sexta-feira, 21 de maio de 2010

O discurso ‘patriótico’ de ataque à crise

Temosque mudar radicalmente de vida. O “nosso” nível de vida vai baixar por uns tempos’. Palavras proferidas pelo Presidente da Caixa Geral de Depósitos em recente reunião de banqueiros, sintetizando, aliás, o consenso geral estabelecido entre tão selecta assembleia.

Esta súbita ânsia de ‘colectivização’ revelada pelo conjunto de comentadores que a toda a hora se pronunciam sobre ‘as duras mas inevitáveis’ (!) medidas internas para reduzir a pressão dos ‘mercados’ devido ao risco da dívida da República – amalgamando interesses, caldeando dificuldades, coligando necessidades, confundindo as obscenas remunerações de banqueiros e outros gestores, com o salário médio dos portugueses – visa um propósito, mas é totalmente destituída de objectividade.

Que sentido faz, com efeito, para o português médio – cujo salário ronda os 850€ mensais! – coligar-se com Faria de Oliveira, o autor da frase, ou com o mais badalado António Mexia, numa cruzada pela salvação da Pátria (!), quando o rendimento destes vale largas dezenas (nalguns casos centenas) daquele salário?

Porque é que, por estas alturas, surge sempre o discurso ‘patriótico’ do toque a reunir por parte dos comentadores do costume, que obriga os mais pobres a fazer sacrifícios e os mais ricos a abdicar, quando muito, de alguma futilidade, porventura de menos uma aplicação financeira em qualquer ‘off-shore’?

A confusão deliberada com que os ‘nossos comentadores nos querem convencer da necessidade de medidas que pesam no bolso da maioria do costume, mas apenas belisca a minoria de sempre, serve só e bem os interesses desta!

Piores que os comentadores, só mesmo os especialistas financeiros (economistas e outros), sempre a debitar palpites, a traçar diagnósticos, a ditar receitas. Que, afinal, se resumem à velha solução do mais ‘celebrado’ especialista financeiro que o país teve (e teve-o por mais de 40 anos!), prestidigitador de fancaria, com fama de saneador mas ganha à custa da habilidade manhosa do corte para metade das remunerações dos funcionários públicos!!! O ex-ministro das finanças de Cavaco, Eduardo Catroga, é o mais recente farsante da molhada dos que, agora, advogam o recurso a idênticas mezinhas, sugerindo cortes nos rendimentos dos ‘outros’ – os deles há muito que os têm bem seguros! – como solução milagreira (!) para o aperto actual.

É isso. Quando a política é dominada por especialistas...

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