sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A ‘independência’ da informação dependente

Se alguma utilidade é possível, para já, vislumbrar nesse confuso processo à volta das ‘escutas’ – e muito em especial das sequelas em curso na Assembleia da República – ela é a de ter posto às claras uma tão estranha quão, agora finalmente e sem qualquer pudor, alardeada promiscuidade entre o jornalismo dito ‘independente’ e o poder económico na comunicação social. Para além do natural e inevitável condicionamento financeiro da actividade jornalística e da informação em geral. Ou até da ‘velha’ apetência do poder económico para o controle da comunicação social, seja pela rentabilidade financeira que o potencial da actividade perspectiva, seja por razões ideológicas de manipulação da opinião pública na defesa de quaisquer interesses de grupo, empresarias ou políticos.

Nas audições a decorrer na Assembleia da República tendo em vista apurar alegadas ameaças sobre a liberdade de informação, os depoimentos dos 4 primeiros jornalistas aí ouvidos – de alguns dos principais grupos empresariais dos ‘media’ nacionais – são bem reveladores (para além de deprimentes!) das ‘preocupações’ que dominam o sector:

* José Manuel Fernandes, ex-director do ‘Público’, garante não ser pressionável e, na passada, afiança nunca ter havido qualquer interferência do Grupo Sonae de Belmiro de Azevedo na linha editorial do jornal por este detido; já o poder político, em contrapartida, parece querer asfixiar tanta independência encaminhando a publicidade sob seu controle, ‘apenas’ para os órgãos de comunicação social ‘amigos’.

* Mário Crespo, da ‘SIC’– o mais encomiástico nos elogios – igualmente garante não ser pressionável e, entoando em tons barrocos (como é seu timbre) loas eternas ao Grupo Impresa de Francisco Balsemão, testemunha fé inabalável na total independência deste grupo empresarial; sabe-se, entretanto, da repisada crítica do grupo à publicidade na TV pública, retirando quota publicitária aos operadores privados.

* Felícia Cabrita, do ‘SOL’, para não fugir à regra, garante não ser pressionável e, no balanço, presta homenagem à sociedade que detém o jornal (a luso-angolana Newshold, Joaquim Coimbra do PSD,...) por haver impedido a liquidação financeira deste projecto por parte do poder político do PS, que, por ínvias portas e escuras travessas, usou das suas ‘influências’ para o silenciar, impondo o corte dos apoios bancários a que, pelos vistos, se sentia com direito(?).

* António Costa, do ‘Diário Económico’, garante não ser pressionável (não foi excepção) e, para variar, assegura que em momento algum o poder económico – o Grupo Ongoing de Nuno Vasconcellos – condicionou ou tentou a ingerência na orientação do jornal, contrariando as afirmações da véspera de José Manuel Fernandes ao insinuar alegadas mudanças no seu alinhamento depois da compra pelo grupo e desvalorizando os telefonemas de políticos (por mais alinhado com a ‘situação’?).

E os depoimentos dos operadores dos restantes grupos (Controlinveste, Cofina,...), afinam pelo mesmo registo, que se pode resumir em: cada umgarante não ser pressionável’, todos enaltecem a isenção da ‘sua’ entidade económica (de que dependem) por, afiançam, não se ingerir nas questões editoriais (embora desconfiem da alheia, a competição assim o determina!). Acentuam, ainda, o papel que o Estado desempenha na sobrevivência das empresas, por via do financiamento ou da publicidade sob seu controle (directo ou indirecto). Tanta independência tem um custo...!

As ligações entre os interesses económicos, o poder político e a comunicação social são cada vez mais entrosadas, mas por demais opacas, ou mesmo promíscuas. Uma coisa parece agora mais clara: a total dependência económica do ‘jornalismo independente’! O sucesso (ou a sobrevivência) dos grupos de ‘media’ une jornalistas e accionistas no propósito central de ‘construírem’ um produto informativo vendável (as ‘audiências’!). A informação concorre com a publicidade para o sucesso financeiro das empresas e isso determina, mais que quaisquer outros critérios, o conteúdo da actividade jornalística. Reduzida a mais uma mercadoria, presa nos mecanismos que asseguram a absolutização das lógicas do mercado, a informação dos ‘valores’ (!) pouco ou nada tem a ver com princípios e regras, com verdade, rigor e objectividade – apenas e só com cifrões!

