Os episódios da crise sucedem-se e não dão mostras de abrandar. Ontem foi, mais uma vez, um ‘dia negro nas Bolsas de todo o mundo’ (assim foi noticiado pelos ‘media’). Esta queda generalizada apresentou mesmo valores inéditos na de Lisboa, a rondar os 10% – a maior de sempre na história do PSI 20 – mas foi igualmente muito acentuada nas restantes, com valores também não muito diferentes.
Percebe-se o avolumar da preocupação e com toda a razão, dos depositantes e pequenos aforradores (dos depósitos aos PPR’s), apreensivos com a segurança das suas economias, cada vez mais difícil de garantir perante o desmoronar de um crescente número de empresas financeiras aparentemente sólidas e o desconcerto que parece reinar entre os responsáveis políticos, até ao momento mais empenhados em valorizarem os seus próprios problemas, em lugar de planearem acções conjuntas e de fundo – o que se enquadra perfeitamente nas características de um sistema que valoriza o imediato e o ‘salve-se quem puder’, sobre os interesses colectivos e o sustentável. A desorientação parece ter sido a nota dominante ao longo de todo o dia, com os responsáveis num autêntico virote e frenesim de declarações avulsas e descoordenadas, completamente submergidos pela avalanche de acontecimentos negativos que se iam sucedendo, bloqueados pelos seus próprios esquemas mentais, a um tempo presos no emaranhado de interesses que ajudaram a forjar e incapazes de se libertarem das amarras ideológicas tecidas em torno dos ‘fundamentais do mercado’ !!!
É neste contexto que surgem as declarações do Ministro Teixeira dos Santos procurando sossegar os ânimos ao afiançar que as poupanças dos portugueses “estão garantidas, aconteça o que acontecer”. Só não disse como, nem se, nessas circunstâncias, a inviolabilidade dos princípios que tem seguido na redução do déficit é para manter ou se este é o caso que merece (finalmente) um tratamento de excepção. Porque, já agora, seria muito importante avaliar-se o efeito de (pelo menos) algumas das políticas de redução do déficit na actual situação de anemia económica do país – e o país são, neste caso e antes de mais, as centenas de milhares de desempregados que, ano após ano, desesperam!
Ainda que sem aparente relação com isto, no mesmo dia é tornado público um estudo encomendado pelo ACP dando conta de que afinal existe mesmo concertação de preços por parte das gasolineiras. Entre os ofendidos desmentidos das visadas e os dados do estudo, permanece sobretudo a convicção, generalizada e insofismável, de que alguém anda a abotoar-se com o dinheiro do consumidor final – todos nós, claro. É que, mesmo descontado o efeito da especulação no custo da matéria-prima, perante a acentuada queda desta nos últimos tempos, resta por explicar a razão da diferença de preços nos produtos finais de agora, comparados com os dos períodos em que tal custo era idêntico.
Mas o que me importa mais aqui destacar é a mistificação construída em torno da concorrência, quando o mercado é dominado apenas por dois ou três operadores: pura e simplesmente não existe! E lá se mandam mais uma vez às urtigas os princípios perante a doce realidade dos lucros obtidos a qualquer preço (literalmente!).
De uma penada, em dois casos paradigmáticos, o sistema – o mercado – vê os seus miríficos talentos coarctados na prática, sem que nenhum dos seus indefectíveis paladinos mostre sintomas de ‘arrependimento’ ou quaisquer indícios de poder vir a afrouxar na defesa da teoria. Como se comprova, entre tantos, pelo episódio (reportado noutra posta), do ‘Prós e Contras’, também de ontem.
O que é deveras preocupante, sobretudo porque importaria ultrapassar a crise em bases sólidas e duradouras!
Um parágrafo, dois gráficos, algumas palavras.
Há 21 horas
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