A actual presidência da UE é exercida pela República Checa – o tal país que sem a muleta da ‘república’ não se consegue pronunciar, é mesmo uma ‘checa’ (peço desculpa pelo despropósito do comentário alarve!). O seu presidente, o ultra-liberal, eurocéptico e antiambientalista radical (para quem“o aquecimento global é um mito”) Vaclav Klaus, parece ter decidido aproveitar ao máximo os seus ‘cinco minutos de fama’, e tem-se multiplicado em declarações que, face aos desenvolvimentos recentes da crise económica internacional, com as responsabilidades já conhecidas a apontar no sentido unânime de um excesso de desregulação, no mínimo podem ser consideradas fora de tempo, ou então ânsia de protagonismo. O que explica ter sido definido como alguém “que se julga um génio não reconhecido”!
Após a sua inoportuna tirada sobre o que foi considerado um apoio incondicional à invasão de Gaza por Israel (em nome da UE?) – depois ‘obrigado’ a corrigi-la – já esta semana publica um artigo no Financial Times em que afirma que a crise económica é o resultado inevitável (e o ‘preço justo’ a pagar) pela forma como os políticos brincam com o mercado (!). Num rasgo de fervor inquebrantável na capacidade auto-reguladora dos mercados e apesar de esfarrapada a honra da doutrina por escândalos sucessivos, garante que, ele e o governo checo ao leme da UE, se oporão a mais regulação, novas nacionalizações ou maior proteccionismo!
Este programa político (ou carta de intenções, vale o mesmo) para os próximos seis meses, de uma União composta por 27 membros que não sufragaram tais disposições, diz muito do estado actual da democracia que se vive no espaço comunitário. Permite–se que este auto-iluminado, serôdio afilhado à cata das migalhas que caem da mesa dos ‘padrinhos’ neoliberais (o ‘Ladrões de Bicicletas’ designa-o por ‘O Ronald Reagan da Boémia’) e ainda quase mal acabado de chegar ao ‘grupo’, apareça a falar em nome de todos, à revelia da opinião... dos restantes 26! Dir-se-á que ‘os outros’, sobretudo os que realmente pesam, contam e mandam, pouco ou nada lhe ligam, o que ainda mais atesta a verdadeira dimensão e o real impacto das instituições europeias – à excepção do Conselho e do seu instrumento ‘técnico’ BCE!
Em tempo de crise, com Sarkozis, Merkels e C.ª, afanosamente apostados em procurar remendar, da forma mais airosa possível (Conferência de Paris), o esburacado sistema em que ficou transformado o capitalismo por acção dos seus mais acrisolados defensores, os fundamentalistas do mercado, só cá faltava mesmo este abencerragem, aparentemente inebriado pelo pote de delícias imaginado durante o longo tempo da ditadura, para ressuscitar fórmulas desgastadas e perigosas, tecidas a partir das tresloucadas doutrinas da desregulamentação financeira e da sua extensão natural aos domínios social e ambiental. Em nome de uma única regra: o livre arbítrio do clássico ‘laissez-faire’...
Numa altura em que mais se impunha clarividência ou pelo menos algum bom senso que permitisse, na condução formal do processo, a criação de condições propícias à busca de soluções alternativas minimamente aceitáveis (do ponto de vista do sistema, longe, portanto, de quaisquer rupturas radicais) a um modelo que, é hoje consensual, empurrou o mundo para um beco de difícil saída, afinal, contra todas as lógicas e avisadas cautelas, sai-me este avantesma!
Já não bastava que 2009 se apresente como o ano de todos os perigos, ainda cá faltava mais esta ‘prenda’! Vamos ter mesmo que o aturar durante os próximos s-e-i-s meses?
Um parágrafo, dois gráficos, algumas palavras.
Há 15 horas
1 comentário:
Meu caro,
É o nosso "fado"; pois lá teremos que "levar" com Vaclav Klaus por uns longos e titubeantes seis meses onde - oxalá muito me engane - muitas e outras "tiradas" ocorrerão ...
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