À parte tímidas tentativas de estabelecer e aprofundar estas ‘ligações perigosas’ (BE, PCP, até o PS), o assunto não irá seguramente motivar o interesse dos deputados tanto como as picardias em torno do enredo mediático das escutas! Não são elas, afinal, que alimentam as 'vendas/audiências'?

Mais uma oportunidade perdida! E já escasseia pachorra para tanta intriga!

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Zeca Afonso, Sempre !!!

A 23 de Fevereiro de 1987, em pleno Inverno mas no Outono da vida, morreu Zeca Afonso.
Num leito anónimo do Hospital de Setúbal, pelas 3 horas da madrugada, morreu o cantor, morreu o amigo, morreu o companheiro, morreu o Zeca.
Relembrar o Zeca hoje é mais que tudo isto. É, sobretudo, lembrar as suas últimas palavras: "Não posso parar".

Por isso empunhamos a tua bandeira porque a luta continua, serena e firme, contigo bem vivo junto de nós, Zeca Afonso.
Veja aqui o vídeo “Tributo a Zeca Afonso”:

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O caçador caçado – ou a culpa é do mensageiro?

A equipa de jogadores, técnicos, médicos, roupeiros e não sei quem mais do FCPorto – só lá faltou mesmo o mandante... – pela boca do seu 3º guarda-redes, protagonizaram, ontem, sábado, 20 de Fevereiro de 2010, uma dramática manifestação de (aparente) unidade, lançando um já habitual (vindo de quem vem) ‘grito de guerra’, dirigido contra ‘incertos’. Incertos, entenda-se, apenas no discurso pronunciado, porque todos conhecem, sem que tivessem sido nomeados, os destinatários implícitos de tão furibunda raiva: directamente, a justiça desportiva (especialmente o presidente do Comissão Disciplinar da Liga, o juiz Ricardo Costa); acima de tudo e de todos, o ódio de estimação do arqui-rival SLBenfica, tido como o beneficiário, senão mesmo o instigador – mancomunado (!) com o referido Juiz – desta assim considerada bem urdida tramóia para prejudicar o Dragão!

O caso segue-se ao conhecimento, esta semana, dos castigos disciplinares impostos aos jogadores Hulk e Sapunaru, na sequência dos acontecimentos (leia-se, cenas de murros e pancadaria) ocorridos no já célebre Túnel da Luz (célebre por ser, talvez para fazer jus ao nome, o mais iluminado e... visível!) e protagonizados, entre outros, por aqueles dois jogadores. A tese baseia-se na teoria da provocação, que assim serve para ilibar, quiçá transformar em inocentes vítimas, os autores dos desacatos e da violência (provavelmente até o jogador Fernando, intérprete de furiosa sapatada na ‘provocatória’ manga de acesso ao relvado, poderá assim ser considerado) e que, conforme as imagens documentam (mas, pelos vistos, não podem servir para incriminar, vá-se lá saber porquê...), não se reduzem aos únicos dois agora castigados.

Primeira conclusão, pois – a questão chave: já então (à data dos factos) funcionava a união do grupo, como gostam de sublinhar, pois poucos (quem, afinal?) escaparam a ‘molhar a sopa’ na destemperada cena trauliteira que as imagens documentam (até a sua veracidade tentaram pôr em causa, ‘que tinham sido manipuladas, a sequência não se percebia, blá-blá-blá...’). Porque o que mais (lhes) importa é mesmo a defesa do castelo ameaçado, a união do grupo contra o resto do mundo, a utilização de todos os meios sejam eles quais forem, porque os fins justificam tudo.

Segunda conclusão – a questão séria: independentemente da prova dos factos constante do acórdão que justifica as penas, da indisciplina e violência perpetrada por energúmenos com as costas quentes (as imagens, para além de todas as interpretações, não mentem), a ‘habilidade’ está, em primeiro lugar, em desvalorizar os actos praticados, depois, em saber cavalgar a onda de descrédito da justiça, civil e desportiva, afrontar as suas instituições, na sequência do que, aliás, se vai vendo em outros campos onde a bola não entra em jogo. Sobre os actos praticados e a sua condenação, ao menos como acção pedagógica para os jovens a que gostam de se apresentar como exemplos (!!!), nem uma palavra, branqueamento absoluto.

