quarta-feira, 16 de julho de 2008

Os ‘benefícios’ da ‘mão-invisível’

Ao mesmo tempo que o governo norte-americano, mandando os princípios e a coerência às malvas, se prepara para evitar a falência de duas das mais importantes instituições de crédito na área do imobiliário, injectando no sistema um valor superior ao PIB português, salvando-o, por ora, de um sério trambolhão, do outro lado do Atlântico, aqui bem perto de nós, em Espanha, a Lusa anuncia: “O futuro de uma das maiores imobiliárias espanholas, a Martinsa-Fadesa, está em risco depois do valor da empresa em bolsa ter caído mais de metade desde quinta-feira devido a problemas financeiros e atrasos em pagamentos de créditos. Depois de uma queda de mais de 33 por cento nos títulos da empresa na passada sexta-feira, a sua cotação voltou a cair mais 24 por cento hoje, com a Comissão Nacional de Mercado de Valores (CNMV) a suspender o título”.
Hoje o ‘El País’ titulava na 1ª página que o gigante imobiliário se prepara para o maior acordo de credores da história da Espanha, ao mesmo tempo que começa a falar-se – e a temer-se – num eventual efeito dominó da crise do Martinsa!


Entre nós, entretanto, são ainda as manifestações dos agricultores (Fundão, Leiria,...), contra o preço dos combustíveis, que expressam melhor as ondas de choque que marcam esta crise mundial (descontando os efeitos ainda pouco claros da derrocada bolsista sem fim à vista). E contra quem, afinal, eles se revoltam? De quem é que eles exigem a descida dos preços? Do Governo. Mas não seria mais lógico, num sistema de livre iniciativa (como se pretende que seja este), que tais exigências fossem canalizadas para quem forma (ou manipula?) os preços, neste caso as empresas petrolíferas? Ou, vá lá, os Fundos de Investimento acusados de especularem à conta do preço do petróleo?
Certo certo é que o Estado não mexeu ainda nos impostos desde o início desta crise (a única componente do preço que dele depende) e, portanto, não pode ser a ele que se deve assacar a origem do problema actual. Então porque é que os manifestantes se voltam contra ele e ‘só a ele’ responsabilizam? Será apenas por uma atávica dependência estatal por parte dos portugueses, habituados há séculos a ‘mamar na teta do Estado’, como fazem questão de constantemente afirmar os que afinal mais beneficiam com o sistema (porque mais dependem do Estado) e, por enquanto, até com esta crise? Ou será porque se atribuem ao Estado poderes superiores a qualquer outra entidade, funcionando mesmo como refúgio em caso de aflição? Mas então porque é que o Estado não responde agora aos aflitos cidadãos?
Interrogações, incertezas, dúvidas e muita confusão instalada por conta das milagrosas receitas inspiradas na teoria do ‘equilíbrio perfeito’ – ou a crédito dos benefícios decorrentes do normal funcionamento da ‘mão-invisível’!

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

(Pre)sinto que "isto" está mesmo a estrabuchar...
Não tenho, infelizmente, é o engenho, a capacidade e a arte de saber quando ?..