quinta-feira, 4 de março de 2010

A propósito, mais uma vez, da produtividade nacional - I

Os quês: por aqui se fala de mandriões e de mandões!

Volta e meia regressa à cena política e mediática a discussão sobre a produtividade nacional. Esta persistente recorrência do tema não surge por acaso, visa objectivos bem definidos, invariavelmente procurando perante a opinião pública justificar a aplicação de ‘políticas de correcção’(!), eufemismo com que se pretende apresentar como inevitável uma maior contenção nos rendimentos do trabalho.

Não admira, pois, que o assomo de qualquer nova onda na crise económica, faça ressurgir, agora e sempre, a explicação da falta de competitividade da economia portuguesa perante as suas congéneres europeias (é este o espaço em que se integra, até aqui nada de mais), dado o nosso atávico desnível neste domínio. O argumento é invocado, claro, para se concluir que, (1) se a produtividade do trabalho nacional é baixa, (2) é porque os custos da respectiva componente laboral no PIB são comparativamente muito elevados, (3) logo, a solução, inevitável, passa por se reduzirem esses custos – por baixar/depreciar o trabalho (a começar pelo salário)!

Vai-se tornando cansativo, frustrante, deprimente mesmo, o insistente relambório de que as causas de todos os males do país radicam na sua baixa produtividade, o que visa essencialmente justificar as políticas de constante desvalorização do trabalho – a única variável ‘tolerada’ pelo mercado para proceder aos indispensáveis ajustamentos externos, seja nas contas nacionais ou nas empresas, por via da redução salarial ou da precariedade do emprego!

Pondo de lado o facto (por vezes decisivo) da competitividade de um país não depender apenas da produtividade, vale a pena ‘perder’ algum tempo a reflectir sobre o contributo dessa (sempre decisiva) componente na criação da riqueza nacional, o trabalho. Desde logo para a formulação da pergunta sacramental: se a baixa produtividade continua a manter-se como uma pecha peçonhenta que deprime o país e afasta o maná dos investimentos externos (entre outras bem-vindas bem-aventuranças), a que se deve? Uma resposta imediata, quase por reflexo, aponta, acusadora, os ‘mandriões dos trabalhadores’ em geral (com honrosas excepções, concede-se!), todos reivindicam direitos ninguém está disposto a cumprir obrigações, gente disposta a fazer o mínimo mas a exigir o máximo e... “assim não vamos lá”, rematam, peremptórios!

Mas... quais trabalhadores? Os mesmos que, lá fora, num qualquer país estrangeiro, nas mais diversas situações e funções, se esforçam e dão muito bem conta do recado (não alinho nem vou ao ponto de afirmar serem dos melhores do mundo, basta-me que sejam iguais), mas quando em idênticas situações, cá dentro, produzem muito menos e não passam de uns... ‘calões’?

Decididamente algo aqui não bate certo. E daí que desde logo haja de esclarecer-se: a causa da baixa produtividade não está em trabalhar mais, mas em trabalhar melhor, não está em despender mais esforço, mas em reproduzir esse esforço de uma forma mais organizada. O problema é, mesmo, ORGANIZAÇÃO. E se a ‘culpa’ é da organização – ou da falta dela – então os ‘culpados’ são, em primeira instância, os... gestores e organizadores, todos os que têm de a formular, planear e aplicar, enfim, os decisores em geral – não são apenas ‘mandões’ na política ou nas empresas, eles ‘mandam’ também na produtividade!

Afinal os principais responsáveis pela tão persistente e vilipendiada baixa produtividade são os mesmos que a invocam como argumento (dá jeito em momentos como este), para extraírem mais umas migalhas aos milhões de pedintes em que o país se vai transformando... presumidamente por falta dela. Porque de um modo geral são eles que têm governado o país, definido e imposto – dela se servindo – esta ORGANIZAÇÂO: tanto no Estado, como nas empresas, a nível da sociedade global!

Sobre que elaboram, então – de que se queixam, enfim – os cerca de ‘200 opinion-makers’ (talvez nem tantos!) que ‘fazem’ a opinião pública nacional – para depois ‘falarem’ em nome dela (se afirmam traduzir o pensamento da maioria!) – quando apontam a ‘baixa produtividade nacional’ como a origem de todos os problemas?

(...)

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