encabulamento dos ‘três’ perante as explicações claras do Louçã, tanto na questão dos off-shores, como na proposta de utilização da (pública) CGD como instrumento de política no apoio à economia. Nem sempre as prestações do Louçã me convencem cabalmente, mas há muito tempo que não via um debate com tanto interesse, não obstante ter sabido a pouco. O Louçã ganha muito com este formato de discussão, pois é aí que ele pode expressar melhor a sua natural propensão para a exposição pedagógica, na dialéctica da argumentação.
Da outra parte, o habitual e estafado refúgio nas razões do mercado! Chega de atirar areia aos olhos das pessoas. Até os entrevistadores, a parte aparentemente mais neutra nesta discussão, sentiam necessidade de se voltar para o Louçã, na expectativa de, perante este contínuo esboroar do sistema económico, encontrarem respostas racionais e com algum sentido – e não apenas a insatisfação dos chavões do costume.
Quanto ao Duque, já por aqui bastas vezes referido e causticado, está a transformar-se, mesmo, no paradigma da casmurrice (será o reflexo dos óculos que o ofusca?). A rematar a vacuidade de afirmações produzidas, a ‘frase sensação’: “ A sensação (!) que eu tenho é que a Humanidade (??) não quer sair do modelo” (!!!). Até o ‘Ricardo Costa’ ripostou, incrédulo: “Não saímos já?”
A propósito: existe alguma diferença entre casmurrice e estupidez?
domingo, 8 de março de 2009
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1 comentário:
Para quem perdeu o programa, podem vê-lo aqui
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