No dia em que a imperatriz Merkel
passou por Lisboa muita coisa foi dita, pouca coisa aconteceu – para além do
aparato policial nas ruas. Mas uma frase de Passos Coelho, questionado no Forte
em que ambos estiveram entrincheirados por receio da ‘populaça’, parece
sintetizar bem toda a política que afanosamente prosseguem e tentam impor.
Respondeu ele, confrontado com a persistência de uma política que vem
apresentando resultados tão negativos e recorrendo à sempre útil analogia da
saúde que “não podemos culpar o remédio (?) pelo estado do doente”!
À parte o destrambelho da frase,
esta resposta é deveras paradigmática do estado de espírito destes perigosos
fanáticos, a dúvida que subsiste é se tal sentença foi proferida com intenção
ou se tratou de um descuido, daqueles em que, sem querer, foge a boca para a
verdade. Seja como for, as convicções e os propósitos que animam a política
deste (des)governo estão lá, do género ‘gato escondido com o rabo de fora’.
Temos assim que, segundo Passos, a sua terapia para a crise (financeira, mas
também económica, social e política) não é susceptível de contestação. Mas se a
culpa do ‘calamitoso estado a que isto chegou’ não é da terapia, então só pode
ser do doente, pois, pasme-se, ‘recusa’ curar-se... com esta terapia!
Como é óbvio, em dia de tantos
discursos e sentenças, esta não foi a única afirmação digna de ser comentada.
Retive ainda aquela de Passos de que a posição dos que contestam a política de
austeridade em Portugal é minoritária – não obstante as claras indicações de
rejeição sugeridas pelas sondagens (tão avassaladoras que não há margem de erro
possível) e os esmagadores protestos de rua, a começar pelo de 15/Set.! Ou
aquele mimo, tão sintomático do quão perigoso este (des)governo se está a
tornar, de que aceitar a ideia da renegociação seria admitir o falhanço das
suas políticas pelo que, perante a negação da existência de alternativas, isso
significaria acentuar ainda mais a austeridade.
Nesta delirante sucessão de
conceitos, o que mais sobressai é a desfaçatez como se transmite, sem pudor e
até sem nexo, uma visão completamente invertida da realidade. À hora a que tinha lugar este pífio espectáculo de
irrealismo ideológico (ainda que apresentado sob a capa de um irredutível
pragmatismo) e não muito longe dali, no protesto que aguardava a dupla
Merkel-Passos junto ao CCB, o músico e cantautor Carlos Mendes ilustrava para
uma televisão o estado actual desta política recorrendo a uma outra analogia
extraída da sua própria experiência em palco. Disse ele que, quando o público não reage ou chega ao
ponto de patear a actuação do artista, este apenas tem duas saídas: ou muda
a música ou sai de cena!
Perante a pateada monumental com que este governo é recebido aonde quer
que se desloque; perante a rejeição quase unânime da orientação política que
nos desgoverna; perante o óbvio desastre económico e social para onde quer empurrar
o País, Passos recusa mudar de ‘música’ – de política – ou sair de cena. Só
resta mesmo uma saída: o País empurrá-lo daqui para fora – ou seja, cada
um de nós! Antes que seja tarde demais para todos!
Sem comentários:
Enviar um comentário