domingo, 15 de maio de 2011

'Um dia a casa vem abaixo'!

A construção do edifício liberal de acordo com os parâmetros mais ortodoxos dos seus indefectíveis próceres está prestes a concluir-se, um pouco por toda a parte. Contra a lógica, aliás, que parecia ir resultar da crise financeira de 2008! A última etapa desta escalada galopante, entre nós, está já em curso e teve início com a chamada do Fundo Europeu de Resgate (FEEF/FMI, a famigerada ‘troika’), destinada a avalizar as derradeiras medidas que faltavam para completar a sua arquitectura!

Ainda agora foi divulgada uma recomendação constante de um parecer de 2010, encomendado pelo PSD (pois claro!), do denominado ‘pai’ (?) da TSU (professor de economia na Universidade Nova de Lisboa, só podia!), que aponta a necessidade de uma redução, no mínimo, para 12% da Taxa Social Única (TSU) – ou seja, para metade da actual (!) – como condição para que Portugal volte a ganhar competitividade!

A fórmula ‘milagrosa’ que justifica e comporta estas medidas denomina-se, na gíria liberal, de ‘desvalorização fiscal’ e visa essencialmente baixar de forma drástica os custos do trabalho, com estagnação (ou mesmo redução) dos salários. A forma de compensar a brutal perda de receitas originada pela redução da TSU, passa pelo aumento dos impostos sobre o consumo, o que permitiria resolver, no imediato, o déficit daí resultante e equilibrar as contas. A médio prazo, já se sabe, é a destruição pura e simples do Estado Social (considerado financeiramente insustentável) que se perspectiva e encontra já anunciada!

Percebe-se então que a aparente dissonância de posições sobre a baixa da TSU dentro do PSD, (ou entre este e os outros dois partidos que assinaram o ‘memorando da troika’, PS e CDS/PP), se insere num processo de gradual preparação para o desfecho há muito definido, que o ‘breviário’ liberal aplica de forma indistinta, quer se trate da Irlanda ou das ‘renovadas’ economias do Leste, tão pressurosas – percebe-se porquê! – na aplicação destas receitas. Afinal o objectivo não é os ‘4 pontos percentuais’ da polémica mediática com que nos têm vindo a entreter, ou até os mais ousados ‘8 pontos’ do desbocado Sr. Catroga, o objectivo é mesmo ‘12 pontos’! E ponto final!

A verdade é que a brutal transferência de rendimentos das pessoas para os grupos económicos, do trabalho para o capital, tem aqui mais um episódio relevante, na senda do que tem vindo a acontecer na longa saga da ‘dívida soberana’, com os especuladores – primeiro os particulares sem rosto, agora o rosto da ‘troika’ – a imporem, em nome da estabilidade financeira, as formas de uma violência sem nome, seja em benefício dos bancos alemães e franceses, ou dos ‘donos de Portugal’! Porque, importa reafirmá-lo sempre, o capital tem vindo a recompor-se das perdas da crise (o ‘lixo tóxico’) à custa da extorsão conseguida na base da austeridade que as políticas liberais têm conseguido impor por todo o lado, muito em particular nos países da periferia.

Dir-se-á que são estas as regras do sistema, o realismo político assim o impõe, que não é possível fugir do garrote da dívida externa, que se torna inevitável (!) cumprir o estabelecido no ‘memorando’. Mas como muitos economistas, da esquerda à direita, já concluíram e vêm afirmando, as condições nele estabelecidas conduzem a uma outra inevitabilidade: a de que ‘com estas perspectivas de recessão e estas taxas de juro, a dívida das periferias não é pagável. (J.M.Castro Caldas, in Ladrões de Bicicletas). A reestruturação da dívida, tornada assim inevitável, ficará então a aguardar que a Banca (nacional e internacional) complete a recomposição da sua tão abalada situação financeira!

Depois... Com a falência (ou redução ao mínimo) do Estado Social, a completa desregulação financeira (passado o susto de 2008, nenhum poder ousou mais pôr em causa os ‘off-shores’!), concluído o projecto de total liberalização económica da sociedade (varrida a intervenção do Estado), ficarão então eliminadas todas as barreiras e interferências externas à plena expressão do ‘mercado livre’ – incluindo a liberdade de explorar, poluir, delapidar, devastar, sem reservas nem limitações! O santuário da ‘liberdade de escolha’!

Antes, porém, já Mário Soares avisara: ‘Este capitalismo selvagem que nos domina, é preciso que desapareça’. O problema é que o capitalismo é selvagem por natureza. E quando lhe alteram a natureza, reage mal, quando se procura ‘civilizá-lo’, descaracteriza-se, não atinge os objectivos que lhe atribuem: eficácia, crescimento, acumulação,... As crises são a única saída!

Porque o produtivismo que apregoa alimenta-se do consumismo que diz (?) repudiar! Perante essa anunciada reestruturação, nenhuma outra crise é necessária para que um dia destes a ‘casa’ venha mesmo abaixo! Só ainda não se sabe é quando!

1 comentário:

♥ κєκєl ♥ disse...

Olá

Sou professora de uma escola estadual e estou aqui lhe convidando para conhecer nosso blog de LIBRAS – VEJO VOZES, onde o nosso objetivo é expandir a Língua de Sinais, pois somos escola pólo para atendimento da pessoa com deficiência auditiva.
Se você tiver um tempinho e interesse pelo assunto, venha nos visitar. O endereço é:

http://eeblmlibras.blogspot.com/

Abraços fraternos