sexta-feira, 8 de maio de 2009

De novo os políticos e a mulher de César...

Há qualquer coisa de muito subtil, quase misterioso ou então demasiado profundo, para mim e para a maioria dos mortais arredados dos meandros partidários, na recente aprovação parlamentar, por unanimidade das bancadas (apenas 2 votos discordantes!), das alterações à lei de financiamento dos partidos. Ao contrário dos habituais comentadores, para quem este tema constituiu um autêntico brinde, demasiado óbvio e condimentado, bem à medida dos seus vorazes apetites mediáticos.

O único argumento objectivo invocado prende-se, aparentemente, com a necessidade de se dar cobertura aos donativos obtidos pelo PCP na Festa do Avante. Não deixa de ser enternecedor constatar o gesto solidário, mas custa a crer que os parlamentares (ou as cúpulas partidárias) se tenham sacrificado e exposto desta maneira em prol do ‘pobre e oprimido’ PCP, de outro modo sujeito a malabarismos administrativos e enviesamentos burocráticos para poder beneficiar, de forma limpa e legal, dos parcos e sofridos óbolos dos seus indefectíveis correligionários.

O que mais surpreendeu, pois, foi esta conseguida unanimidade partidária, esta espécie de corporativismo político, este aparente cerrar fileiras de todos os partidos na defesa, ao que todos fazem crer, de um dos seus, desta feita o PCP ! Sobretudo numa altura em que, por via das muitas crises (a financeira, a política, a social,...), mais se impunha então preservar de quaisquer suspeitas o comportamento dos partidos (sempre sujeitos à depreciativa avaliação da sua acção, mesmo quando exercida em benefício colectivo), demonstrar que, afinal, se regem por princípios e normas imunes a todas as críticas.

Numa altura, enfim (vésperas de três eleições), em que os políticos, todos os políticos, se encontram sob forte escrutínio, tanto nas suas intervenções partidárias, quanto a nível das suas condutas pessoais, o surgimento deste caso, tanto pela forma (unanimidade dos partidos), como pelo conteúdo (aparente abrandamento das normas de controle dos donativos partidários), presta-se a todos os aproveitamentos, demagogias e mal-entendidos. Independentemente das boas intenções que hajam ditado tais alterações.

Tal como um desconhecido ouvinte da TSF se interrogava ainda esta manhã, admitindo não estranhar este tipo de medidas por parte da maioria dos partidos (incluindo, neste caso e por razões óbvias o PCP), mas do Bloco, afirmou, esperava outra atitude. Certo é que o Bloco habituou muita gente a saber estar e a agir diferente, de forma mais transparente e sem subterfúgios equilibristas, pelo que este episódio em nada parece ter beneficiado a sua imagem. Pelo contrário, acentuou aquela estafada e (abusivamente) generalizada máxima de que ‘os políticos são todos iguais, sabem tratar bem é dos seus interesses’. Sobretudo porque conviria ter sempre presente que – lá vem outra máxima – “à mulher de César não basta ser séria, é preciso parecê-lo”.

Não havia necessidade!

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

De facto, muito se tem dito e escrito sobre a alteração da Lei do Financiamento Partidário e não tem passado – tal como seria desejável – a verdadeira posição do Bloco de Esquerda sobre esta matéria.
O Rogério Moreira publicou, no Esquerda, um excelente Artigo sobre as “Mistificações sobre os Financiamentos Partidários” que vale a pena ler, por forma a repor a Verdade dos Factos.
Pode ser lida, aqui :
http://www.esquerda.net/index.php?option=com_content&task=view&id=11781&Itemid=130