quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A reforma ‘capitalista’ do capitalismo – I

Os princípios já desvendados

Após a hecatombe da crise financeira mundial e ainda na expectativa sobre a dimensão dos seus efeitos na economia real (que não pára de continuar a assustar), as atenções dos responsáveis políticos parecem cada vez mais concentradas na forma de resolver as trapalhadas criadas por um sistema que, deixado à sua dinâmica própria – sob comando do mercado auto-regulado – já perceberam poder conduzir à sua destruição. Para o evitar, concluíram ser indispensável avançar para a reforma do capitalismo (refundação, na terminologia de Sarkozy, um dos seus mais activos promotores), a qual, de acordo com as intenções já expressas, nomeadamente na recente Conferência de Paris (como se verá mais adiante), deverá abranger os seguintes domínios:

institucional, desde logo com a admissão do ‘regresso da intervenção do Estado à vida económica’ (até há poucos meses tido como tabu pela ortodoxia dominante), mas também (ou sobretudo) a nível internacional, com a proposta de reorganização da arquitectura institucional das relações económicas internacionais;
político, através da ‘reformulação dos mecanismos da economia de mercado’, por forma a garantir-se mais e melhor regulação e a aplicação mundial de uma maior justiça social;
ideológico, apelando à reconversão ética dos valores por que se rege o sistema, admitindo penalizar a especulação e apoiar o esforço, tanto do trabalho como do empreendorismo.

A dimensão, primeiro, o impacto real nas sociedades, depois, são, para já, as principais incógnitas deste programa, ainda em esboço. Quanto à primeira, está por esclarecer qual o âmbito e a profundidade que a actual liderança do mundo – que, em grande medida (para não dizer na medida toda), se encontra nas mãos dos 7+1 países economicamente mais importantes, o designado G8 – irá decidir para concretizar estas intenções.

A resposta a esta dúvida só ficará devidamente esclarecida depois de Obama passar a integrar este restrito clube dos países mais ricos do Globo. De tal modo as expectativas nesta alteração são elevadas (não importa, para o caso, saber se com fundamento), que todas as decisões sobre uma eventual reformulação do sistema, em especial a reconfiguração das instituições mundiais, se encontra suspensa da tomada de posse do novo presidente norte-americano.

Apesar de duramente flagelado pela crise, de que é o principal responsável, a cabeça do império mantém intactas as suas prerrogativas de domínio, detendo, evidentemente, a última palavra nas modificações a introduzir na futura arquitectura institucional das relações internacionais. Nem sequer desvalorizadas pelas intenções já expressas pela nova administração de voltar ao multilateralismo nas relações internacionais (contra a imposição unilateral de Bush, dominante nos últimos anos), logo secundadas pelos avisos de Sarkozy e Merkel de que no novo capitalismo 'nenhum país pode dizer a outro como actuar' e que a solução para a actual crise passa por 'uma resposta mundial'.

Quanto ao impacto real desse programa, a resposta depende, antes de mais e logicamente, do tipo e dimensão das medidas que vierem a ser adoptadas pelas cúpulas dominantes do mundo. Neste contexto, desde logo será muito significativo, das intenções apregoadas, o tratamento que vier a ser dado aos ‘off-shores’ financeiros, a nível mundial. Ainda assim, dificilmente alguma dessas medidas poderá alguma vez pôr em causa, em nome da própria sobrevivência das elites que detêm o poder, o princípio dinâmico que rege as sociedades baseadas no mercado, ou seja, a criação do máximo valor num processo em que tudo é transformado em mercadoria – porque só tem valor o que pode ser transaccionado.

A menos que aconteça alguma catástrofe ou que a imprudência suscite algum lapso... Mas quem verdadeiramente ‘acredita’ nisso?

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu Caro,
Um único comentário:
- fico, então e com expectativa, à espera do II capítulo e, quem sabe, se do III e do IV e ...
CBS