E, de repente, levanta-se um clamor frenético, vindo sobretudo do lado que, supostamente, menos era esperado, porque dito liberal, exigindo a ... intervenção do Estado. Para actuar ao nível da segurança do País ou dos cidadãos? Para aplicação de uma justiça mais célere e (já agora) mais justa? Para um qualquer protesto diplomático perante uma alegada ofensa à honra da pátria? Para, vá lá, corrigir situações de extrema penúria na defesa da dignidade das pessoas? Estas, de facto, as quase únicas áreas que os liberais toleram e admitem para a intervenção do Estado. Em tudo o resto é ao mercado que compete decidir, já agora livre de constrangimentos - por razões de neutralidade económica e de eficácia nos resultados, acrescentam.
Desta feita, porém, o insistente pedido de intervenção diz respeito, imagine-se, ao próprio funcionamento do mercado: o mercado dos combustíveis, dizem, está descontrolado, exige-se a intervenção do Estado. O pretexto é, ele próprio, uma prova de que a defesa do mercado livre só funciona num sentido, que a auto-regulação do mercado é uma falácia (logo que se sinta ameaçado ou em risco...): afinal, em Espanha, os nossos vizinhos passeiam-se à conta de um gasóleo e gasolina mais baratos 20 ou 30 cêntimos!
A única novidade, se é que o chega a ser mesmo, reside no tempo desta peça. Ela desenrola-se precisamente logo após o governo (um dos anteriores a este), ter decidido liberalizar o mercado dos combustíveis. Afiançava-se, então, que a maior concorrência iria permitir benefícios para o consumidor. O que se passou, afinal, foi exactamente o contrário. Os preços nunca mais deixaram de subir. Não por culpa da concorrência, mas do mercado, apressam-se a esclarecer. Mas então a concorrência não é componente essencial do mercado? Perplexidades bastantes perante a «concorrência» de tantos factores a contribuir para baralhar e, o que é pior, espoliar o indefeso consumidor.
Não fora a choruda sorte que nestas alturas generosamente atinge os que mais lucram com as teorias liberais, dir-se-ia que os pressurosos paladinos deste liberalismo serôdio andam mesmo com grande azar. A confirmação, afinal, de que a intransigência na liberalização do mercado se rege 'apenas' por uma máxima política: socialização dos riscos, privatização dos lucros.
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1 comentário:
Caro Amigo,
Inteirissimamente de acordo; é tal e como, muito bem, sintetiza :
« ...a intransigência na liberalização do mercado se rege 'apenas' por uma máxima política: socialização dos riscos, privatização dos lucros.»
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