terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O Estado de Israel é viável?

Recente número da revista Visão, em plena campanha militar israelita em Gaza, inseria dois artigos a propósito da permanente crise judaico-palestiniana, tentando descortinar o futuro da região de maior incerteza do Mundo. A interrogação que, curiosamente, ambos colocavam no título, levanta uma dúvida comum e prenuncia um destino idêntico – ‘Requiem por Israel?’, de Boaventura Sousa Santos e ‘Israel pode sobreviver?’, de Tim Mcgirk, transcrito da revista ‘TIME’ – que, de algum modo, encerram o dilema com que o Estado de Israel, a potência dominante e que mais tem a perder com qualquer alteração ao ‘status quo’, se encontra confrontado. Mais que as raízes históricas deste interminável conflito, ambos visam perspectivar o futuro, abordando cada um deles um dos dois factores que, conjugados, mais podem influenciar o destino da região.

Em primeiro lugar, o factor demográfico, apresentado no artigo da TIME, revela que a principal ameaça ao poder de Israel se encontra dentro das suas próprias fronteiras e contra a qual o poderio militar de que dá provas hoje, tenderá a tornar-se inútil amanhã: é que a actual correlação demográfica entre judeus e palestinianos naquele espaço geográfico, por enquanto favorável aos primeiros, depressa irá inverter-se. Dada a taxa de natalidade, os palestinianos em breve tornar-se-ão numa maioria clara, pronta a ameaçar, pela via democrática do voto, o absurdo estatuto confessional do Estado judaico!

A este deve acrescentar-se o que pode designar-se por factor ético, que decorre da crescente pressão das opiniões públicas mundiais pela aplicação dos códigos democráticos à situação da região, sobretudo confrontando-a com:
– a aberração que constitui, hoje, a sobrevivência de um Estado confessional, equiparável ao ‘virtual’ Vaticano ou ao tão vituperado (e bastas vezes ameaçado) regime iraniano e, na prática, impossível de garantir, a prazo, a sua perenidade, face ao incontestado critério universal de “um homem um voto” ;
– a cada vez mais insustentável lógica da construção do Grande Israel, que este tem vindo a desenvolver, mas cuja concretização se encontra dependente de um intolerável extermínio dos palestinianos – como referido no artigo de Boaventura Sousa Santos, na Visão!

Ora, já aqui o referi antes, a situação actual na região apresenta-se constituída por um Estado – Israel – e um conjunto de 'Bantustões' – o território supostamente destinado à implantação do Estado da Palestina, resultado da permissividade, complacência, senão mesmo incentivo, à instalação nele dos colonatos judaicos. A mera configuração geográfica que este processo adquiriu apresenta-se de tal modo complexa e confusa, que torna praticamente impossível a solução (até agora aposta dominante na desacreditada diplomacia internacional, assente na existência de dois Estados independentes). Mas mesmo que tal fosse possível – implicando a praticamente inviável retirada de Israel para as fronteiras de 1967 – permaneceria sempre a exigência de, mais tarde ou mais cedo, deixar de fazer sentido a manutenção de um Estado de base confessional!

Ainda que seja arriscado aplicar a lógica à História para delinear prováveis cenários futuros, certamente que ela nos autoriza a utilizar as principais tendências que nela se cruzam para, pelo menos, esboçar os contornos desses cenários. E é por isso que, na sequência do que ficou dito e do que cada vez mais observadores independentes parecem aduzir, que me permito concluir (repetindo o que já afirmei em anterior comentário sobre o assunto) que “o desenvolvimento lógico da situação actual só pode descambar na inviabilidade do próprio Estado de Israel – e do da Palestina também, mas isso já hoje se verifica”.

Ou, de forma pragmática, como o articulista da TIME interrogava: “Como ganhar uma guerra quando o outro lado acredita que o tempo está do seu lado?

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Estou mais que convencido que só com o "fechamento da torneira" no que respeita a fluxos financeiros
quer dos EUA, seja da Europa, o Governo de Israel, qualquer que seja ( se é que, entre eles, há alguma diferença substantiva )pode tomar TINO.
CBS