sábado, 19 de setembro de 2009

Da ‘persistente’ crise económica permanente... – I

Faz agora um ano que estalou a crise que pôs o mundo à beira de uma catástrofe sem precedentes. A falência do Lehmans – depois da salvação ‘in extremis’ de alguns outros ‘monstros’ financeiros – desencadeou, por todo o ‘mundo ocidental’, uma tão imprevista quanto imparável onda de desconfiança na consistência do sistema e na sua capacidade para resistir à avalanche de derrocadas financeiras que se anunciavam eminentes. Valeu, na emergência, a avisada intervenção dos poderes públicos, dos EUA à UE, do Japão à China, através de colossais e nunca antes sonhados programas de apoios financeiros, com o dinheiro dos contribuintes a servir de bóia de salvação a instituições contaminadas pelos, só então descobertos (?), ‘activos tóxicos’!

O susto era tão grande, a magnitude dos problemas apresentava-se tão fora de controle que, em Outubro de 2008, o Tesouro norte-americano aventava a hipótese de ser necessário proceder à... ‘nacionalização’ da Banca (!!!) – mesmo que o fosse apenas para, recuperado o susto e o desaire financeiro, voltar aos seus anteriores donos! Em 10 de Novembro, os ministros das Finanças da UE acordavam, entre outras medidas, ‘interditar as praças financeiras ‘off-shores’, a suprema expressão de um capitalismo criativo e desregulado que tinha sido, com devoção e sem grande contestação, a única orientação económica admitida no ‘mundo ocidental’, de repente órfão em pânico!

Passado um ano sobre o início do descalabro, a perspectiva que hoje se tem da ‘crise’ apresenta-se algo contraditória: se, por um lado, começa a desenvolver-se a ideia, fortemente apoiada nos persistentes comentários dos opinadores habituais, de que, afinal, tudo isto não passou de mais uma das perturbações a que o sistema se encontra sujeito periodicamente, por outro, a crise mantém-se e ameaça até aprofundar-se – alguns dos mais eminentes economistas têm alertado para a hipótese plausível do seu indefinido prolongamento (em ‘W’, afirma Stiglitz, perspectivando que a uma melhoria temporária se siga nova queda e assim sucessivamente). O importante, para o discurso oficial, é que a crise está à beira de ser ultrapassada..., mesmo que isso acabe por se traduzir apenas no seu adiamento para uma data posterior, o momento, por exemplo, em que os ingentes e diversificados apoios se esgotarem e os planos forem desactivados – é impensável poderem durar sempre... Susto passado, perigo esquecido!

Na actual campanha eleitoral ou fora dela, ninguém parece muito interessado em debater ou sequer aflorar os temas essenciais por trás da crise financeira (e que, em última análise, melhor a explicam): a profunda degradação do ambiente, a intensa predação dos recursos naturais (e o seu inevitável esgotamento), o crescimento económico insustentável... Porque isso equivaleria a pôr em causa os próprios alicerces de um sistema que só sobreviverá enquanto lhe for possível ignorar aqueles problemas, enfrentá-los representará eliminar a fonte que o sustenta, pois que a sua energia, o seu sopro vital radica precisamente na expansão contínua da economia. Não obstante algumas tímidas medidas no sentido da recuperação ambiental, o certo é que tudo é feito por forma a não se pôr em causa o crescimento e o lucro das empresas, o nervo, afirmam, da nossa presente prosperidade que ninguém arrisca contestar. Por vezes com a marca improvável de origens menos esperadas (e algo obscuras, como o recente anúncio da introdução de uma ‘taxa do carbono’ por Sarkozy, em França).

Mais ainda, as soluções para a crise são sempre equacionadas como se estas se destinassem e fossem aplicadas apenas no denominado ‘mundo desenvolvido ocidental’, onde floresce o capitalismo avançado do ‘Fim da História’. Pretende ignorar-se que, com a globalização, a superação dos estrangulamentos que a provocaram se encontra fortemente condicionada por tudo o que ocorra no resto do mundo e que, por isso mesmo, qualquer medida tomada num sítio, tem reflexos e provoca ricochete em todos os outros (em graus diversos). O próprio sistema capitalista deixou de ter controle na sua gestão, o gangsterismo tomou conta das leis do mercado (no desenvolvimento lógico, aliás, da sua própria racionalidade!) – e qualquer tentativa de o espartilhar, regulamentando-o, parece condenada ao fracasso.

Esta é, afinal, a lógica imposta pela globalização. Pelo menos, por enquanto.
(...)

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