O insensato (ou perigoso?) ‘alarmista’ que ousou proferir tal enormidade, a propósito dos efeitos das alterações climáticas, só pode ter sido algum tresloucado esquerdista ou descontrolado ambientalista (admitindo que esquerdista e ambientalista não comem do mesmo prato), em qualquer dos casos um irresponsável. Mas não, esta frase surgiu do sítio porventura mais improvável de aparecer, dadas as especiais responsabilidades do seu autor na compatibilização de interesses a nível mundial.
Reproduzo da edição digital do ‘Público’ de hoje (03.09.09):
‘O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, alertou hoje na Conferência climática mundial, em Genebra, que o mundo “está a avançar para o abismo” devido à intensificação do fenómeno das alterações climáticas.
“Temos o pé pregado a fundo no acelerador e dirigimo-nos para o abismo”, disse Ban Ki-moon na 3ª conferência da ONU sobre Clima, a decorrer em Genebra de 31 de Agosto a 4 de Setembro.
O secretário-geral da ONU, que chegou do Árctico onde constatou os impactos das alterações climáticas, lamentou que, durante anos, os cientistas tenham sido acusados de serem alarmistas. “Mas os verdadeiros alarmistas são aqueles que dizem que não podemos agir pelo clima porque isso iria abrandar o crescimento económico”.
“Não têm razão. As alterações climáticas podem desencadear um desastre maciço”, acrescentou, preocupando-se com os milhões de pessoas que vivem nas zonas costeiras um pouco por todo o mundo, ameaçadas com a subida do nível médio do mar. “O que vão eles fazer quando as tempestades empurrarem o mar terra adentro? Para onde hão-de ir?”.'
Virou-se o bico ao prego! Até aqui eram apodados de alarmistas, ‘os cientistas’ que alertassem para os crescentes impactos das alterações climáticas, agora é o próprio responsável máximo pela mais importante instituição mundial que decide juntar-se aos ‘alarmistas’ e afirmar que o mundo ‘está a avançar para o abismo’ (!) – caso não tiremos o pé do acelerador do crescimento. Num mundo ‘viciado’ em crescimento económico (as razões últimas para tal, já por diversas vezes aqui expostas, estão longe das ‘necessidades por satisfazer’, o suposto objecto da economia, pois não podem ser dissociadas de um sistema movido/dirigido pelo 'motor' da valorização da mercadoria), não consigo antecipar a reacção da maioria das pessoas. Até porque, para muita gente (porventura a maioria), o episódio da Manuela (a outra, a Moura Guedes) é que constituiu a verdadeira ‘cacha’ do dia (nas próprias palavras da dita)! Dá que pensar!
Ora, todos os políticos de todas as políticas têm como principal objectivo, na área económica e social, demonstrarem o maior empenhamento e apresentarem propostas no sentido do desenvolvimento. E quando falam de desenvolvimento falam, antes de mais, de crescimento económico, da criação das condições que a ele conduzam e da forma mais rápida possível de lá chegarem, pois só assim garantem a confiança e a fidelidade dos seus eleitores. Estabeleceu-se mesmo uma espécie de ‘maratona’ – ou (para usar a imagem de Ban Ki-moon do ‘acelerador’) de Fórmula 1’ – para ver quem cresce mais, pois só os mais rápidos, os que mais aceleram, conseguem vencer (tal como nas empresas).
Agora, porém, no chocante alerta do secretário-geral da ONU, acelerar continuamente o crescimento económico, pode bem estar a conduzir o mundo para o abismo!
Eu sei, todos o sabem, o tema do crescimento (e por maioria de razão, o do desenvolvimento) não pode ser reduzido ao que foi dito, nem sequer se pode dizer que tenha sido aqui abordado. Apenas fica o registo de alguns desencontros de um mundo tão multifacetado quanto inesperado, mas em que dá gosto viver. Pelo menos, por enquanto.
Os números que Marques Mendes não mostrou
Há 9 horas
1 comentário:
É preciso passar à acção, apoiando redes globais de pressão sobre os governos como a AVAAZ.
Dia 24 de Outubro, todos a participar no Dia Mundial de Acção Climática.
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