sexta-feira, 31 de maio de 2013

Saídas para a crise – IV

A caminho de  ‘Sociedades do conhecimento’?

Não é líquido, muito menos pacífico, o rumo que a organização social tomará, menos ainda se torna clara a forma desse novo modelo de sociedade. Mas do que conscientemente já ninguém tem dúvidas e parece já não poder sofrer contestação é, pela evidência das transformações em curso, a necessidade de uma mudança social profunda – porventura antes que seja demasiado tarde!

As grandes modificações a que se assiste hoje no funcionamento das mais diversas áreas da sociedade, têm por base a adopção de um ‘novo paradigma tecnológico’ assente essencialmente num princípio estratégico, o conhecimento, potenciado pelas actuais formas de comunicação e actuação planetária, a globalização, das unidades produtivas actuando em rede. Daí a designação de ‘sociedade em rede’ com que se pretende caracterizar uma sociedade onde a circulação da informação e as comunicações se processam essencialmente a nível horizontal (por contraste com a organização das sociedades passadas, de comunicação vertical), tendo como efeito a valorização da actuação individual sobre a colectiva, a descentralização das relações sociais sobre a organização hierárquica centralizada e a aceleração da inovação. A sua expressão mais paradigmática e até simbólica encontra-se na internet, a mais poderosa ferramenta tecnológica criada pelo homem que, ao propiciar uma completa atomização social, expressa nas redes sociais, (1) permite romper com as barreiras tradicionais de controle social, (2) torna possível a autonomia e a independência dos membros da sociedade e a consequente explosão criativa, (3) acelera a desagregação social, pondo em causa relações instituídas (a começar pelas salariais), instituições consolidadas (a empresa,...), no fim o próprio modelo de organização dominante nas sociedades actuais.

É, pois, na combinação desses dois factores – conhecimento e globalização (a sociedade em rede) – que se encontra o essencial da explicação para as transformações técnicas e sociais em curso, que se designa por revolução informacional. Não obstante este processo ficar mais conhecido pela forma que reveste a sua divulgação (a globalização das relações por todo o planeta) do que pelo conteúdo essencial que o caracteriza (centrado nos saberes e na informação), não parece mesmo restar qualquer dúvida quanto à orientação e rumo que essas mudanças estão a tomar no sentido da construção de novas ‘sociedades do conhecimento’, que ameaçam subverter de forma radical, o nosso actual modo de vida.

As novas tecnologias de informação tornam possível e estão a criar, ainda no âmbito do modo de produção capitalista, um modelo de desenvolvimento diferente do industrial – que se pode então designar por desenvolvimento informacional – operando um enorme incremento da produtividade (nos últimos 30 anos, a capacidade produtiva aumentou entre 15 a 20 vezes!). Ora, este elevado nível de produtividade deveria ser aproveitado, em termos de desenvolvimento humano, para melhorar as condições de vida das populações, desde logo permitir a redução do tempo de trabalho. Efeito que esbarra na lógica de funcionamento das sociedades dominadas pelo capital: os ganhos de produtividade são prioritariamente canalizados para o reforço das empresas na sua luta de sobrevivência com a concorrência, através da expansão contínua da produção e permanente alargamento dos mercados, seja em termos geográficos, seja no aprofundamento do consumo.

Já não é possível ignorar, entretanto, os efeitos demolidores que irá sofrer o modo de vida que caracteriza as sociedades do presente, rumo, pois, ao que se afigura ser o seu mais que provável destino, as sociedades do conhecimento, em construção a partir de múltiplos contributos, organizativos, técnicos e humanos. Numa sociedade dominada pelo conhecimento, apenas uma certeza se consente e pode considerar adquirida: a de que, tratando-se de um objectivo sempre incompleto, o processo para o conseguir apenas pode aspirar à sua contínua aproximação, mas permanecendo indefinidamente inacabado, o que significa que nela deverá preponderar a busca permanente do saber e de novos aperfeiçoamentos, prevalecer a insatisfação sobre a acomodação, a contingência e a incerteza sobre o imobilismo e o determinismo, a exigência sobre a negligência e a indiferença.

Resta saber como o modelo de sociedade que daí resultar será capaz de responder aos problemas de hoje, sociais, ambientais e até económicos. Sobretudo, qual a alternativa viável ao domínio absoluto do mercado, numa sociedade forçosamente fundada sobre valores diferentes dos que a ‘lei do valor’ impõe actualmente de forma cega, absoluta e suicida. É o que sucede, de forma paradigmática, na apropriação do tempo de trabalho por parte do capital (sob a forma de emprego), categoria descartável desde que não contribua para a criação de valor (acabando no desemprego).

Seguramente que ‘amanhã vai ser outro dia', mas o futuro é já agora – ainda que ‘apenas’ nas condições objectivas para um novo modo de vida, por enquanto preso na esconsa e tentacular teia dos interesses que nos trouxe até aqui, à Crise actual!

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