Terceira conclusão - a questão caricata: todo este processo que agora conheceu este desfecho resulta da aplicação de uma norma disciplinar objecto de alteração recente, aprovada pela Assembleia Geral da Liga – com o voto favorável do FCP e a abstenção do SLB. Das motivações que conduziram a tal alteração e à disparidade dos dois votos pouco ou nada se sabe. Mas não custa a crer, pelo passado de guerrilha instituído (estou convencido, já o referi antes, com claro prejuízo político no caso da ‘regionalização’) que o intuito do concordante fosse ‘armadilhar’ o terreno ao rival. O resultado, contudo, foi exactamente o contrário: o caçador acabou por cair na sua própria armadilha.

Seja como for e exactamente por haverem concordado com tal alteração, afinal de que se queixam eles, agora?
A menos que a história, aqui, seja outra, aquela do mensageiro... É isso, concordam com a mensagem, o mensageiro é que a não sabe transmitir. Mate-se, pois, o mensageiro!
Em qualquer caso, um espectáculo deprimente e pouco abonatório dos seus intérpretes.

Catástrofe



Se alguém tem dificuldade em perceber as consequências das Alterações Climáticas, medite nestas imagens. O Governo Regional da Madeira, e o Funchal em particular, devem estar cientes que este tipo de acontecimentos poderá ocorrer com maior frequência que no passado, devido às Alterações Climáticas. Como explicava Anthimio de Azevedo a Madeira está numa zona de transição (confluência de massas de ar quente e ar frio que podem levar a nuvens com 11 kms de altitude!) Este foi um fenómeno extremo num Inverno já de si extraordinariamente chuvoso ( ver aqui também). Como explica este artigo, uma atmosfera e um oceano mais quentes aceleram o ciclo hidrológico aumentando o vapor de água que circula na atmosfera, ou seja, há mais água na atmosfera que cairá nalgum sítio com redobrada violência:

«The fact that the oceans are warmer now than they were, say, 30 years ago, means there’s about, on average, 4 percent more water vapor lurking around over the oceans than there was, say, in the 1970s.»

Por isso é urgente uma monitorização detalhada da actual ocupação do território em sitios críticos, para que isto não volte a ter no futuro a dimensão que se vê.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Percepções e realidades: o discurso do preocupado

Agora já sei, por saber firmado, a razão de nunca ter aderido a um partido político. Finalmente compreendi esta propensão para me manter independente, não me sujeitando a qualquer disciplina partidária. Bem, compreender não é o termo mais apropriado, pois compreender já eu tinha conseguido antes, tratou-se mais de uma confirmação, uma espécie de ‘prova factual’ reflectida através de um jogo de espelhos, a ‘evidência externa’ que (me) parecia faltar.

Foi ao ouvir na ‘tvi24’ (17Fev.) a deputada Rita Rato do PCP a repetir, vezes sem conta, que se encontrava ‘preocupada’, que esta minha ‘percepção’ (palavra também muito em voga, v.g., o Moniz ex-TVI, para extrair conclusões definitivas das ‘escutas’) se tornou mais consciente (e consistente). Ainda mal tinha começado a falar e já as expressões ‘estou preocupada...’; ‘estou muito preocupada...’, ‘eu já estava preocupada, mas agora fiquei ainda mais preocupada...’(!!!), lhe saíam ritmicamente da boca de forma tão insistente – quase mecânica – que o motivo de tanta preocupação ia passando despercebido. E o que é que motivava, afinal, tamanha preocupação numa ‘miúda’ de 27 anos (acabados de fazer)? As ameaças à liberdade de expressão e informação, que o dito caso das ‘escutas’ alegadamente configurava!

Dou comigo a pensar: ainda bem que tão ‘preocupada’ rapariga (perdão, ‘Excelência’, trata-se de uma deputada da nação!) não viveu antes do 25Abril, pois com a falta de liberdades que então legalmente imperava, a preocupação tinha derivado em angústia, a angústia em obsessão e... sabe-se o que acontece às obsessões, na melhor das hipóteses acabam no psiquiatra. A avaliar pelo automatismo matraqueado das expressões de preocupação, no caso dela dificilmente na cadeia, que era o destino mais provável de então e o foi, por isso mesmo, de tantos ‘camaradas’ seus, é justo recordá-lo e tê-lo sempre presente!

