O vírus do mercado: reguladores e retrovirais
Certo é que não existe ainda cura possível – nem para um nem para o outro. É certo também que, no caso da SIDA, existem os retrovirais, que adiam, por vezes indefinidamente, as consequências fatais da doença. No caso do mercado, o papel dos retrovirais é desempenhado pelos reguladores. Evitam os seus excessos, podem vir a ser até, com o seu desenvolvimento futuro, uma das alternativas possíveis à situação actual.
Mas aceitaremos viver toda a vida dependentes de retrovirais, sempre sob a ameaça de um desfecho imprevisível? Até porque, tal como no caso do vírus da SIDA, o mercado selvagem encontra sempre formas de ludibriar os reguladores. Como está a acontecer no petróleo, afinal.
Assim sendo, retoma-se a questão inicial: qual então a alternativa ao modelo de mercado e a sua viabilidade prática?
Não cabendo aqui o seu desenvolvimento, sempre se avançará que qualquer solução para os problemas levantados pelo mercado não passa apenas pela sua regulação mas pelo seu domínio, ou seja, pela capacidade que as sociedades conseguirem demonstrar em dotar a política dos instrumentos adequados de supremacia sobre a economia e não o contrário, como acontece hoje. Uma alternativa consistente não passa, pois, pelos reguladores: estes, tal como os retrovirais, apenas ajudam a aguentar/controlar a situação (a doença), dando tempo a que se encontre o antídoto ou vacina que permita ultrapassar de vez o problema.
A política actual – da direita à esquerda, diga-se – ao insistir apenas na via de regulação do mercado, de certo não está a ir pelo melhor caminho. É que isso significa a aceitação implícita, ao arrepio do que teoricamente todos apregoam, da supremacia do económico, por via do mercado, sobre o político. Sobretudo com as consequências concretas conhecidas e já referidas (de carácter social, ambiental, económico e político).
E sobretudo não se diga que esta questão é meramente teórica e muito abstracta.
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3 comentários:
Também acho que não pode deixar de comentar este assunto.
A mim não incomoda a sua leitura por ser um tema sempre actual e muito interessante.
Continue s.f.f.; não faça stop.
Caríssimo,
Ora, e como vê, não sou só eu a solicitar a continuação das mui pertinentes e necessárias reflexões sobre o dito-cujo mercado.
Entretanto, vou tratar de aprender como se coloca, aqui no Blogue, e em "destaque", essas mesmas reflexões.
Meus caros,
Tal como já referi noutro local, não é minha intenção deixar de vos ‘massacrar’ com a crítica ao mercado, assim de um momento para o outro. De modo algum. Até porque ela pode ser feita de forma indirecta, porventura com maior eficácia, já que a crítica directa, agora pode até suscitar o efeito contrário, pelo menos ser desvalorizada, olhada apenas como o resultado de uma obsessão: ‘lá está ele outra vez a bater no mesmo’. Claro que, em parte é mesmo uma obsessão, pois como bem sabem, nos últimos tempos tenho andado às voltas com o tema, o que me obrigou a ler e a raciocinar bastante sobre o assunto. Sem certezas absolutas, com muitas dúvidas e vazios, vou arrumando ideias, apurando conceitos, ganhando convicções, ainda que nem sempre passíveis de passar à prática imediata. Utopia? Talvez. Mas não foi a própria ‘Utopia’ original (a de Tomás Moro), ultrapassada já pela realidade em muitos aspectos das nossas sociedades? Já lá vão quase 500 anos, é certo, mas com a aceleração do ritmo das mudanças, quem sabe...
Certo, certo, é que todos os dias nos vemos confrontados com situações absurdas de tão degradantes, consideramos mesmo serem insustentáveis, mas quando procuramos uma explicação, tendemos a encontrá-las apenas em razões de ordem moral ou subjectiva, esquecemos que há mecanismos sociais que se impõem à própria vontade das pessoas. E é aí que entra o mercado: não sendo a explicação para tudo, o certo é que ele está no centro de todas as decisões principais.
Mas lá estou eu outra vez a falar do mercado, ainda que desta a isso expressamente solicitado.
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