Parece que se tornou hábito os nossos jornalistas, e a maior parte dos economistas do sistema, repetirem à saciedade que somos um país de gente mal comportada, indisciplinada, gastadora incorrigível, etc., e que, portanto, ao fim e ao cabo, até merecemos ser esmifrados, extorquidos, roubados, explorados, etc. pela finança internacional, particularmente, a alemã. Os alemães, que aliás, são gente admirável (sem ironia), o que está aqui em causa é a política de uma analfabeta económica [Merkel] (como terá dito um economista americano) e um sector específico, a finança parasitária; os alemães, dizem, andaram a pagar o nosso desregramento e agora, merecemos a punição. Claro que os alemães até lucraram, e muito, com os excessos de alguns cá do burgo. A renovação da frota das Águas de Portugal (agora suspensa pelo Governo; tiveram vergonha!) devia render bem às marcas alemãs. Para já não falar do excesso dos submarinos, por acaso, alemães! Mas com estes excessos os alemães não devem estar preocupados. A culpa é dos excessos dos desempregados e dos beneficiários do rendimento mínimo, do abono de família, etc.
Ora, mas nem sequer é verdade que os alemãs sempre financiaram os nossos "excessos". Por um lado, porque os próprios alemães violaram no passado as regras financeiras que eles próprios impuseram; por outro, porque, ainda antes do euro, por imposição pelo Bundesbank de altíssimas taxas de juros reais (nomeadamente para nós), toda a Europa financiou a reunificação da RFA com a RDA, formando a actual Alemanha.
Por outro lado, este aparente desejo patriótico de que o FMI entre por aí adentro, como se o FMI tivesse algum vez feito bem a alguém, é manifestado por alguns daqueles cá dentro (banca nacional) que beneficiam das altas taxas de juro especulativas que o Estado está a pagar pela dívida pública. Trata-se de uma autoflagelação hipócrita e interesseira/interessada. Se fossem tão patrióticos, emprestavam mais barato, a taxas menos usurárias, e decerto não chamariam pelo FMI!
1 comentário:
A estratégia do medo parece estar a resultar. Já pouca gente contesta e até dá por assente a vinda do FMI para 'salvar as finanças públicas da bancarrota' (!!!), tão martelados temos sido por economistas, especialistas e os comentadores do costume de que a sua intervenção se tornou inevitável para resolver os problemas.
Neste momento, sobre esta pantomina da necessidade de intervenção do FMI, resta apenas saber uma coisa: se basta o medo já incutido para fazer passar os cortes na despesa anunciados (com o consequente agravamento das condições de vida da maioria: aumento de impostos, ainda maior contracção do Estado Social, quebra dos salários na função pública,...), ou se considerarão mesmo necessário a sua presença física para os políticos depois terem a desculpa das medidas que já decidiram tomar!
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