terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O discurso da Noite!

O último discurso da noite foi o do vencedor. É da praxe que o vencedor, seja à noite seja de dia, se apresente magnânimo com os vencidos, que esqueça eventuais agravos, procure aproveitar a onda de vitória para virar a página, unir esforços, reganhar a confiança mesmo entre aqueles que para ela não contribuíram. Pelo menos é essa a norma adoptada pelos homens sensatos, nem é preciso convocar os de espírito superior. Mandaria até a simples boa educação. Faz parte, aliás, das regras (não escritas) da democracia.

O discurso do vencedor da Noite, porém, foi tudo menos magnânimo, foi tudo menos sensato. Foi, a vários títulos, muito pouco democrático. A condizer em tudo com o perfil do vencedor: mesquinho, convencido, narcísico, divisionista (‘os meus votantes’... e os outros), vingativo, misógino, contabilista, pretensioso. Revelando aquilo que de facto é, um político (mesmo que diga não o ser) paroquial, falho de visão e de estratégia e, o que é pior, de cultura democrática (não tolera a crítica nem admite o erro), preso dos compromissos assumidos, obcecado pelos seus interesses pessoais e os do seu pequeno círculo de amigos, pois – valha a verdade – a pouco mais alcança a tacanhez (para dizer o mínimo) da sua perspectiva política.

No seu ‘discurso da noite’, o vencedor leu nos resultados uma espécie de plebiscito sobre as acusações de que foi alvo na campanha, considerando-os suficientes para o ilibarem de todas as malfeitorias que lhe atribuíam e lhe lavar a honra e a dignidade ofendidas. Na ocasião, para além do fel derramado sobre os seus adversários (e, na sua boca, caluniadores vencidos), reiterou a promessa (?) de que não abdicará de usar todos os seus poderes (!), de que irá intervir mais na vida política (?) através do que designou por ‘magistratura activa’!!!

Se a isto agregarmos o que já havia dito na campanha quando falou na possibilidade de uma crise política grave; os comentários esparsos que foram sendo atirados ao longo da noite pelos seus apoiantes pretendendo reverter quanto antes os resultados apurados na governação do país – o mais inteligente, no dizer de Soares, parece ter sido Passos Coelho, com um discurso de calculado distanciamento (por um lado, o momento ‘queima’, por outro, convém apresentar-se desinteressado do poder, cai bem...); tudo isso tendo por lastro as fartas e impacientes expectativas dos seus fervorosos prosélitos, bem nutridas por um mês de promessas gordas do candidato, facilmente se adivinha o futuro próximo: maior austeridade na Crise instalada, ataque continuado ao SNS (sob pretexto de mais racionalidade nos gastos), gradual fragilização dos direitos sociais (em especial os do trabalho), degradação contínua das condições económicas,...

Com Sócrates ou sem Sócrates, com Passos ou sem Passos,... preparem-se, está aí o triunfalismo cavaquista. A pedir contas dobradas por tanta crença e tamanha devoção. Assim ficou determinado na Noite do discurso triunfante do, até agora, esfíngico Presidente! E a partir de agora?

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