Mais uma vez os patrões indígenas – meros peões na luta global das grandes corporações empresariais – ‘sentem’ que é este o momento oportuno para exigirem do Governo novas medidas legislativas que lhes permitam intensificar a exploração do trabalho/acumulação do capital. À boleia de uma proposta partidária de idêntico propósito, ‘soprada’ por Bruxelas(!), insistem na necessidade de uma maior ‘flexibilização das leis laborais’, ou seja, solicitam autorização (!) para despedirem legalmente sem restrições!
Depois da desregulação financeira – que permitiu o regabofe liberal na origem da actual crise e que, pelos vistos, de nada aproveitou e assim vai continuar; da progressiva destruição do Estado Social – tido como prestador de regalias e não como garante de direitos, logo esbanjador do dinheiro dos contribuintes em inúteis e incompetentes; resta agora completar o modelo ultraliberal com a imposição da total precarização laboral – exclusão de quaisquer direitos de protecção sobre o trabalho, com o regresso à lei da selva contratual, expondo o trabalhador às arbitrariedades dos ‘empregadores’, os que detêm o poder efectivo nas sociedades actuais.
A extrema e cada vez mais generalizada degradação das condições de prestação do trabalho a prazo (o equivalente, na actualidade, à dependência gerada, no passado, pelos sistemas de escravatura), a par do aumento das disparidades de rendimentos, torna a situação social cada vez mais explosiva. Que irá contribuir, mais cedo ou mais tarde, para o recrudescer das ‘velhas’ lutas de classes, tão ‘velhas’ como as sociedades humanas organizadas. ‘Adormecidos’ durante décadas, por obra e graça da hegemonia das teorias keynesianas e do modelo social-democrata – que conseguiram anestesiar as vontades e retardar a mudança social – os conflitos ameaçam agora irromper com violência, não obstante as condições sociais serem muito diferentes das dos séc. XIX e XX, a nível da estrutura de classes, do modo de vida e das próprias formas de luta.
Por agora, empurrados pela necessidade ou tomados pela ousadia, retiram-se as máscaras, desvanecem-se os subterfúgios, surge com maior nitidez a divergência inconciliável dos interesses em presença. Sem pudor, os detentores do poder assumem pretender uma maior liberdade na gestão da precariedade do trabalho, um controle sem limites do ‘mercado laboral’ – peça estratégica desse mecanismo global imposto para dirigir as sociedades! Confiados em que o outro lado, sofrendo o grosso dos efeitos punitivos de uma crise que não provocou e, por enquanto, incapaz de se organizar para lhes fazer frente (receio de perder o pouco que lhe resta?...), permaneça numa ‘acomodada expectativa’.
No âmago de uma crise económica e social marcada pela incerteza e pela insegurança, que ameaça pôr tudo em causa, o que mais se sente e ganha relevo é a ausência de uma alternativa segura ao modelo que a ela conduziu. Mas para além de todos os jogos e manipulações partidárias de escasso ou nulo conteúdo político, pressente-se o desespero de quem descrê da capacidade do poder público (e dos seus representantes eleitos) em encontrar soluções práticas e viáveis, em centrar-se na regulação democrática da realidade social, por demasiado dependente da inevitabilidade do ‘poder soberano dos mercados’.
Pois é a altura de recordar que, por trás destas manifestações, destas expressões exteriores de força – mais ofensivas de um lado, ‘apenas’ (?) resistentes do outro – encontra-se uma realidade mais profunda. Capaz de a qualquer momento explodir e tudo alterar. É tempo de proclamar que, depois da economia, o que se encontra subjacente a esta crise... ‘é a luta de classes, estúpido!’
E ainda isto, como se explica?
Há 3 horas
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