Em Julho de 2007, o meu Amigo José Sousa, publicou no seu Blogue "Futuro Comprometido" (http://futureatrisk.blogspot.com/), um excelente artigo sobre as Alterações Climáticas onde justifica e fundamenta a necessidade premente e urgente da existência de um novo paradigma em que a obsessão com a competitividade terá necessáriamente que dar lugar à cooperação.
Ora, com a devida vénia e devidamente autorizado pelo autor, gostariamos de partilhar esta interessante reflexão que, hoje e agora, e face à situação crítica em que vivemos, é mais que pertinente.
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4 comentários:
Trata-se, de facto, de uma importante reflexão, com muita informação e referências ao tema, com a qual estou, em geral, de acordo. Há, contudo, uma citação que denuncia um pouco os limites da luta, extremamente meritória, que os movimentos ecologistas desenvolvem um pouco por toda a parte: «Segundo o "Relatório Stern", as alterações climáticas são a maior "falha de mercado" jamais vista.» Ora, as alterações climáticas não são apenas mais uma “falha de mercado”, elas são antes a consequência inevitável do mercado a funcionar, resultam da LÓGICA DA MERCADORIA que impõe a sempre crescente valorização do capital (apresentada como desenvolvimento) sem olhar aos meios utilizados, o que de modo algum se compadece com preocupações ambientais.
Os acréscimos constantes da produção que a lei do valor (que comanda essa lógica) exige, traduz-se numa ideologia – o crescimento contínuo – sustentada por duas convicções profundamente enraizadas na mentalidade social: a do consumo crescente (assente numa pretensa tendência natural de que o homem é um ser insatisfeito por natureza) e a do progresso tutelar (no momento oportuno irá aparecer uma solução ‘milagrosa’ para as asneiras feitas).
Todo este processo, como é óbvio, já causou danos irreversíveis sobre os equilíbrios ecológicos do planeta. O carácter limitado dos recursos naturais torna-o mesmo insustentável, a prazo, põe em risco o futuro da Humanidade.
E é aqui que se deve retomar a ‘falha de mercado’: é que não basta corrigir a falha, é imperioso contestar todo o modelo assente no mercado.
Bem, isto dava mesmo pano para... Talvez um dia...
Tem toda a razão. Não se trata apenas de uma "falha de mercado". Na realidade são muitas falhas de mercado e, de facto, esse modelo de crescimento/desenvolvimento perpétuo está, esse sim, na raíz do problema. Isto de facto não vai lá apenas com a correcção desta ou daquela falha de mercado. A minha referência ao Relatório Stern é apenas para mostrar que até alguém vindo de origens bastantes conservadoras (Banco Mundial, alto funcionário da Administração Britânica) admite que há algo de muito errado com o sistema actual e que isso pode ter consequências gravíssimas. Por incrível que pareça os conservadores cá da casa quase acusaram o Stern de comunista! È para ver o grau de negação e obtusidade.
Já John Stuart Mill falava do estado estacionário:
«Confesso que não me sinto deslumbrado com o ideal de vida defendido pelos que pensam que lutar é o estado normal dos seres humanos para poderem seguir em frente; que os atropelos, os apertões, as cotoveladas e as ofensas mútuas [...] constituem o quinhão mais desejável reservado à humanidade [...] É quase escusado dizer que uma situação estacionária do capital e da população não implica um estado idêntico do aperfeiçoamento humano. Continua a haver o mesmo espaço de sempre para desenvolver todas as formas de cultura mental e de progresso moral e social, bem como para melhorar a arte de viver. E muito mais possibilidades de ela ser melhorada»
Por outro lado, outro autor(Séc. XX), Nicholas Georgescu-Roegen diz que isto não vai lá com o crescimento sustentável. A biosfera já não aguenta mais. É necessário mesmo promover um "decrescimento". A sua obra "La Décroissance - entropie, écologie, économie está disponível online
Para ilustrar alguns dos comentários na nossa imprensa, neste caso o Jornal de Negócios, pela mão de um ex-Secretário de Estado da Economia, salvo erro:
«se tenha transformado, por via de dogmatismos acientíficos, num processo justificativo do intervencionismo do estado e de restrições ao livre funcionamento da economia de mercado.»
Redira-se que Nicholas Stern já veio dizer que o seu primeiro relatório subestimou o problema do aquecimento global.
Franquelim Alves socorre-se da opinião de um vigarista, pretenso ex-activista da Greenpeace, que já veio dizer que não o conhece de lado nenhum! O infame Bjorn Lomborg!
Caro José M. Sousa,
É exactamente isso que eu penso também. ‘Este’ modelo de desenvolvimento, assente no mercado, seja o do ‘laissez-faire’ puro e duro, seja o do ‘desenvolvimento sustentável’, não abdica, pela sua própria natureza, do crescimento contínuo ou perpétuo. Oportuna e muito interessante, a citação de J. Stuart Mill. Deveria fazer parar um pouco, para nela reflectirem, todos os frenéticos neoliberais.
Dada a extensão (e, penso, também o interesse do tema) deste ‘comentário ao comentário’, resolvi transpô-lo para o corpo do ‘blog’, sob o título «A propósito da exigência de um novo paradigma na organização das sociedades», indo à raiz do que me pareceu a orientação do seu comentário que dá origem a esta sequência de notas. O texto, como é óbvio, não é, nem podia ser, tão pretensioso como o título pode deixar supor. Apenas mais uma achega. Mas a pouco e pouco...
Entretanto e para já, muito agradecido pelas indicações bibliográficas. Aliás e a propósito, o artigo do tal Franquelim, apenas constitui a prova do nervosismo incontido que alastra nas hostes liberais. À falta de argumentos fundados na realidade, recorre-se à ideologia do progresso tutelar, à crença ilimitada nas virtudes da ciência e da técnica que tudo irão resolver no futuro! Estes comentários não são optimistas, são simplesmente a defesa dos interesses dominantes, bem expressos nos ‘lobbies’ constituídos para tal e bem denunciados pelo Al Gore (ou foi o Michael Moore?)!
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