segunda-feira, 28 de abril de 2008

Catilinária (2)

Uma Democracia formatada?

Em recente entrevista à SIC-N, Paulo Teixeira Pinto (ex-BCP) resumiu o pensamento dominante liberal, já denominado pensamento único, sobre o modo de fazer política, afirmando essencialmente : na gestão dos negócios do Estado, a direita apresenta-se mais competente e rigorosa, mas torna-se indispensável completar a sua acção com a perspectiva mais solidária que, em regra, caracteriza a esquerda.
Esta visão do problema é, de forma quase inconsciente, partilhada pela generalidade das pessoas. Insere-se na tendência actual de desvalorização da política em que as opções sociais se apresentam confinadas, por um lado às questões técnicas – do domínio dos especialistas – centradas, no essencial, em garantir a liberdade e promover a eficiência, o que se traduz em proporcionar as condições adequadas ao normal funcionamento do mercado para uma gestão eficiente da economia (leia-se, mercado); por outro às questões éticas – do âmbito da moral e da sensibilidade – no sentido de se minimizarem os efeitos mais gravosos resultantes da aplicação rigorosa e inevitável das soluções técnicas (éticas e não sociais, por se considerarem mais do âmbito da assistência do que dos direitos...). Quando muito, à política competiria o seu doseamento criterioso na realidade social, através de mecanismos e regras para condicionar e/ou reparar os excessos observados na sua aplicação concreta.
Até os referenciais conceitos de esquerda e direita se vêem reduzidos a duas siglas principais, social-democracia vs. liberalismo, a única verdadeira opção possível (chamam-lhe credível) nesta nossa democracia, o resto relegado para o pitoresco, para o adorno (sintomático, o berloque do ‘Contra’),...
Não é, pois, por acaso que nas sociedades mais fundamentalistas dos nossos dias, sejam elas de formação islâmica ou cristã, se valoriza de forma crescente, a par da competência do especialista, a sensibilidade assistencial que é apanágio, em regra, dos crentes e por eles especialmente cultivada.
Fundamentalismo cristão? Oops, que já meti o pé na poça...

1 comentário:

Carlos Borges Sousa disse...

Meu caro,
Na "mouche" e, claro, sem meter o pé na poça...