sábado, 13 de setembro de 2008

A ‘lasca’

Não consigo evitá-lo, foge-me mesmo o pé para o chinelo, para a brejeirice. Que me perdoem o trocadilho fácil e, pior ainda, a ‘rasquice’ baixa (a pior das ‘rasquices’) a que recorro para aqui trazer a candidata à vice-presidência dos EUA pelo Partido Republicano. Escolhida, não tenho dúvidas, para cavalgar a onda de popularidade gerada em torno da ‘outra’ candidata mulher, a Hillary Clinton. Apenas, pois, por ser mulher. De quem ainda sabemos pouca coisa - o bastante, porém, para se começar a esboçar, desde já, um perfil sinistro.

Do seu passado glorioso sobra esse título magnífico de ‘Miss Alasca’ (um honroso 2º lugar, ainda assim o suficiente para fazer jus ao cabeçalho desta crónica rasca!), porventura a melhor credencial para ter sido eleita pelos ‘barões’ republicanos (não, não é uma contradição, estes republicanos aspiram todos ao genuíno baronato, o ‘made’ in Europa – no mínimo!). Para o arquétipo ser perfeito só lhe faltava mesmo ser loura (pormenor que os ditos barões facilmente relevaram, perante as restantes credenciais exibidas).

Das intervenções tidas logo após ter sido indigitada para o cargo, percebeu-se, enfim, que a senhora milita no radicalismo mais fundamentalista – enfileira convicta e galhardamente, por exemplo, ao lado daqueles abencerragens creacionistas que acreditam piamente descender (todos em linha directa, acrescento eu, pois nem pode ser de outro modo) de Adão e Eva, esses mesmo, os míticos personagens bíblicos – e, suprema caução das virtudes mais retrógradas, sendo mulher pouco deve perceber de política, ou seja, é incompetente bastante para um cargo que pertence por direito (divino?) aos homens, é, em suma, a flor na lapela do ‘verdadeiro’ candidato (convenhamos que nem o McCain merecia isto!). Dois predicados de peso, portanto, e que, a juntar ao obtido no referido concurso de beleza, se demonstram essenciais para impressionar o eleitor americano médio, na sua versão mais integrista uma aparentemente discrepante mescla de machista e misógeno. Já quanto às eleitoras, será sociologicamente muito interessante ver qual vai ser a sua reacção...

Pois a ‘lasca’ – perdão, a Palin – deu uma entrevista (a exposição mediática é um dos saudáveis problemas das democracias, mesmo as mais controladas) onde, a propósito do conflito do Cáucaso, não teve rebuços em admitir – a isso foi ‘empurrada’ pelo entrevistador, que se limitou a seguir a lógica dos princípios que, com tanta prosápia e falta de senso, a entrevistada expendia – a possibilidade de os EUA virem a declarar guerra à Rússia... se a Geórgia, entretanto por si incentivada a aderir à NATO, solicitasse o apoio aliado.

A ligeireza com que esta ‘dona de casa’ – apropriado epíteto que tomo de empréstimo a Mário Soares, quando este, há uns anos (então de forma infeliz, diga-se), brindou a sua concorrente à Presidência do Parlamento Europeu com tal ‘mimo’ – decide da guerra, em nome do Mundo inteiro, é deveras arrepiante. Este autêntico pechisbeque da política, ou está a armar-se (ao pingarelho, por enquanto), ou é completamente inconsciente (perante os predicados anunciados é o mais provável) ou então é redondamente parva (indo à etimologia da palavra, claro) – e ponto!

Num mundo cada vez mais dominado por loucos perigosos, só cá faltava mesmo esta paródia da ‘dama de ferro’!

3 comentários:

Carlos Borges Sousa disse...

Pois é; só nos faltava, mesmo e agora, mais uma "dama de ferro" e ainda por cima armada em durona ...
Haja a esperança, quem sabe, que o bom senso possa vir a imperar na "cabeçorra" dos americanos.

José M. Sousa disse...

mais sobre essa criatura :

http://dererummundi.blogspot.com/

José M. Sousa disse...

mais especificamente, aqui