quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Banqueiros descarados

Não sei que mais admirar: se, aqui há tempos, o descaramento de João Rendeiro que, no próprio dia em que foi declarada a insolvência do Banco a que presidia, lançou um livro em que se propõe contar, na primeira pessoa, ‘a história de quem venceu nos mercados’ (!!), dando até conselhos para investir com segurança!!!; ou se, agora, a tocante ‘candura’ de Fernando Ulrich ao afirmar a vestal castidade, a virginal pureza, a imaculada ‘conceição’ do Banco a que preside, relativamente às tramas, artifícios e mil e uma manigâncias que conduziram à presente crise financeira!!!!!

A estes dois banqueiros exemplares e acima de qualquer suspeita, a estes dois impolutos intervenientes numa crise em que foram activos participantes – que, por sinal, vai ser paga por aqueles que para ela em nada contribuíram, não pelos que a causaram, a fomentaram e, pelos vistos, nela persistem – a vergonha não lhes tolda a ousadia, os percalços sofridos de forma alguma lhes tolhe ou altera a orientação! Acometidos do ‘vírus liberal’, persistem no erro, tal qual os cardeais que condenaram Galileu.

Eppur si muove!”, pois ambos se encontram atascados até ao tutano na imundície que salpicou os mais virtuosos dentre eles e que fede até à náusea (trata-se ‘apenas’ de dois dos mais lídimos exemplos de fé nas acrisoladas virtudes da eficiência dos mercados - com expressão máximo nos ‘off-shores’!), mas exibem-se em público munidos do maior desplante garantindo inocência e alardeando seriedade.

Ainda assim e contra o que pode parecer mais evidente perante a actual situação das respectivas instituições, considero a atitude do primeiro bem mais honesta que a do ex-jornalista do Expresso. Ao contrário deste, que explica os maus resultados próprios com as asneiras alheias, desresponsabilizando-se totalmente do que aconteceu, o primeiro soube reconhecer a sua incompetência. E não assumir a postura do menino queixinhas que, quando acossado, decide disparar em todas as direcções, na tentativa desesperada de salvar o seu próprio ‘coiro’. O que até sugere o devido nome a dar à ‘personagem’!

É nos famigerados ‘off-shores’ que se celebra o supremo avatar da religião liberal – o ritual mágico dos buracos negros financeiros – pois eles contêm a fórmula da máxima rentabilidade líquida (livre de impostos e de indiscrições). Dado que a generalidade das Instituições Financeiras, públicas e privadas, utilizou (e utiliza!) estes ‘veículos’ de sucesso, apetece aqui citar, recorrendo a outras religiões, o episódio bíblico da ‘mulher adúltera’ e, por equiparação, colocar aos paladinos dos excelsos talentos auferidos nesses ‘paraísos fiscais’, o clássico desafio: “que atire a primeira pedra quem – recorrendo a tais expedientes – estiver inocente!”. Quem se atreverá, então?

Entretanto, destes menos edificantes episódios talvez se aproveite o bastante para deles se extraírem algumas verdades só possíveis com a zanga das comadres... Na ânsia ou desespero de tentarem gritar a sua inocência, vai-se desvendando o bastante para, finalmente, todos começarem a perceber que o ocorrido (com base apenas no que é já conhecido) em alguns bancos, não é tão só um mero caso de polícia ou o resultado da desatenção e incompetência dos reguladores, mas antes uma consequência inerente ao sistema. É isto que, um pouco por todo o mundo, a começar nos ‘libérrimos’ EUA ou no não menos liberal Reino Unido, os poderes públicos estão a constatar, ao considerarem cada vez mais a nacionalização da Banca como uma medida inevitável!
Mesmo que, por enquanto, o seja apenas na forma de socialização dos prejuízos, quem neste momento consegue antecipar o rumo dos acontecimentos?

Tal como previa já há alguns meses, tem sido a realidade, mais que qualquer projecto político, a ‘exigir que o Estado assuma o controle público do sistema financeiro, face ao carácter eminentemente social desta actividade e dos riscos (mais que comprovados) de a sua gestão privada tender para se desviar dos propósitos que a devem nortear’!

Resta saber depois o que virá a seguir. Mas até lá...

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

É tudo gente "boa" de muita e grande "respeitabilidade", de grande exemplaridade para a sociedade, assim muito, muito ao jeito de/do "Compromisso Portugal"
E, curiosíssimo, e/ou não, nunca e ainda assim estão do "lado do problema" ...