segunda-feira, 4 de agosto de 2008

A propósito do TPI e de uma extradição

Por estes dias, um dos temas que mais tem dominado a cena internacional e, por arrasto, a comunicação social, é a prisão do líder sérvio Radovan Karadzic e a sua já consumada extradição para o TPI da ONU, em Haia – epílogo de um processo, diga-se, em que EUA e Alemanha repartem o grosso das responsabilidades por tudo o que de trágico lhe antecedeu. Produto da crescente consciência mundial de que não podem passar impunes crimes cometidos ao abrigo do poder político (‘ocupado’ seja por que método for), o TPI tem a sua principal fraqueza na auto-exclusão, entre outros, dos três principais ‘produtores de criminosos internacionais’ (na expressão de Fernando Rosas): EUA, China e Rússia.

Dou então comigo a elaborar no seguinte exercício especulativo: do que se sabe das acções políticas de Bush e Chavez, por um lado, e perante o que veicula a comunicação social sobre ambos, por outro, qual dos dois a opinião pública se apressaria a fazer seguir o mesmo caminho?
De acordo com os dados objectivos actuais, sem dúvida que o único que reúne matéria para um longo cadastro e pode vir a ser incriminado é o Bush (‘dossier’ Iraque). Contudo, a avaliar pelos cânones que regem a maioria dos comentadores políticos, Bush apresenta-se ao mundo como democrata impoluto, ao contrário de Chavez que não passa de um execrando populista, proto-ditador (?), que até Sua Alteza Real de Espanha aproveitou para meter na ordem, com aquele célebre (e acrescento eu, destemperado) ‘porque no te callas’.
Mas o facto de Chavez não apresentar cadastro garante-lhe, só por isso, autenticidade democrática? Claro que não, nem essa etiqueta, pelos vistos, a avaliar por Bush, é suficiente para avalizar toda e qualquer conduta.

Limito-me, pois, a registar a facilidade com que a opinião publicada (a que mais contribui para formar a opinião pública) se apressa a desprezar factos reais de gravidade criminal e a ilibar criminosos de guerra à luz dos princípios do direito internacional, a coberto do manto diáfano dos formalismos democráticos. No caso do Bush sabe-se, ainda por cima, que ascendeu ao poder de forma no mínimo dúbia dadas as condições pouco claras com que tais créditos foram obtidos: o papel nebuloso do irmão Jeff, Governador da Flórida; as trapalhadas com os cartões perfurados (!!!) na contagem dos votos; a sempre parcial constituição do Supremo; os menos 500 mil votos arrecadados que o seu adversário, a nível nacional,...

Estranhos critérios democráticos, estes! Os dos EUA (por maiores méritos que estes tenham – e têm-nos) e os dos analistas a ele enfeudados!

2 comentários:

Carlos Borges Sousa disse...

Pois é, meu caro.
Critérios estranhos e, no minimo, duvidosos. Inteiramente de acordo.

Guarisse disse...

Hm, tenho a impressão que o nome do irmão do George é JEB, e não Jeff