Sempre pensei que o processo Casa Pia cumpriu objectivos político-partidários muito concretos. Tratou-se de decapitar a direcção socialista de então, liderada por Ferro Rodrigues. A luta contra a pedofilia é outra coisa porque a pedofilia não se iniciou com o processo Casa Pia nem acabou com ele, infelizmente. Espero que o processo tenha ao menos permitido minorar o sofrimento de algumas das vitímas e ajudar a prevenir outros crimes.Relativamente aos acusados no processo não tenho a ideia préconcebida de que sejam culpados. Gostaria de receber a decisão da justiça como algo em que nós os cidadãos podéssemos confiar, fosse ela qual fosse. Isto sem colocar em questão o sagrado direito dos acusados a recorrerem das sentenças. Mas não vai ser fácil. Todos eles estão há muito acusados no tribunal da opinião pública. Ora isso é algo intolerável em termos democráticos.Quanto a Paulo Pedroso o seu processo cumpriu os objectivos políticos a que se propôs. Mesmo agora que a justiça veio concluir ter o ex-dirigente socialista razões do Estado quantos se reconhecerão nessa decisão? Tudo seria mais fácil se a decisão fosse acusatória. Aí o consenso seria muito mais fácil. Se temos tantas vitimas, como neste infame processo aconteceu ao longo de décadas, como poderemos sobreviver sem culpados, sobretudo culpados notórios para os quais canalizemos os nossos ódios, frustações e medos?Sempre me cheirou neste processo à pior canalhice política e estou convencido que ele impediu um Governo do PS, efectivamente de esquerda, liderado por Ferro Rodrigues e capaz de fazer alianças à sua esquerda e de concretizar uma plataforma política promotora de um desenvolvimento assente num reforço da justiça social.( Via : Pedra do Homem )
1 comentário:
Ora então cá estou de novo!
Recuo até este texto, para aqui registar a minha opinião sobre o assunto (que o Borges de Sousa conhece bem) e que, no essencial, passa pelo seguinte:
1º Comungo da tese da ‘cabala’: este processo visou decapitar uma determinada direcção do PS;
2º Estou convencido que os principais responsáveis pelo abuso de miúdos da Casa Pia, não estão sequer a ser julgados. Só não sei (seria especular) se serão os mesmos que montaram a ‘cabala’.
Neste contexto, são elucidativas as posições assumidas, ainda esta semana, por Pedro Namora e Marinho Pinto. Ao destemperado fundamentalismo irracional do primeiro (que não é exclusivo deste caso), respondeu, de forma contrastante, a maior objectividade do Bastonário da OA. Aliás, parece-me patético (para não dizer denunciadamente prosélito) o comportamento do Pedro Namora em todo este processo: dificilmente a sanha de que dá mostras será apenas o resultado da indignação pelo que aconteceu na Casa Pia.
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