sábado, 15 de agosto de 2009

É possível o ‘desenvolvimento sustentável’ nas sociedades dominadas pelo mercado? - V

É possível ainda ‘salvar’ o planeta ?

Perante o quadro traçado e a aparente inutilidade dos esforços para o alterar, o desfecho mais racional ditaria a adopção de uma atitude de resignação, de baixar os braços ou desistir, restando então aguardar pela eclosão da catástrofe. Em especial a constatação da ineficácia das medidas tomadas a nível local, num mundo globalizado, conduz à aceitação, como inevitável, do que parece ser, precisamente, uma estratégia de resignação ou capitulação: considera-se apenas possível responder aos graves problemas ambientais com comportamentos e medidas de política visando, por um lado, a mitigação dos seus efeitos mais gravosos com vista, nomeadamente, à redução das emissões de gases com efeito de estufa (através de uma maior eficiência energética, de normas ambientais mais apertadas, de um controle mais severo no seu cumprimento), por outro, alertando para a necessidade de se procurarem desde já as vias para uma adaptação aos novos parâmetros climáticos, para uma absorção devidamente programada dos seus impactos.

Em face da dimensão atingida pelo problema e das previsões científicas que apontam para cenários altamente subversores do modo de vida actual, não pode questionar-se a necessidade da sua adopção generalizada, tanto a nível individual como institucional. Contudo, reduzir a estratégia de luta contra as agressões climáticas à ‘mitigação’ e ‘adaptação’ significa, só por si, abdicar de inverter uma situação em degradação acentuada, assumir a incapacidade para responsabilizar os seus fautores, premiar, em última instância, o acto predador que este sistema tem levado a efeito sobre o planeta, pondo em causa o seu futuro.

Apesar das certezas que, a este nível, podem já considerar-se adquiridas, importa reconhecer que subsistem ainda demasiadas incógnitas e com frequência se revelam imprevistos decorrentes de factores imponderáveis. Subsiste, sobretudo, uma nesga de esperança numa hipotética inversão da tendência no sentido da catástrofe, se for possível alterar, em tempo útil (ou seja, a breve prazo), as condições que determinam e influenciam o meio ambiente, sejam as materiais (alteração das fontes energéticas) ou as políticas (alteração da orientação económica do planeta), que de modo algum deve ser desprezada.

Entretanto, não obstante os efeitos positivos do ainda débil mas gradual despertar de um crescente número de pessoas para os problemas ambientais e a causa ecológica, contudo, a sua capacidade para reverter esta situação é extremamente débil e limitado, pois esbarrará sempre num sistema cuja lógica implica um consumo descontrolado dos recursos do planeta em nome da valorização incessante da mercadoria e das sagradas regras do mercado. Torna-se, pois, óbvio – mas importa aqui acentuá-lo com o maior ênfase – que a solução para os problemas ecológicos não passa apenas, nem sequer principalmente, pela alteração dos comportamentos individuais em matéria ambiental, mas implica sobretudo a assunção colectiva (ou pública) dessas responsabilidades.

Aliás, na fase actual, perante a apertada interdependência e a densa rede de ligações que se observa a nível planetário, deve assumir-se que a consciência das pessoas sobre os problemas ambientais só conseguirá ser despertada e, consequentemente, o seu comportamento cívico mobilizado para a necessidade de pôr cobro à desenfreada predação dos recursos e degradação das condições ambientais de vida, perante situações dramáticas ou outras que impliquem alterações radicais no seu modo de vida.

Nesse sentido, não sendo previsível que a ocorrência de catástrofes naturais de grande dimensão (ou a acentuação da sua frequência), possa contribuir, só por si e em tempo útil, para tornar consciente e impor a necessidade de mudanças radicais, a médio prazo apenas seria expectável tal efeito perante a hipótese (mirífica?) de geração de energia ilimitada a partir de uma fonte de recursos limpa e praticamente inesgotável (energia mecânica com origem magnética?) ou num método que a consiga sem consumo de energia (o motor do mítico movimento perpétuo?) – o que alteraria radicalmente as condições actuais de produção, as próprias relações sociais e todo o actual modo de vida das sociedades. Mas será realista esperar tal milagre?

Realista é, sem dúvida, considerar que o mundo se encontra confrontado com uma séria questão energética – ainda que a escassez de recursos se não reduza às fontes de energia (ela é até mais grave no que respeita à água, aos bens agro-alimentares ou mesmo ao ambiente!).
(...)

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