Os limites da acção dos movimentos ecológicos
Não deixa de ser perigosamente ilusória, de facto, a luta que os movimentos ecologistas, apostados em denunciar e alterar este estado de coisas, desenvolvem um pouco por toda a parte, mas sem se atreverem a pôr em causa o que lhe dá origem e a determina – a lógica da mercadoria – que impõe uma sempre crescente valorização do capital (que se pretende traduzir por desenvolvimento) sem olhar aos meios utilizados, o que de modo algum se compadece com preocupações ambientais, como a razão explica e a experiência comprova. ‘Perigosamente ilusória’, porque ao desviar a atenção da verdadeira origem do problema, aliena a possibilidade de o resolver de forma consistente, para além da acção de resultado casuístico, criando ainda expectativas impossíveis de realizar.
Ao mesmo tempo, resulta de fraca ou nula eficácia, o esforço posto na defesa de um desenvolvimento sustentável (por estes movimentos e por todos quantos o propõem como alternativa), quando tal é feito sem que se tenham em conta e se questionem as condições de funcionamento do próprio sistema – sujeitas ao domínio absoluto do mercado capitalista – que aceitam como um dado natural ou uma inevitabilidade abstracta e a-histórica, ainda que a merecer reparos e ajustamentos de forma a despojá-lo dos aspectos mais odiosos e a torná-lo menos agressivo para o ambiente. Ajustamentos que todos sabem não terem hipótese de virem a ser considerados (ou de resultarem), pois isso equivaleria a dizer que o sistema aceitava alterar a sua natureza - como se o lobo pudesse deixar de ser carnívoro para se converter em herbívoro!
Nestas circunstâncias e perante a impossibilidade lógica de se alterarem as condições de funcionamento do próprio sistema (sem o desvirtuar), a acção em prol da construção de alternativas a uma situação cada vez mais unanimemente considerada insustentável, corre o risco de se transformar apenas numa luta contra moinhos de vento (como o recurso a tecnologias para substituir os mecanismos naturais de regulação climática na base de soluções tão engenhosas quanto aparatosas: o conhecido autor do conceito de Gaia, James Lovelock, por exemplo, sugere a criação de sombrinhas espaciais que protejam a Terra dos raios solares, contribuindo, assim, para a arrefecer e atenuar os efeitos esperados da diminuição dos glaciares polares no aumento da temperatura do planeta!)
Melhor que quaisquer outras considerações sobre a validade destas propostas, importa atentar no alerta lançado na síntese elaborada pelo próprio Lovelock (o que não significa total aderência às teses defendidas por este autor, mas apenas o inquietante alerta de um reconhecido especialista): “O desenvolvimento sustentável, suportado pelo uso da energia renovável, é a abordagem da moda sobre viver com a Terra, e é a plataforma dos políticos de pensamento verde. Em oposição a esta perspectiva, particularmente nos Estados Unidos, estão os muitos que ainda vêem o aquecimento global como ficção e favorecem os velhos hábitos". Estes últimos, explica, actuam ancorados mais na fé – ‘Deus tomará conta da Terra’, nas palavras de Madre Teresa de Calcutá – ou mesmo nos ‘velhos hábitos’ (que determinaram a situação actual), do que na ciência..
E prossegue, mais adiante: "Muitos consideram esta nobre política (do desenvolvimento sustentável) moralmente superior ao laissez faire dos velhos hábitos. Infelizmente para nós, estas abordagens totalmente diferentes, uma a expressão da decência internacional, a outra das forças de mercado insensíveis, têm o mesmo resultado: a probabilidade da alteração global desastrosa. O erro que partilham é a crença de que mais desenvolvimento é possível e que a Terra continuará, mais ou menos como agora, durante pelo menos a primeira metade deste século. Há duzentos anos, quando a alteração era lenta e inexistente, podíamos ter tido tempo para estabelecer o desenvolvimento sustentável, ou até ter continuado durante algum tempo com os velhos hábitos, mas agora é tarde demais; o estrago já foi feito”. E a conclusão não pode ser mais pessimista, ao apontar que, não obstante as diferenças, estas duas vias convergem para a existência, em breve, de um planeta onde poucos terão possibilidade de sobreviver...
Contra os que depositam confiança inabalável nas soluções da técnica para ultrapassarem este aperto da Humanidade, resta o conforto do aviso de Darwin: ‘Não é a mais forte das espécies que sobrevive... Nem a mais inteligente... Mas a que for mais adaptável à mudança’.
(...)
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