sexta-feira, 5 de novembro de 2010

‘Os mercados querem drogas e prostitutas’, afirma Krugman

Finalmente, começamos a chamar os ‘bois/boys pelos nomes’, destapando-lhes a carapuça. Aqui mesmo abaixo, Borges de Sousa posta os rostos de alguns deles, mas o movimento estende-se, imparável, por toda a ‘Net’, que todos os dias acrescenta nomes e respectivas sinecuras às listas destes serventuários de um sistema que os sustenta e neles se suporta.

Mas há aqui uma pequena/grande perversidade: é que os ‘bois/boys’ estão longe de constituir um exclusivo partidário, estão longe até de constituir a sua maioria. Por um estranho atavismo, porventura resultante da nossa também atávica dependência do Estado, habituàmo-nos a desancar nos ‘partidos’, por ser mais fácil, por estarem mais expostos nos media, por serem ‘públicos’; aos privados tendemos a perdoar-lhes as extravagâncias, mesmo as de pendor criminoso – fuga aos impostos, práticas pouco éticas, ‘habilidades’ financeiras,... – vá-se lá saber porquê, pois apenas nos não vão aos bolsos directamente...

Com isso esquecemo-nos de que os agora famosíssimos ‘mercados’ são constituídos sobretudo por ‘boys’ e ‘girls’ que nada têm a ver com os partidos, bem pelo contrário, dizem-se mesmo quando não antipartidos, pelo menos pairando acima deles. Olham para estes como organizações obsoletas, enxameadas de oportunistas e arrivistas, no mínimo de uns quantos diletantes empenhados em fazer carreira à custa da papalvice alheia mediante o débito de uns trocadilhos linguísticos em discursos ocos e sem sentido prático, enfim, de obstáculos ao verdadeiro progresso – e não deixam de ter razão em muitas situações.

Progresso que eles, ‘boys’ e ‘girls’ (aqui em sentido lato, não o estritamente partidário, claro) personificam quando se entregam de forma empenhada e criativa às múltiplas engenharias financeiras, quando elaboram ‘científicos’ relatórios económicos onde expõem, sem contradita de espécie alguma, estatísticas e probabilidades sobre o futuro das instituições e dos países; onde peroram sobre ‘evidências’ (!) e ‘inevitabilidades’ (?); onde concluem (sem nunca o afirmarem explicitamente) que todos quantos não pensem desta maneira ou são ignorantes ou estúpidos, mal intencionados e – no fim da lista mas não em último – até perigosos terroristas!

P. Krugman, o Nobel da economia, em recente artigo já destacado pelos ‘Ladrões de Bicicletas’ (e até pela RTPn), expõe-lhes os tiques para os caracterizar de forma exemplar. À pergunta que, por estes dias, mais vezes é feita – afinal, ‘o que é que querem os mercados?’ – transcreve a resposta de um outro 'blog' (The Irish Economy) onde, sem papas na língua, se afirma: ‘os mercados querem dinheiro para droga e prostitutas’. Eis aqui parte da sua explicação:

Most people don’t realize that “the markets” are in reality 22-27 year old business school graduates, furiously concocting chaotic trading strategies on excel sheets and reporting to bosses perhaps 5 years senior to them. In addition, they generally possess the mentality and probably intelligence of junior cycle secondary school students. Without knowledge of these basic facts, nothing about the markets makes any sense—and with knowledge, everything does.” (…)

“Bread and circuses for the masses; cocaine and prostitutes for the markets. This can be looked on a unethical obviously, but since the entire system is unethical, unprincipled and chaotic anyway, why not just exploit that fact to do some good for the nation instead of bankrupting it in an effort to buy new BMWs for unmarried 25 year olds.

Isto é o que dita ‘a consciência de um liberal’, título da coluna que Krugman mantém no ‘The New York Times’ (de onde se extraiu este texto), que já foi também título de livro. É esta ‘consciência liberal’, à americana, que parece faltar a Merkel, Sarkhozy, Cameron ou Barroso, aos líderes de uma Europa que era suposto ser Unida. E que, por herança da ‘velhinha’ Revolução Francesa, surgia ao mundo como o exemplo mais avançado de solidariedade, mas que definha às mãos de títeres medianos, envoltos num estranho ritual autofágico a que os conduziu a obsessão por modelos teóricos que, ao longo da presente crise, provaram todo o seu potencial destrutivo.

Triste, pois, verificar o retrocesso do ideal europeu, que se joga hoje sobretudo entre a defesa do Estado Social e uma qualquer caricatura berlusconiana de ‘boys’ e ‘girls’!

3 comentários:

José M. Sousa disse...

Na realidade não é um texto de Krugman, embora ele lhe atribua relevo e pertinência. Trata-se de um texto de alguém que fez um comentário a um "post" de um blog chamado "The Irish Economy". Mas isto é apenas um pormenor que em nada diminui a importância dessa reflexão sobre o que é dito.

Anónimo disse...

José Sousa
Obrigado pela correcção – e completa identificação da origem dos excertos. Trata-se, de facto, da transcrição de um comentário de um outro blog, inserido numa coluna assinada pelo P. Krugman e com o qual este parece identificar-se.
O seu a seu dono.

Anónimo disse...

José Sousa
Já procedi, no texto, à devida correcção.
Mais uma vez, obrigado.
AVCarvalho