quarta-feira, 7 de abril de 2010

As Invisíveis Iluminações ...


Há lugares de simples encantamentos,
onde ferventes pulsam claridades.
Como quem diz uma chávena de café,
fumegante, sobre o tampo da mesa.
Ao lado o jornal,
desprendendo a desordenada
pulsação do mundo.
Ligeiro, o roçar dum vestido pela porta,
um seco troar de tamancos
logo a seguir, imensamente antigo.
A Tabacaria Açoriana era às vezes
um leve cair de folhas, quase cego,
de exaltação.
Os primeiros pingos de chuva, por assim dizer.
Ou o negro xaile que tombava sobre o jornal
aberto, abril ou um doce instantâneo de junho,
uma dessas solidões repentinas, ao virar da página.
Os lugares são irremediavelmente,
a luminiscência das circunstâncias.
Águas que através de uma voz
se tocam, ecoantes.
Como se de entre duas pedras
invictas brotassem.

( Eduardo Bettencourt Pinto )

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