E, no decurso, dou comigo a concluir que tão excessiva dramatização acaba por se tornar contraproducente, pois alerta para que alguma coisa aqui soa a falso. De um modo geral, o discurso do preocupado tem o mérito de expor o vazio do conteúdo político das mensagens que o suportam. Mas também revela o enclausuramento implícito no processo de interiorização das normas e propostas partidárias a que se subordinam, as mais das vezes de forma inconsciente, todos os que aceitam entrar nessa lógica, por vezes – eis a questão! – a despeito ou em confronto mesmo com a própria realidade.

Ora eu também tenho em casa uma ‘miúda’ muito preocupada. Quase até da mesma idade. Mas, ao contrário da jovem deputada do PCP, a sua preocupação prende-se com coisas bem mais prosaicas, aquelas coisas que, no entanto, determinam a vida das pessoas, que marcam o seu futuro, afinal uma preocupação que atinge 3 a 4 milhões de portugueses (1,2 directamente, mais os pais, cônjuges,...) – a precariedade do trabalho, os malfadados recibos verdes, o confisco dos direitos laborais,... Eu sei, uma preocupação não impede a outra, muito menos a substitui (e, já agora, também sei que, para a resolução de um tal problema, as condições de êxito, no plano meramente interno, são escassas, ela exige uma acção concertada a nível internacional).

Este será, aliás, estou certo (também aqui não pretendo ser injusto), outro motivo de grande preocupação para a deputada Rita Rato que, se confrontada com tal flagelo, seguramente reagiria com tanta ou mais veemência do que o fez neste debate, a propósito do tema que lhe coube em sorte discutir em público... em nome do partido. E é aqui que bate o ponto - porque de tal modo imbuída do espírito partidário que, arrisco a dizer, a sua maior preocupação era, muito para além da expressamente manifestada, apresentar-se em sintonia, bem ‘afinada’ com as posições assumidas pelo partido sobre o tema em análise.

Perante o deprimente espectáculo que as ‘escutas’ têm proporcionado, distraindo mais que discutindo e, o que é mais grave, desviando as atenções dos problemas que importa resolver, de uma coisa estou certo: não consigo alinhar nem com a uniformidade situacionista manifestada do lado do governo (e do PS, claro) na defesa de posições no mínimo ‘trapalhonas’ (e eivadas de suspeitosos arreganhos), nem com a uniformidade oposicionista unida num espúrio conúbio assente no propósito central - e inútil - de apearem o ‘trapalhão’ (ou ‘vilão’, ainda não se sabe).

Decididamente, manter a independência, perante esta deplorável disputa partidária centrada na dramatização mediática das sensações (preocupações, percepções,...) e alienada da realidade, ainda continua a ser a forma mais saudável de fazer política!

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Máxima do aposentado....

A mulher pergunta com sarcasmo ao marido reformado :

"Que pensas fazer hoje?"

Ele responde:

"Nada."

Diz ela:

"Isso foi o que fizeste ontem!"

Ao que ele, o aposentado, acrescenta :


"Sim, mas ainda não acabei."


( Enviado por e-mail pelo VSN)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O que e que nós somos ?

“ O Português é hoje um expatriado
no seu próprio país.
Somos uma nação, não uma pátria;
somos um agregado humano
sem aquela alma colectiva
que constitui uma Pátria.
Somos … Sei lá o que nós somos ?
Sabe alguém o que nós somos ?
Sabe alguém o que nós somos,
salvo o lugar por onde
um cataclismo vai passar ? “


Fernando Pessoa - “Carta a um Herói Estúpido” ( 1915)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Uma mini-crise na Crise (mas bem elucidativa!)

Talvez a principal ilação a extrair da recente ‘mini-crise na Crise’ por que passaram (ainda não acabou...) os depreciativamente denominados PIGS, provocada pelos ataques especulativos primeiro à Grécia, depois a Portugal e, em menor escala, à Espanha, é a de que a União Europeia – que se pretende seja, antes de mais, uma União Monetária – está longe de ser uma realidade estável. Um ataque especulativo idêntico seria completamente impossível de acontecer, por exemplo, a qualquer Estado isolado dos que integram os EUA (para falar apenas de um País onde mais imperam as regras do liberalismo económico, mas com grande tradição autonómica - veja-se o caso da Califórnia, cronicamente endividada), sem que o FED ripostasse de imediato.

