Bento XVI está em cruzada por África.
Uma região dotada de importantes recursos naturais, mas onde impera a fome, a doença e a miséria;
onde os muito ricos são uma minoria, enquanto os pobres, os muito pobres são a grande maioria;
onde, sem princípios e quaisquer escrúpulos, o poder é exercido por uma oligarquia que enriquece a olhos vistos e, como no caso de Angola, o mais alto magistrado da Nação se perpetua em funções sem que, para o cargo, tenha sido democraticamente eleito…
E, assim, e por isso, os pobres projectam e hipotecam as suas perspectivas de futuro na religião.
E se a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) não cumpre e tão pouco lhes dá esperança, outras religiões e seitas vão tomando o seu lugar, com projectos e propostas novas, embora do mesmo modo sem quaisquer consequências para a qualidade de vida material e espiritual dos respectivos fieis.
E é provavelmente preocupado com esta sangria, com a concorrência de outras religiões e seitas, que Bento XVI , agora e em cruzada, visita África para tentar separar o trigo do joio, qual guardião da “moral e dos bons costumes”… mas sem, pelos vistos, apresentar qualquer mensagem nova.
E porquê ?
Porque a ICAR não tem uma qualquer mensagem nova.
Estamos, infelizmente, perante o pior de Joseph Ratzinger - quando, e convém não esquecer, por 23 anos, foi o patrão e ideólogo da Congregação para a Doutrina da Fé ( o ressuscitar da tenebrosa Inquisição ) – e, agora, qual Inquisidor-Mor entende e defende, em África, que :
“a tragédia da Sida não pode ser resolvida só com dinheiro, nem pode ser resolvida com a distribuição de preservativos que pode até aumentar o problema”
Ora, numa Região onde o flagelo da Sida é manifestamente preocupante e as campanhas da Organização Mundial da Saúde (OMS) até têm tido resultados positivos, o papa, em pleno Século XXI, professa que :
“ … só os ensinamentos da ICAR são o único modo seguro de prevenir a disseminação da doença”
Pela minha parte, estou devidamente esclarecido quanto aos propósitos de Bento XVI – que, neste caso, teimo em não confundir com a ICAR - e não espero, por uma questão de cobardia politica, que José Sócrates e este Governo, tenham qualquer reacção de condenação às declarações de Ratzinger quanto ao (não) uso do preservativo, tal como, de resto, outros Governos Europeus já o fizeram.
Afinal, o que é que podemos esperar do chefe da ICAR que cultiva o ritual por não ser capaz de, coerentemente e com resultados práticos, se colocar ao lado dos pobres e oprimidos contra a arrogância das injustiças ?
Não fora a temática da Sida um assunto demasiado sério e preocupante e faria minhas as palavras do teólogo Juan Masiá quanto à doutrina de Ratzinguer :
- “ não se sabe se havemos de rir ou de chorar …”
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2 comentários:
Sempre achei o actual Papa, um ser sinistro. O comentário dele enche-me - e a todos os católicos responsáveis, creio -,de vergonha.
Decididamente, a Igreja dos Papas (e da maior parte dos bispos) não consegue aprender nada com a História. Mais que não fosse, o episódio de Galileu devia impor a essa Igreja mais prudência nas afirmações produzidas.
É claro que posições como esta (sobre o uso profilático do preservativo) ou como a que há poucos dias um bispo brasileiro protagonizou (sobre a excomunhão aplicada aos envolvidos num aborto por razões de saúde) apenas contribuem para descredibilizar ainda mais essa Igreja (porque sei que há fiéis - de uma 'outra Igreja'? - que condenam tais atitudes) e afastar as pessoas sensatas das práticas religiosas.
Assim, não fora o lado desumano e até macabro de tudo isto, eu diria que, afinal, nem tudo se perde quando estes decrépitos responsáveis da Igreja decidem emitir estas opiniões insensatas - quando até o mais prudente seria nem se pronunciarem! - existe também um lado positivo nas suas intervenções: o das pessoas verem, através destes episódios, que espécie de gente é realmente esta!
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