O DN de domingo passado, 11 Jan/09, dedica uma página inteira a mais uma tragédia, das que ocorrem diariamente nas grandes cidades. Desta feita o título informava que uma “Rapariga fugiu do colégio e morreu carbonizada – Incêndio em prédio devoluto causa duas mortes”.
A insensibilidade perante a repetição deste tipo de notícias, apenas foi quebrada pela informação de que a “rapariga fugiu do colégio...”, o que me induziu a procurar no texto explicação para o sucedido. O que levaria uma miúda de 15 anos a preferir dormir num prédio abandonado, sem condições, nestes dias de gelo, precário abrigo dos sem-abrigo, ao eventual maior conforto do colégio onde se encontrava internada desde os 4 anos?
Descubro as razões no relato do pai, desempregado e junto de quem procurou apoio antes de se decidir pela solução fatídica. E fiquei a saber que ‘esta rapariga’ preferia tudo, incluindo dormir na rua, a ter de regressar ao colégio, porque ‘tinha medo das colegas mais velhas’!
Talvez a história devesse começar aqui, procurando saber-se das condições sociais que determinam sempre o mesmo tipo de vítimas. Ou então, aproveitando a ‘deixa jornalística’ proporcionada pela fuga ao colégio, das condições de vida existentes em muitos internatos (e não apenas na Casa Pia); das relações estabelecidas pelos adolescentes e dos códigos que as regem; da diversidade de comportamentos anti-sociais que se verificam nas escolas (violência, agressividade, coacção, humilhação...), reveladores de problemas psicológicos ou de carências de formação cívica (tolerância, direitos e obrigações,...); da constituição de ‘gangs’ organizados... Desse fenómeno que designam por ‘bullying’ (um estrangeirismo, mais objecto de tratamento analítico do que verdadeiramente atacado nas suas origens) e das causas do alheamento ou desvalorização deste fenómeno por parte da maioria dos educadores e professores, ao atribuírem tais manifestações ao processo normal de crescimento na adolescência (parecendo assim dar razão aos que os consideram, por esta altura, mais empenhados nas lutas corporativas do que nas educativas).
Os estudos existentes colocam Portugal em 4º lugar na Europa no que respeita à violência nas escolas. Contudo, é de temer que as situações de coacção psicológica ou mesmo física que acontecem entre os jovens possam ainda ser mais numerosas e de maior gravidade do que é dado entender nesses estudos (a estatística aponta para que 1 em cada 4 alunos seja vítima sistemática de alguma forma de agressão ou violência, com tendência para aumentar em número e frequência de ocorrências).
Mas a jornalista destacada para o tratamento da notícia preferiu enveredar pelo caminho do costume e situar-se sobretudo nas condições materiais do edificado em mau estado – uma realidade já tantas vezes causticada – e zurzir na Câmara que deixa ao abandono 4600 fogos devolutos, onde se torna possível acontecerem dramas de pessoas que apenas contam como números de estatísticas usadas para os mais diversos fins – menos para aconchegar pessoas com dramas. Perdeu, é certo, a oportunidade de averiguar das causas profundas que levaram uma jovem, numa fria noite de um Janeiro frio, a encontrar melhor refúgio numa dessas casas devolutas sem condições, do que as que lhe eram proporcionadas numa instituição em que, parece, alguém se esqueceu de dar o devido valor à crescente agressividade das relações entre os jovens.
Pobres Tamaras Sofias!
Um parágrafo, dois gráficos, algumas palavras.
Há 15 horas
1 comentário:
É, como refere, e muito bem, uma questão de INSENSIBILIDADE que, deagraçada e infelizmente, faz parte do (nosso) módus-viventi ... com o beneplácito implicito dos OCS que, cada vez mais, estão a tornar-se mais e mais INSENSÍVEIS.
Enviar um comentário