Ora o que se verificou é que só agora o BCE parece dar mostras de querer fazer o mesmo no caso da Grécia, declarando-se disponível para o apoio financeiro exigido pela lógica das uniões monetárias. Demorou a reagir, permitiu que o risco alastrasse a outros Estados mais sensíveis e vulneráveis (como é manifestamente o caso de Portugal e da Espanha), de certo modo consentiu e foi conivente com os ataques especulativos perpetrados contra os interesses desses Estados. Como seria de prever, o resultado concomitante dessa alteração de posição foi, não obstante a sua adopção tardia permitir uma leitura óbvia sobre o estado ‘desta União’, o de estender os seus efeitos positivos aos países da UE mais expostos à crise: de imediato o risco da dívida portuguesa abrandou, o custo do dinheiro baixou!

Como, aliás, tem sido bastas vezes sublinhado nos ‘Ladrões de Bicicletas’ (bem mais habilitados do que eu para o afirmar), o problema está num processo inacabado de suporte à própria moeda única, nomeadamente pela (quase, na prática) ausência de políticas comuns a nível orçamental e fiscal. Aproveito, então, para de lá retirar esta citação do The Observer: “Para sobreviver, a união monetária tem de se transformar numa união política. Se isto não acontecer, é provável que ocorra uma implosão e uma mudança para uma Europa a duas velocidades.” O seu autor, Gerard Lyons, ‘chief economist’ no Standard Chartered, chama ainda a atenção para o facto de uniões monetárias terem colapsado por não terem sido acompanhadas pela união fiscal. E o conhecido Nouriel Roubini, professor de economia na universidade Stern School of Business at New York, acrescenta aquilo que já paira na mente de muita gente, a possibilidade mesmo da saída da União de alguns dos seus membros!

Para se evitar a repetição de crises forjadas para proveito exclusivo dos mesmos (especuladores) de sempre, das duas uma, portanto: ou a União actua com coerência e em bloco, ou se acaba de vez com a especulação! O que – nas condições actuais da União, por um lado, deste sistema que (se) alimenta (d)a especulação, por outro – não passa, em qualquer dos casos, de uma impossibilidade.

Resta-nos, até ver, continuar sujeitos às nefastas consequências de um dilema insolúvel!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O triste estado do Estado …

Acabo de ver e ouvir, estupefacto, a entrevista de Noronha do Nascimento à RTP.
Fiquei com a triste sensação que este senhor, por tudo aquilo que vi e ouvi - e que, por inerência de funções, é a quarta figura do Estado -, não tem, em meu entender, qualquer perfil para continuar à frente do Supremo Tribunal de Justiça.
Quanto mais para este senhor continuar a ser a quarta figura do Estado …
Pode ser – quem sabe (?) - se com um Alka-Seltzer ( 324 mg de ácido acetilsalicílico, 1625 mg de bicarbonato de sódio e 965 mg de ácido cítrico ) me ajude a debelar esta minha triste sensação de que "isto" - do Estado - está mesmo a bater bem lá no(s) fundo(s) …
Enfim :
- triste estado a que chegou o (meu) Estado !!!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O próximo futuro ...

Dedicado, com carinho, a Tod@s as/os Amig@s Sportinguintas ...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

(In)Tolerância ...

Um sujeito estava a colocar flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês a colocar um prato de arroz na lápide ao lado.
Ele vira-se para o chinês e pergunta :

- Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o seu defunto virá comer o arroz?

E o chinês responde:

- Sim, e geralmente à mesma hora que o seu vem cheirar as flores...!!!


Respeitar as opções do(s) outro(s), em quaisquer circunstâncias , é uma das maiores virtudes que um ser humano pode(rá) ter.


É que quando se pensa que se sabe todas as respostas, vem a Vida e muda todas as perguntas ...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tinariwen - Música Touareg...

... e a história da luta pela identidade de um povo. Excelente!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os tempos que correm ...

