Detenho-me, por momentos, num desses programas que, por estes dias, pretendem fazer o balanço do ano que agora finda e perspectivar o que aí vem. É na SIC/N, pelo moderador (Martim Cabral) presumo que se trate do ‘Internacional SIC’, o tema deve incidir sobre esta área, portanto. Chego quase no fim e por isso admito poder ter perdido alguma coisa de relevante para o tema que aqui me proponho trazer. Penso que não, porque ele é introduzido a ‘talhe de foice’, para elucidar um raciocínio que vem de trás (confesso que não o apanhei, não cheguei a tempo, portanto).
Tão pouco consigo identificar o comentador, ao contrário da tese por ele apresentada, mais ou menos do seguinte teor: ‘O aquecimento global é um mito (o tema é até introduzido nos seguintes termos: ‘é como o mito do aquecimento global’...). Trata-se do maior esforço alguma vez feito pelo capitalismo para se reconverter e se salvar. À conta do aquecimento global floresce toda uma indústria de novas tecnologias – uma nova revolução industrial – tendo como objectivo responder ao pânico criado por uma tese que, afinal, carece de demonstração científica. Este é, aliás, o grande mérito do Al Gore, na sua cruzada pelo ambiente. Não é por acaso que, por trás deste esforço tecnológico, se encontram as maiores petrolíferas.’
Como digo, não sei se me escapou alguma coisa de importante nesta formulação teórica, aparentemente anti-capitalista. Descoberto o vilão, as petrolíferas, há que rejeitar tudo o que elas produzam (por receio de contaminação?), incluindo, portanto, as inovações tecnológicas de combate ao aquecimento global. Considerando-se culpado o mensageiro, recusa-se também o conteúdo da mensagem. Não percebo sequer por que razão se não deve aproveitar o ‘pretexto’ (partindo da validade de tão peregrina teoria) para então se poder ganhar maior eficiência no uso de recursos escassos e reduzir-lhe os efeitos nocivos sobre o ambiente – ao menos quanto a isso há unanimidade.
A História está cheia de relatos semelhantes, de tentativas goradas de oposição ao avanço tecnológico, na sua essência, libertador da servidão a que o homem se encontra sujeito. Como o dos luditas, na Inglaterra do início da revolução industrial – cuja generosidade não se questiona – atirando os teares mecânicos ao mar na vã esperança de protegerem os seus empregos artesanais. Não sei se, no caso vertente, se trata apenas de generosidade, o que sei é que existem ‘lobbies’ fortíssimos, precisamente ligados aos interesses petrolíferos, constituídos com o propósito de desacreditarem a teoria do aquecimento global, para isso recorrendo ao testemunho de ‘cientistas’ a quem não sobram escrúpulos para se fazerem pagar por se prestarem a tal papel!
E sei também que, a manter-se a presente tendência de aumento na atmosfera de gases com efeito de estufa (por força das emissões de dióxido de carbono, com origem sobretudo na queima de combustíveis fósseis), as consequências podem vir a revelar-se devastadoras para o modo de vida actual. Não surpreende, pois, que a comunidade científica venha alertando, cada vez com maior insistência e crescente veemência, para alguns dados insofismáveis que apontam para a eminência de catástrofes ambientais de imprevisíveis consequências (naturais e sociais). Aliás, perante ‘apenas’ a hipótese do aquecimento global e os cenários delineados, bastaria a dúvida sobre as suas causas para exigir uma atitude de prudente precaução (que a ONU já adoptou como princípio) que conduzisse à adopção de medidas preventivas e não o irresponsável alheamento ou o provocador afrontamento (apelidando-a de catastrofista).
Abundam na História (mais uma vez aqui convocada) exemplos de civilizações desaparecidas na sequência (ainda que não por razões exclusivas) de catástrofes ambientais e do precoce esgotamento dos recursos, provocadas por mau uso na exploração destes ou aplicação de técnicas desapropriadas. Dos habitantes da Ilha de Páscoa, aos Vikings, aos Maias,... tudo, aliás, bem documentado, no título, de leitura obrigatória, ‘Colapso’, de Jared Diamond, de que acaba de sair tradução em português (obrigado pela sugestão, José de Sousa). No ponto crítico em que se encontra já este problema, hoje, pouco importa que as medidas para o contrariar sejam ditadas por interesses egoístas ou orientadas por valores mais altruístas. Quando muito poderá aqui aplicar-se a sabedoria popular vertida na velha máxima: ‘Deus escreve direito por linhas tortas’. Ainda que convenha ficar atento aos seus desenvolvimentos.
É que, por esta altura, o mais importante é mesmo fazer alguma coisa a tempo de evitar que a situação se torne irreversível. Sob pena de poucos restarem para fazerem jus aos imaculados princípios que alguns, agora, tentam impor aos outros – mas que quase de certo não praticam.
Os números que Marques Mendes não mostrou
Há 11 horas
3 comentários:
Não vi o programa.
Só que o loby "anti-capitalista" contra a teoria do Aquecimento Global está a fazer, pelos vistos, o seu caminho.
O Zé Sousa que, entretanto, só regressa da Madeira lá para 13 de Janeiro -e que só a espaços tem tido internet - é que não sei se, por acaso, viu o dito cujo programa.
Se viu, vai ser do "bom e do bonito" ...
CBS
Não vi o dito programa, mas pode ser que repita. No entanto, não me admiro nada acerca desse tipo de teoria da conspiração a que alguns - muitos- media se prestam a dar tempo de antena. O discurso anti-capitalista contra o aquecimento global é bem real, embora cego e ignorante!
Expliquei-me mal, no comentário anterior. O que queria dizer é que o discurso contra o aquecimento global que invoca argumentos de natureza ideológica, e não científica, é comum. O "lobby capitalista" desvaloriza o aquecimento global porque sabe que o seu reconhecimento implica alterações que vão contra os seus interesses de curto prazo e confunde propositadamente argumentos de natureza científica com argumentos de natureza ideológica. Saber se há ou não aquecimento global não é um problema de esquerda ou direita, mas de investigação científica.
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