domingo, 28 de setembro de 2008

Crise Financeira. O problema da regulação.


A manifesta preguiça e ignorância do trio da Quadratura do Circulo é reveladora da decadência e incompetência dos partidos tradicionais.
É claro que o mercado precisa de mais regulação (o Xavier está a precisar de fazer um cursito de actualização). É melhor que nada!
Mas não chega! Porquê? Porque em muitos casos, e sobretudo nos EUA, os regulados assaltaram e tomaram a posição de reguladores de si próprios!

Atente-se na opinião de Willem Buiter - Professor de Economia Política Europeia na London School of Economics and Political Science, ex-economista-chefe do BERD, ex-membro do Comité de Política Monetária do Banco de Inglaterra, ex-conselheiro de organizações internacionais, governos, bancos centrais e instituições financeiras privadas. Parece-me claro que se trata de alguém do "establishment"!
E que diz ele em blog do Financial Times?
Cito:
«Is the reality of the modern, transactions-oriented model of financial capitalism indeed that large private firms make enormous private profits when the going is good and get bailed out and taken into temporary public ownership when the going gets bad, with the tax payer taking the risk and the losses?
If so, then why not keep these activities in permanent public ownership? There is a long-standing argument that there is no real case for private ownership of deposit-taking banking institutions, because these cannot exist safely without a deposit guarantee and/or lender of last resort facilities, that are ultimately underwritten by the taxpayer.
[...]
No doubt the socialisation of most financial intermediation would be costly as regards dynamism and innovation, but if the risk of instability is too great and the cost of instability too high, then that may be a cost worth paying.»

Ou seja, este senhor interroga-se - dando credibilidade à argumentação de sectores críticos do liberalismo sem controle - se não será melhor manter estas actividades sob permanente propriedade pública, uma vez que, recorrentemente, assumem riscos que acabam por ser pagos pelo contribuinte. Ele reconhece o preço a pagar, algum dinamismo e inovação no sector bancário, mas admite que esse custo é pequeno!
Que diria Pacheco Pereira a isto? Que são os tolinhos de Porto Alegre?
Ou João César das Neves? Este escreveu um artigo "extraordinário" no DN e passou este debate a dizer que esta era mais uma crise normal que um deus imanente ao mercado iria solucionar por si. César das Neves, homem erudito, é um poço de contradições.
Vejam-se estas frases:
  • "infeliz recorrência das tolices";
  • " ficamos espantados como pessoas inteligentes, informadas, especialistas, caem em erros tão infantis e evidentes";
  • "colocando em igualdade de circunstâncias o emprestador tonto e o credor ponderado."

"Emprestador tonto"? Este senhor é professor de finanças! Certamente já ouviu falar do "moral hazard" ou "risco moral". Não é nada tonto, a racionalidade é total, porque se o negócio der mau resultado, lá vem o Estado, quer dizer, o contribuinte, apagar o fogo!

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito oportuno e sempre certeiro. Aliás, na série que iniciei sobre a ‘Crise’ (a que faltam ainda 2 comentários) e a propósito da oportuna questão sobre o controle público (depois de tudo o que aconteceu...), vou tentar, no final, esboçar aquilo que me parece deveriam ser as bases para um novo tipo de relações sociais, a nível mundial (tarefa arriscada, eu sei, mas somos sempre acusados de criticar e não apresentar alternativas). Lá constam exactamente medidas deste tipo (o que até nem demonstra grande capacidade analítica, de tão óbvio). O mais importante aqui é que o consenso sobre algumas dessas medidas, pelos vistos alarga-se até a sectores tradicionalmente enfeudados ao pensamento tradicional dominante, de forma alguma podendo ser considerados esquerdistas ou coisa que o valha! Revelador e motivo de (alguma) esperança!

Carlos Borges Sousa disse...

Nem de propósito : hoje, a "bordo" da SATA, com destino a S. Miguel, lendo o DN, deparo-me com "A Normalidade do Pânico" mais um "escrito" do inenarrável e abominável João César das Neves.
Há, afinal, explicação para a presente crise que "não tem nada de extraordinário"
A Bíblia,o Alcorão e até,imaginem, Shakespeare já haviam "avisado"...