«Convencidos da vida há-os, afinal, por toda a parte, em todos (e por todos) os meios.
Eles estão convictos da sua excelência, da excelência das suas obras e manobras (as obras justificam as manobras), de que podem ser, se ainda não são, os melhores, os mais em vista.
Praticam, uns com os outros, nada de genuinamente indecente: apenas um espelhismo lisonjeador.
Além de espectadores, o convencido precisa de irmãos-em-convencimento. Isolado, através de quem poderia continuar a convencer-se, a propagar-se?
(…) No corre-que-corre, o convencido da vida não é um vaidoso à toa.
Ele é o vaidoso que quer extrair da sua vaidade, que nunca é gratuita, todo o rendimento possível.
Nos negócios, na política, no jornalismo, nas letras, nas artes.
Para quem o sabe observar, para quem tem a pachorra de lhe seguir a trajectória, o convencido da vida farta-se de cometer «gaffes».
Não importa: o caminho é em frente e para cima.
A pior das «gaffes», além daquelas, apenas formais, que decorrem da sua ignorância de certos sinais ou etiquetas de casta, de classe, e que o inculcam como um arrivista, um «parvenu», a pior das «gaffes» é o convencido da vida julgar-se mais hábil manobrador do que qualquer outro.
Daí que não seja tão raro como isso ver um convencido da vida fazer plof e descer, liquidado, para as profundas.
Se tiver raça, pôr-se-á, imediatamente, a «refaire surface».
Cá chegado, ei-lo a retomar, metamorfoseado ou não, o seu propósito de se convencer da vida – da sua, claro – para de novo ser, com toda a plenitude, o convencido da vida que, afinal… sempre foi.»
Alexandre O’Neill, in «Uma Coisa em Forma de Assim»

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A (des)propósito ...

“…Trocadas as descomposturas preliminares, sobre a questão da fazenda,decide-se que é indispensável, ainda mais uma vez, recorrer ao crédito, e faz-se novo empréstimo.
No dia seguinte averigua-se, por cálculos cheios de engenho aritmético que para pagar os encargos do empréstimo do ano anterior não há outro remédio senão recorrer ainda maisuma vez ao país e cria-se um novo imposto.
Fazem-se empréstimos para suprir o imposto, criam-se impostos para pagar os empréstimos, tornam-se a fazer empréstimos para atalhar os desvios do imposto para o pagamento dos juros, e neste interessante círculo vicioso, mas ingénuo, o deficit - por uma estranha birra, admissível num ser teimoso, mas inexplicável num mero saldo negativo, em uma não-existência - aumenta sempre através das contribuições intermitentes com que se destinam a extingui-lo, já o empréstimo contraído, já o imposto cobrado…
Pela parte que lhe respeita, o país espera.
O quê?
O momento em que pela boa razão de não haver mais coisa que se colecte, porque está colectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague."
Ramalho Ortigão, in Farpas ( em : 1882)

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A propósito de/do carácter …

“ O carácter é constituído por um agregado de elementos afectivos aos quais se sobrepõem, mesclando-se muito pouco a eles, alguns elementos intelectuais. São sempre os primeiros que dão ao indivíduo a sua verdadeira personalidade. Sendo numerosos os elementos afectivos, a sua associação formará variados elementos: activos, contemplativos apáticos, sensitivos, etc. Cada um deles actuará diferentemente sob a acção dos mesmos excitantes.Os agregados constitutivos do carácter podem ser fortemente ou, ao contrário, fracamente cimentados. Aos agregados sólidos correspondem as individualidades fortes, que se mantêm não obstante as variações de meio e de circunstâncias. Aos agregados mal cimentados correspondem as mentalidades moles, incertas e mutáveis. Elas modificar-se-iam a cada instante sob as influências mais insignificantes se certas necessidades da vida quotidiana não as orientassem, como as margens de um rio canalizam o seu curso.Por mais estável que seja o carácter, permanece sempre ligado, no entanto, ao estado dos nossos órgãos. Uma nevralgia, um reumatismo, uma perturbação intestinal, transformam o júbilo em melancolia, a bondade em maldade, a vontade em indolência. Napoleão, doente em Warteloo, já não era Napoleão. César, dispéptico, não teria, sem dúvida, transposto o Rubicon.”
Gustave Le Bon - «As Opiniões e as Crenças»

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

A tecnologia …

“ A tecnologia que inunda o mundo de hoje, e a ciência que a serviu, não o invadem apenas na parte exterior do homem mas ainda os seus domínios interiores.
Assim o que daí foi expulso não deixou apenas o vazio do que o preenchia, mas substituiu-o pelo que marcasse a sua presença.
O mais assinalável dessa presença é por exemplo um computador.
Mas será a obra transaccionável por um parafuso? “
Vergílio Ferreira, in “Escrever”