Depois de longos quilómetros de insultos, impropérios e ameaçadores dedos em riste acompanhados por intraduzíveis onomatopeias - de um lado -, correspondidos por uma ‘apagada e vil’ indiferença - do outro (entre o faz-de-conta que não existe e o faz-de-conta que nos diverte, ambos relevando de posições cada vez mais insuportáveis e abjectas) -, eis que os dois principais actores desta ominosa ópera bufa, a pender para a farsa, em cena sem interrupção nos últimos quatro anos, esta sexta-feira foram à fala! Como se nada se tivesse passado antes, como se fossem, não digo dois amigos (um pingo de vergonha ainda o impede), mas dois seres, vá lá, civilizados. Que é coisa que, pelo menos do lado de um deles, está longe de ser uma regra, é apenas um episódio de conveniência.
Dir-se-á que as razões de Estado a isso obrigam, que se tratou de um mero cerimonial exigido pelo protocolo. Certo, já havia o precedente do Sr. Silva – que, por razões protocolares, se sujeitou a ser vexado pela Assembleia Regional! E o do Sr Gama, que em tempos falara num tal ‘Bokassa da Madeira’ – entretanto já ‘reconvertido’ em exemplo de excelsa liderança democrática!... Ainda assim, a alguém passaria pela cabeça ver o Sr. Alberto João de mão estendida para o Sr. Pinto de Sousa? De mão estendida à espera de algumas benesses que o aliviem do garrote que lhe aperta os gorgomilos; o outro, finório de brandos escrúpulos, na expectativa de colher mais meia dúzia de votos que lhe permitam vogar, por mais uns tempos, na onda do poder.
O contorcionismo e as piruetas necessárias para ambos exibirem, na pompa exigida pela circunstância, uma serena pose de Estado, conhecida como é a história do seu relacionamento ao longo destes quatro anos, merecem registo pois foram de facto notáveis, só à altura de verdadeiros artistas. Com destaque, valha a verdade, para o papel do Sr. Alberto João, compulsivamente aposentado pelo Sr. Gama do desempenho de um ‘Bokassa’ que se lhe ajustava a preceito, agora porventura em busca de uma nova identidade bem à medida dos seus dotes histriónicos. Quem de certeza não está à altura de tão burlesca figura é o seu sempre pressuroso séquito, que tudo faz para tentar macaquear-lhe a pose e os gestos fanfarrões, mas apenas consegue desajeitados gatafunhos e não mais que uns ridículos grunhidos, os tristes!
Agora que se fala – e já não era sem tempo! – de proibir a utilização de animais no circo, talvez este personagem deva encarar a oportunidade, com toda a ponderação e a devida seriedade, de uma bem promissora carreira nas artes circenses, afinal a área em que ele mais se tem especializado, seja no trapézio, na contorção ou nas momices – onde, afinal, se tem revelado imbatível. Na sociedade nacional não é o único – mas é seguramente o primeiro!
Pobre país este, forçado a escolher entre a farsa e o burlesco!
Descarada aldrabice
Há 13 horas
1 comentário:
Excelente "posta", com acutilância e oportunidade q.b.
Estando longe, procurei tanto quanto possivel estar "longe" das noticias;
esta, no entanto, é mesmo de bradar aos céus ...
Enviar um comentário