sexta-feira, 17 de abril de 2009

“Quem é aqui a superpotência?”

Nunca os adeptos do ‘quanto pior melhor’ pareceram estar tão próximos desse objectivo como porventura agora com o novo governo israelita e, em especial, o seu MNE, o ultra-direitista Avgidor Lieberman. A primeira declaração deste, logo que tomou posse, foi considerar enterrado o processo de paz, ao denunciar os acordos de Annapolis (elaborados em 2007, na era Bush, vejam bem), por estes apontarem à constituição de um Estado Palestiniano, a par do já existente, Israel (passariam a coexistir, no espaço da antiga colónia britânica da Palestina, dois estados independentes: Israel e Palestina – envergonhadamente designado por Estado Palestiniano!). De acordo com a declarada opinião do novo MNE israelita, tais acordos ‘não têm validade’(!!!).

Independentemente da viabilidade ou não dos dois Estados nas actuais condições geográficas do terreno, esta tomada de posição dos novos responsáveis israelitas, ainda que esperada (e sem perda de tempo, pelos vistos), é um autêntico desafio à também nova administração norte-americana, que de imediato fez saber, aquando da deslocação de Obama à Turquia (bem perto, pois, do local do ‘crime’), que os Estados Unidos apoiam o objectivo que as partes acordaram precisamente em Annapolis, ‘de dois Estados, Israel e Palestina, vivendo um junto ao outro, em paz e segurança’, objectivo que para Obama, afirmou este, irá ser também o seu.

A propósito, o jornal El Pais referia um curioso episódio ocorrido ainda no tempo de Clinton (no final do seu mandato), na sequência das reacções negativas com que certos meios políticos israelitas haviam recebido as conclusões de um relatório solicitado por ele ao seu assessor George Mitchell e em que este concluía: ‘O Governo israelita deve congelar toda a actividade colonizadora, incluindo o crescimento natural dos colonatos existentes’. Ao ser informado destas reacções e referindo-se, em privado, especificamente a Benjamin Netanyahu, actual 1º Ministro do Governo israelita, Clinton terá desabafado (sic): ‘Quem diabo se julga ele que é? Quem é aqui a superpotência?’.

Não sabemos qual a reacção, também em privado, de Obama, ao tomar conhecimento das declarações do MNE israelita, mas sabemos que de imediato e publicamente fez questão em reiterar os princípios básicos da sua política para a região. Sabemos ainda, que a chefe da diplomacia da sua Administração é Hilary Clinton e que o enviado especial da Casa Branca para o Médio Oriente é... George Mitchell, que se deslocou agora a Israel, numa visita aparentemente ainda só exploratória, tendo como objectivo expresso ‘promover a fórmula dos dois Estados’.

O enorme imbróglio em que se converteu a situação na região, conhece, assim, nova fase, de contornos ainda incertos, mas, a avaliar pelas declarações dos responsáveis, ainda mais perigosos (se tal é possível) ao que já existia. Conforme expressei em anterior comentário e por força da implantação dos colonatos judaicos em território presumidamente destinado ao futuro Estado Palestiniano, ‘a mera configuração geográfica que este processo adquiriu apresenta-se de tal modo complexa e confusa, que torna praticamente impossível a solução (até agora aposta dominante na desacreditada diplomacia internacional) assente na existência de dois Estados independentes’.

Mas não é esta impossibilidade prática (que o futuro se encarregará de confirmar) que condiciona a evolução do processo de paz, na sua actual fase – ou que determinou a posição que transparece das palavras do MNE israelita. O que tal posição visará é, certamente, condicionar o resultado esperado das negociações com vista à implantação de um Estado da Palestina, partindo da actual situação no terreno como facto consumado (o que, caso viesse a acontecer, acentuaria – que não haja dúvidas – a sua inviabilização como Estado). Mas não deixa de se constituir num claro desafio à superpotência, no momento em que esta parecia reunir melhores condições para, finalmente, avançar para uma solução de paz.

Ficamos, pois, à espera para saber ‘quem é aqui a superpotência’, sr Obama.

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Pertinentíssima "posta";
e a questão é, mesmo, a de saber, tal como "remata" :
quem será a superpotência ?